Paracatu – A escritora Conceição Evaristo anda assustada com o preço dos livros. “Como são caros no Brasil! Precisamos de mais políticas públicas para que todas as pessoas tenham oportunidade de adquirir e ler as obras”, destacou a autora mineira, que participa do 2° Festival Literário Internacional (Fliparacatu), em Paracatu, no Noroeste de Minas. Com o tema "Amor, literatura e diversidade", o evento reúne 60 autores, entre brasileiros e estrangeiros, e tem programação gratuita para todas as idades até este domingo (1º de setembro).

 




A crítica da escritora sobre o preço de venda (R$ 49,90) da obra “Conceição – Conceição Evaristo”, integrante de coleção infantil com a biografia de autores negros e indígenas, se deu após a compra de um exemplar, na Livraria, espaço considerado o “coração” do festival, para presentear uma amiga. Na sua opinião, passou da hora de desmistificar a velha história de que brasileiro não gosta de ler. “Na verdade, falta oportunidade, portanto é urgente estimular a leitura. Mas o preço do livro é muito alto”, reiterou a autora.

 

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A escritora, ficcionista e ensaísta conta que anda sem tempo para escrever livros, devido a compromissos assumidos. Autora de “Olhos d'água” (2015), vencedor do Prêmio Jabuti, ela revela que o próximo ano será dedicado à literatura.

 

Poemas eróticos


Entre as novidades a caminho, está um livro de poemas eróticos, com tradução já garantida para a língua inglesa. Como se pode observar em seus depoimentos e palestras, Conceição Evaristo prima pelo cuidado com as palavras, cada uma expressada após reflexão. Com o livro de poemas, não será diferente. “Gosto muito do tempo de maturação, do que se simula, em vez do que é explícito, ainda mais quando se fala sobre sexo, amor e gozo.”

 

 

Como uma das vozes mais potentes no país contra o racismo, a autora diz que o cuidado se torna maior nesse livro para não fortalecer “a objetificação e fetichização” do corpo de um homem negro e de uma mulher negra.


A citação do conteúdo do livro é a deixa para a escritora falar sobre a relação de cumplicidade que mantém com os personagens de suas obras, estabelecendo uma relação de afeto. “Escrevi muitas partes de 'Ponciá Vicêncio' (texto encenado no teatro), chorando. Os livros se tornam filhos, edificações, mesmo quando há situações envolvendo violência, brutalidade. As passagens de uma obra vêm do imaginário. Felizmente, nunca fui alvo de violência física.”


A palavra violência serve para se perguntar à autora como ela vê o mundo de hoje em que há tantas transformações com guerras, doenças e vozes proclamando o fim dos tempos.

 


Serena, Conceição Evaristo está certa de que as mudanças são “para o bem e para o mal, e que a brutalidade pode ser resolvida com a força do diálogo.” Nas andanças pelo Brasil e pelo mundo, ela vê “um cansaço da humanidade, um esgotamento das pessoas”.


Para escapar do labirinto e dos becos sem saída do cotidiano, a literatura pode ser a solução. “Ela é uma experiência gratificante, abre caminhos”, diz a autora de “Becos da memória”, mostrando o seu melhor sorriso de esperança e confiança.

 

Mostra “Retratos”

 

Ao caminhar pelas ruas do Centro Histórico de Paracatu, durante o Fliparacatu, que termina hoje (1º de setembro), o visitante pode apreciar nomes como Zezé Motta, Grande Otelo, Marília Pêra e Bibi Ferreira. É que o festival homenageia a fotógrafa Vânia Toledo (1945-2020), natural da cidade do Noroeste mineiro, na exposição a céu aberto “Retratos”. Afixadas em postes, há 60 reproduções, em 30 flâmulas dupla face, de artistas.

 

* O repórter viajou a convite da Kinross


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