O ano nem terminou, mas Tony Ramos já pode dizer que teve um 2024 intenso. Ou melhor, “atípico ao quadrado”, conforme ele mesmo diz à reportagem.
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Em janeiro, terminou as gravações da novela “Terra e paixão” (Globo), comemorando seis décadas de carreira. No final de março, retornou aos palcos depois de 20 anos afastado, com a peça “O que só sabemos juntos”, em que contracena com Denise Fraga – até então, seu último trabalho no teatro havia sido em 2004, quando encerrou a temporada de “Novas diretrizes em tempos de paz”.
Em maio, um sangramento no cérebro fez com que ele se submetesse a duas cirurgias delicadas no cérebro e uma internação na UTI. Passou junho cuidando da saúde e, em julho, já estava de volta ao palco, retomando a temporada de “O que só sabemos juntos” em São Paulo.
A partir desta quinta-feira (19/9), ele e Denise trazem a peça a BH, segunda cidade da turnê que esteve no Rio de Janeiro e passará por outras capitais brasileiras. Em cartaz até domingo (22/9), no Teatro Sesiminas, restam poucos ingressos para as apresentações.
“A vida é isso”, comenta Tony. “O poeta já dizia: ‘A vida é um sopro’. Todos nós – você, eu, qualquer pessoa – estamos sujeitos a ter uma gripe agravada em pneumonia ou mesmo sermos submetidos a uma cirurgia delicada por causa de um simples tombo no banheiro”, afirma o ator, lembrando que seu sangramento intracraniano teve origem em uma virose que o acometeu meses antes.
Reflexões a respeito da vida, a propósito, são o cerne de “O que só sabemos juntos”. A peça faz uma costura de histórias pessoais (dos próprios atores e também da plateia, que participa ativamente da dramaturgia), com citações de importantes autores, tais como Fernando Pessoa, Anton Tchekhov, Bertolt Brecht e bell hooks.
Medos e segredos
Sem se valer de uma estrutura tradicional, com início, meio e fim, a montagem coloca diante do público um homem e uma mulher com suas angústias, medos e segredos, que resumem os dilemas humanos no intuito de fazer a plateia se perguntar o que é a vida.
A resposta, garante Tony, incide no título do espetáculo. As histórias compartilhadas pelos atores e pelo público se juntam num caleidoscópio de memórias que, por fim, emula uma vida com todas as suas complexidades, adversidades e incoerências.
“A Denise fala em determinado momento: ‘O que é a vida real? Que vida real é essa tão fugaz?’ É o que tentamos descobrir e só saberemos juntos”, diz Tony.
A peça tem direção de Luiz Villaça, que é marido de Denise. O casal já havia montado espetáculo semelhante (o solo de Denise “Eu de você”, que passou pela capital mineira no ano passado). Essa peça encantou Tony e serviu como embrião de “O que só sabemos juntos”.
Convite
O ator gostou tanto do que viu em “Eu de você” que convidou Luiz e Denise para um jantar no qual propôs a criação de algo que seguisse a mesma linha, rompendo completamente a quarta parede e dialogando com o público o tempo inteiro.
Não à toa, no início de “O que só sabemos juntos”, os dois atores abrem – e, neste caso, “abrir” não é força de expressão – as portas do teatro para o público e ainda puxam um papo com as pessoas antes de elas entrarem.
“Isso já era uma coisa que eu fazia em ‘Eu de você’. Perguntei ao Tony se ele queria realmente fazer isso, afinal, ele é um dos maiores atores do Brasil – considero ele o maior –, é um ícone nacional que está no imaginário de todos nós. Mas ele topou de cara e é muito bonito ver ele, com toda a trajetória que construiu, lá na porta do teatro, recebendo as pessoas”, comenta Denise.
Do riso às lágrimas
“O que só sabemos juntos” também marca um distanciamento dos papéis de vilões que Tony encarnou recentemente. Em “Terra e paixão” e na série da Globo “Encantado’s”, viveu, respectivamente, o fazendeiro Antônio La Selva e o bicheiro Madurão.
No palco, ele é meramente um homem que transita entre realidade (com casos factuais de sua vida) e ficção (por meio do texto construído coletivamente com Denise, Luiz Vilaça, sob consultoria de Vinicius Calderoni) e conduz o público do riso às lágrimas.
“O que mais tem me chamado a atenção são os momentos em que eu e Denise estamos falando intensamente, e as pessoas estão acompanhando tudo no mesmo ritmo. De repente, um de nós fala algo que coloca a plateia em silêncio absoluto – em alguns momentos, cheguei a escutar gente fungando o nariz. Isso é resultado da presença de um diretor que tem um olhar intelectual sobre a vida, mas não deixa que isso deixe o espetáculo chato”, destaca Tony.
“Acho que a gente vive um tempo em que a gente vive muitos discursos e poucas histórias”, complementa Denise. “E é muito importante percebermos a história do outro, olhar para o lado. Afinal, por mais que possamos discordar uns dos outros, existe um núcleo comum que nos une como seres humanos”, diz a atriz.
“O QUE SÓ SABEMOS JUNTOS”
Direção: Luiz Villaça. Com Tony Ramos e Denise Fraga. Desta quinta (19/9) a sábado, às 20h; domingo, às 19h. No Teatro Sesiminas (Rua Padre Marinho, 60, Santa Efigênia). Últimos ingressos para o Setor 2 à venda por R$ 200 (inteira) e R$ 100 (meia), na bilheteria ou pelo site Sympla. Mais informações: (31) 3241-7181.