Qualquer pessoa pode contar história, mas não é qualquer um que consegue se tornar contador de histórias, afirma Toumani Kouyaté, vencedor dos prêmios Coruja de Ouro Francófono (2003), Melhor Contador de Histórias na França (2004) e Anselme Chiasson (2008). Natural de Burkina Faso, este africano vem de uma família que traz a arte da oralidade no DNA.

 

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De acordo com ele, mais do que narrar história, o contador compartilha experiências, troca informações e compreende a influência da palavra sobre o corpo. “Por isso nem todo mundo é contador”, diz Kouyatê, pausadamente, em francês.

 


“Na minha língua natal, nossa família é chamada de Djeli, que quer dizer ‘transmissão pelo sangue’. Os franceses não conseguiam pronunciar esta palavra, então resolveram substituí-la pelo termo griot, no século 19. A partir de então, ficamos conhecidos como griots”, explica.

 

 



 


Kouyaté é um dos convidados da sétima edição da Candeia – Mostra Internacional de Narração Artística, que começa nesta quarta-feira (11/9) e segue até domingo (15/9), na Funarte, em BH. Além de Kouyaté e da peruana Cucha del Aguila, estarão presentes representantes de São Paulo e Rio de Janeiro. Eles participarão de rodas de conversa, oficinas, lançamento de livros e contações de histórias.

 

 

O artista Toumani Kouyaté pertence a um clã de griots de Burkina Faso, na África

France Goudreault/divulgação


 

Incipiente no Brasil, a narração artística está à margem de atividades culturais contempladas por políticas públicas. “Aqui, a linguagem ainda é muito associada ao ambiente escolar”, afirma Aline Cântia, cofundadora da mostra ao lado de Chicó do Céu. Os dois formam atuante dupla mineira de contação de histórias.

 


“Desde 2017, cada vez que faço a Mostra Candeia, é como se tivesse que reapresentar o conceito de narração artística, falar sobre o que é contar histórias e explicar que a narração é uma linguagem por si só, que vai além da biblioteca e do ambiente educacional”, lamenta Aline.

 


“Nos editais públicos, não tem lugar para a narração. Temos de ficar cavando, procurando novas brechas para sermos contemplados”, diz.

 

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O nome da mostra tem o propósito de esclarecer e elucidar. Afinal, candeia é uma espécie de lamparina. “Assim como várias lamparinas juntas produzem luz forte, várias pessoas se juntando para escutar e narrar também formarão um consciente mais forte”, ressalta.

 

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A programação traz diferentes perspectivas da narração. Kouyaté apresenta a tradição africana, enquanto Cucha del Aguila compartilha a experiência adquirida em cidades da Amazônia Peruana.

 


O paulista Cris Gouveia, a carioca Camila Costa e o mineiro Vilmar de Oliveira agregam elementos da contemporaneidade à tradição oral, utilizando recursos tecnológicos e outros meios.

 

Escola pioneira

 


Aline e Chicó do Céu vão inaugurar a Escola Livre de Estudos da Narração Artística (Elena), a primeira do Brasil dedicada ao setor. A instituição funcionará na Rua Espírito Santo, 1.892, 7º andar, no Bairro de Lourdes.

 


A primeira aula, nesta quarta (11/9), às 19h30, será ministrada por Fabiano dos Santos, secretário de Formação, Livro e Leitura do Ministério da Cultura (MinC). Ele vai falar sobre memória, tradição, oralidade, literatura e o conceito de “oralitura”, entre outros temas.

 


A presença do secretário é oportunidade para o debate sobre a ausência da atividade nas políticas públicas voltadas para a cultura.

 


“Em vários países, como a Colômbia, há festivais de narração artística. Na maioria das vezes, eles são voltados para o público adulto. Nos bares, à noite, em vez de um cantor se apresentar, tem contadores de histórias. Imagina que legal seria sair de noite aqui, ir para o bar e assistir à narração de história”, sugere Aline Cântia.

 


CANDEIA


7ª Mostra Internacional de Narração Artística. Desta quarta-feira (11/9) a domingo (15/9), na Funarte (Rua Januária, 68, Centro). Abertura hoje, às 19h30. Programação completa: @mostracandeia (Instagram). Entrada franca.

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