A 81ª edição do Festival de Veneza chega ao fim neste sábado (7/9), quando será conhecido o vencedor do Leão de Ouro entre os 21 filmes da mostra competitiva. O Brasil disputa o prêmio principal com “Ainda estou aqui”, de Walter Salles, estrelado por Fernanda Torres e Selton Mello. Adaptado do livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, conta a história de Eunice Paiva, mãe do autor, esposa do ex-deputado Rubens Paiva, sequestrado e morto pela ditadura militar brasileira. O corpo jamais foi encontrado.
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Exibido no último domingo (1º/9), o filme teve recepção calorosa – aplaudido por 10 minutos, recebeu diversas críticas elogiosas. Se a duração dos aplausos for indicativo de favoritismo ao prêmio, quem largou na frente foi Pedro Almodóvar, com “The room next door”, ovacionado por cerca de 18 minutos. “The brutalist”, de Brady Corbet, também fez bonito, aplaudido por 12 minutos ao fim da sessão.
O Brasil, de qualquer forma, já garantiu seu lugar de destaque em Veneza. “Manas”, estreia de Marianna Brennand na direção, protagonizado por Dira Paes, conquistou na sexta-feira (6/9) o principal prêmio da Giornate Degli Autori (GDA Director's Award), importante mostra paralela do festival italiano. A diretora vai receber 20 mil euros (cerca de R$ 123 mil) para promover seu filme.
Rodado na Amazônia, “Manas” conta a história de meninas e mulheres que sofrem abuso sexual na Ilha de Marajó, no Pará. A jovem Marcielle enfrenta o sistema violento que controla sua família e a comunidade onde vive. Além de Dira Paes, o elenco traz Rômulo Braga e a estreante Jamilli Correa. Financiado por Walter Salles, o filme fará sua estreia nacional no Festival do Rio, que começa em 3 de outubro.
Oscar 2025
Fernanda Torres se destacou em Veneza com sua Eunice Paiva. Jornais e sites especializados preveem a presença da brasileira na disputa pelo Oscar 2025 de melhor atriz. A Variety considerou sua atuação “soberba” e “profundamente pungente”. Os sites Indiewire, Deadline e The Hollywood Reporter também elogiaram o trabalho da atriz e a apontaram como possível indicada pela Academia.
“Fernanda Torres é tão espetacular quanto sua filmografia sugere”, afirmou o Indiewire, que classificou o filme como “emocionante registro histórico do Brasil”. Em 2016, a brasileira ganhou a Palma de Ouro de melhor atriz no Festival de Cannes, por seu trabalho em “Eu sei que vou te amar”, de Arnaldo Jabor. Ela tinha 20 anos.
“The room next door” cativou os críticos. Xan Brooks, do jornal britânico The Guardian, classificou o filme de Almodóvar como “um caso belo, incisivo e sensível”. Já Owen Gleiberman, da revista norte-americana Variety, elogiou o desempenho “monumental” de Tilda Swinton, cuja personagem decide pôr fim à própria vida por meio da eutanásia. Ela contracena com Julianne Moore, que faz a amiga que a acompanha nessa jornada.
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Também na briga pelo Leão de Ouro, “The brutalist” é um projeto ambicioso. Com mais de três horas e meia, conta a história do fictício arquiteto húngaro László Tóth, sobrevivente do campo de concentração na Segunda Guerra que imigrou para os EUA. Após trabalhar como pedreiro, ele se torna protegido de um milionário pouco culto.
Lady Gaga
Chamou a atenção em Veneza o filme “Coringa: delírio a dois”, de Todd Philipps, estrelado por Joaquin Phoenix e Lady Gaga. Em 2019, o primeiro longa sobre o vilão de Gotham City levou o Leão de Ouro. No ano seguinte, Phoenix ganhou o Oscar de melhor ator pelo desempenho como o antagonista de Batman.
Agora, os personagens de Joaquin e Gaga, ambos presidiários, cantam, dançam e se apaixonam. A estrela americana contou aos jornalistas que teve que “desaprender a cantar” para interpretar Harley Quinn.
Outro destaque do festival é Lucas Guadagnino – do incensado “Me chame pelo seu nome” – com seu novo filme, “Queer”, estrelado por Daniel Craig. Exibido na última terça-feira (3/9), o longa chamou atenção pelo vigor estético e ousadas cenas de sexo gay. “Queer” é adaptação de “Almoço nu”, livro do beatnik William Burroughs.
As duas guerras mundiais apareceram em dois dos quatro filmes italianos que competem pelo Leão de Ouro. Em “Battlefield”, de Gianni Amelio, soldados feridos chegam diariamente a um hospital militar no Nordeste da Itália, onde os médicos os tratam para que possam retornar à frente de batalha. Em “Vermiglio”, a diretora Maura Delpero mostra o impacto da Segunda Guerra sobre vilarejo isolado nas montanhas.
Fora de competição
Sem concorrer a prêmios, o Festival de Veneza exibiu o documentário “Le cinéma de Jean Pierre Léaud”, sobre o astro da Nouvelle Vague francesa, que atuou em diversos longas de Jean-Luc Godard, como “A chinesa” (1967), e em todo o ciclo Antoine Doinel – grupo de cinco filmes em que viveu o alter ego de François Truffaut.
A diretora mineira Petra Costa exibiu no festival italiano o documentário “Apocalipse nos trópicos”, no qual aborda o elo entre o bolsonarismo e o fundamentalismo religioso. (Com agências)