Foram 10 anos de pesquisa até o diretor Emílio Domingos lançar o documentário “Black Rio! Black power!”, em cartaz na sala de cinema do Shopping Cidade. O longa aborda a influência do movimento Black Rio na cultura, na sociedade e nos processos de luta por justiça racial no Rio de Janeiro e no Brasil durante as décadas de 1970 e 1980.

 

 




Com 75 minutos, o filme transporta o espectador por uma viagem no tempo, retratando a ascensão e o declínio dos bailes de soul music nos subúrbios da capital fluminense. Esses eventos, realizados em grandes ginásios, foram fundamentais para a afirmação da autoestima e identidade do jovem negro carioca.

 

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Apesar da curta duração, a influência do movimento se estende até hoje, impactando gêneros musicais como o rap e o funk, além de oferecer espaço de resistência política e afirmação da identidade negra no Brasil.

 


Nos bailes, jovens dançavam ao som da música soul, exibindo orgulhosamente cabelos black power e sapatos plataforma.


Domingos explica que o longo processo de produção do filme se deu por dois motivos principais: a escassez de arquivos daquela época e a dificuldade de captar recursos para o projeto.


Diretor de outros filmes voltados para a juventude periférica, como “A batalha do passinho” e “Favela é moda”, ele se interessou pelos bailes de soul porque eles uniam e conscientizavam os jovens.


“Foi uma injeção de conscientização racial e social na juventude. O baile era um fenômeno cultural, mas também social. Conseguiram mobilizar e conscientizar muita gente”, destaca.

 

 

Ele ressalta o impacto do movimento na indústria fonográfica, incomodando tanto a ditadura militar quanto a mídia, que foram muito agressivos em relação ao Black Rio.


A importância dos bailes durante os anos da ditadura militar é retratada por meio da trajetória de Dom Filó, ativista do movimento negro e produtor cultural, e da equipe de som Soul Grand Prix.


O documentário é embalado por grandes hits da época, como “Não vou chorar”, dos Diagonais, e “I've got so much trouble in my mind”, de Sir Joe Quarterman.


“Filó foi fundamental, meu grande interlocutor. Ele me abriu as portas com muita generosidade e me apresentou um novo mundo”, conta Emílio Domingos. Ele explica que Filó é o protagonista do filme, que funciona como “estudo de caso”” da trajetória do ativista e da Soul Grand Prix. A partir disso, o documentário dá voz a diversas pessoas que viveram aquele período, como o escritor Carlos Alberto Medeiros, os músicos Carlos Dafé e Marquinhos de Oswaldo Cruz, além de Rômulo Costa e Virgilane Dutra.

 


Lélia Gonzalez e Angela Davis

 

Além dos depoimentos, o filme reúne mais de 100 imagens de arquivo, entre fotos e vídeos. “Desse período a gente tinha pouquíssimos documentos. Foi um trabalho quase arqueológico”, detalha.


Para Domingos, o legado do movimento Black Rio é evidente até hoje. Ele menciona a importância de intelectuais do período, como Lélia Gonzalez, Beatriz Nascimento e Angela Davis, que estão sendo cada vez mais lidas e estudadas.


“Muitas conquistas do movimento negro têm interface com o trabalho desenvolvido pelo Black Rio. Muita gente tomou consciência de sua negritude nos bailes. É uma história do Brasil contemporâneo que tem que ser conhecida para o entendimento do que é ser brasileiro, do que é ser negro no Brasil.”


“BLACK RIO! BLACK POWER!”
(Brasil, 2024, 75 min). Documentário de Emílio Domingos. Em cartaz às 14h10, na sala 7 do Shopping Cidade.

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