O historiador e pesquisador francês Roger Chartier, uma autoridade na história do livro, da edição e da leitura, está em Belo Horizonte para participar, a partir desta segunda-feira (23/9), de uma série de eventos promovidos pelo Programa de Cátedras do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (IEAT) da UFMG, com atividades abertas ao público e conduzidas em português.

 




Ele inicia sua visita à capital mineira com uma entrevista exclusiva preparada por integrantes do Grupo de Pesquisa em Historicidades das Formas Comunicacionais da UFMG. Nesta terça-feira (24/9), Chartier participa do lançamento de três livros de sua autoria na Livraria Quixote.

 

 

Um deles foi produzido especialmente para a ocasião. "Gutenberg" (Tipografia do Zé, 2024) é uma edição artesanal em tipografia, com tiragem limitada. O texto, selecionado e traduzido pela professora da Escola de Belas Artes Ana Utsch, retoma a discussão em torno da mitificação da figura de Gutenberg, matizando os impactos da invenção da imprensa de tipos móveis em um amplo contexto histórico-cultural.

 

Livros na berlinda

 

 

Os outros dois livros são "Mapas e ficções" (Edusp, 2024), ensaio com nova abordagem sobre a mobilidade das ficções e de suas interpretações, e "Um mundo sem livros e sem livrarias?" (Letra Viva, 2020), com textos de Chartier sobre o impacto das práticas digitais no mundo editorial, reunidos por Guiomar de Grammont em 2020. "Como este último trabalho saiu durante a pandemia, todo mundo achou por bem fazer esse lançamento agora, com a presença do autor", diz Ana Utsch.

 

 

Uma série de três encontros de Chartier com a comunidade acadêmica e com o público em geral tem início na quarta-feira (25/9). Ele oferece a palestra "O que é um livro?", na qual aborda o livro como discurso e como objeto, no auditório da Faculdade de Letras da UFMG, das 14h às 17h.


A proposta, segundo Ana, é levar ao público um conjunto de reflexões que têm tido muita expressão em seu trabalho nos últimos anos, com a ideia de que a materialidade dos livros incide na constituição de sentido dos textos.


"Ele traz uma série de casos, de exemplos, do período da primeira modernidade europeia, entre os séculos 16 e 18, no qual vai identificando mapas, páginas em branco, tabuletas para escrita, caligrafias e até objetos esquecidos dentro de livros para mostrar como elementos da materialidade podem contribuir para a compreensão do significado dos usos dos textos", diz.

 

Conferência de encerramento


Na quinta (26/9), ocorre o encontro "O mundo editorial em questão", na UFMG, em torno de sua obra "Um mundo sem livros e sem livrarias?", com vagas já esgotadas. Na sexta (27/9), ele dá a conferência "A mobilidade e a materialidade dos textos na era da reprodutibilidade digital", no auditório da Reitoria da UFMG.


Ana Utsch vai mediar a conferência, que terá a participação da reitora Sandra Regina Goulart Almeida e da diretora do IEAT, Patrícia Kauark. Tendo como ponto de partida o conceito de mobilidade textual e cinco categorias que transcendem os limites do texto (atribuição, variantes, materialidade, migração entre gêneros e línguas e práticas de leitura), Chartier vai discutir as transformações provocadas pela digitalização de fontes documentais e suas implicações para as práticas de pesquisa.

 

"O trabalho investiga como os textos, nas suas diferentes formas de circulação, ganham novas interpretações, novos sentidos e formas de apropriação, daí a ideia de mobilidade", diz Ana. Ela diz que foi a partir desse campo de pesquisa que o trabalho do francês acabou extrapolando o espaço acadêmico e ganhando um público mais amplo.

 

"Ele é um historiador que se interessa pela cultura escrita, impressa, e por todo o processo de produção e difusão de textos, bem como de apropriação de escritos, e isso acaba aproximando-o de temas como a revolução tecnológica, a instabilidade e a mobilidade dos espaços sociais de leitura, que são temas da atualidade", afirma.

 

Segundo Ana, Chartier está no centro da consolidação do campo da história cultural, que, em oposição a uma história social, implica a reconsideração dos fenômenos históricos a partir de noções como representação e práticas coletivas. "Isso fez dele referência de uma corrente historiográfica que foi muito fortemente apropriada no Brasil e no mundo todo, muito difundida", diz.


“GUTENBERG”, “MAPAS E FICÇÕES” E “UM MUNDO SEM LIVROS E SEM LIVRARIAS?”

Lançamento dos livros de Roger Chartier, com a presença do autor, nesta terça-feira (24/9), das 18h30 às 20h, na Livraria Quixote (Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi). Acesso gratuito.

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