A Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha, realizada na UFMG, inicia nesta segunda-feira (23/9) sua 23ª edição, com o objetivo de divulgar os trabalhos de artistas populares da região Norte de Minas Gerais. Neste ano, o evento homenageia o centenário de nascimento de dona Izabel Mendes da Cunha (1924-2014), ceramista de Santana do Araçuaí e uma das maiores expressões da arte popular do Vale.

 




A obra de dona Izabel deixou impacto na tradição ceramista do Vale e no cenário artístico brasileiro. Também conhecida como “Izabel das bonecas”, a artista começou a lidar com o barro ainda na infância, ajudando sua mãe, paneleira, na criação de utensílios domésticos de cerâmica. O contato precoce com o ofício a inspirou a criar suas próprias obras, dentre as quais as "noivas de cerâmica" tornaram-se as mais reconhecidas.


 

Suas bonecas estão hoje em coleções particulares e museus em várias partes do mundo. O legado da artesã segue vivo devido ao trabalho da Associação dos Artesãos de Santana do Araçuaí, que capacita novos artistas da região, a partir dos saberes deixados pela mestra.

 

 

“Izabel é tida por muitos como a mais importante artesã do Vale do Jequitinhonha. A tradição inaugurada por ela com as bonecas de barro se mantém até hoje. Ela deixou um grande legado e muitos seguidores. É uma pessoa cuja existência reverbera até hoje, através das lições deixadas por ela”, afirma Sérgio Diniz, produtor cultural e coordenador da Feira.


Espaço de comercialização

 


Com edições realizadas desde o ano 2000, a Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha promove um intercâmbio cultural entre o saber acadêmico e o tradicional. Ao longo dos anos, o evento se firmou como um importante espaço de comercialização para os artesãos do Vale.

 

A expectativa para este ano é que mais de 20 mil pessoas visitem a feira, que ficará aberta até o próximo sábado (28/9). Marcarão presença aproximadamente 100 artesãos, provenientes de 27 municípios dos territórios do Jequitinhonha. Entre os trabalhos expostos, estarão produtos feitos em tear, bordado, tecelagem, cerâmica, madeira e palha.

 
“A nossa contribuição atualmente é essa: propiciar uma feira na qual os artesãos tenham as melhores condições possíveis para que possam expor seus produtos e conseguir uma boa venda. Temos tido êxito nessa tarefa nossa”, afirma Diniz.

 
Em 2023, a feira gerou um volume de vendas de R$ 500 mil. A expectativa para este ano é que esse número seja superado. "Hoje, a nossa feira é considerada a mais importante em volume de vendas para os artesãos do Vale do Jequitinhonha”, diz o organizador.

 

Adiamento


Tradicionalmente realizada em maio, em 2024 a feira foi adiada devido à greve dos servidores. “Atribuímos a continuidade do evento à força dessa iniciativa que é muito pujante. Agregamos o melhor da arte do Jequitinhonha aqui nesse espaço da universidade e nos mantemos através da força e do desejo das pessoas de estarem aqui. A feira é um projeto muito consolidado. Pela UFMG, ela jamais deixará de existir”, afirma Diniz.

 

Neste ano, em virtude da greve e do curto tempo de planejamento, a feira não contará com oficinas, mas a programação cultural segue ativa.

 

Quatro shows foram programados, de forma a dialogar com o universo cultural do Vale do Jequitinhonha. A violeira Letícia Leal, os músicos Felipe Bedetti e Tadeu Franco, a banda Os Disponíveis e o músico Walter Dias compõem a lista de atrações musicais.

 
"A feira não é apenas sobre vendas, é sobre convívio", afirma Sérgio Diniz. "Muitas pessoas vêm de fora para encontrar os artesãos, para vivenciar esse espaço de troca entre o saber acadêmico e o saber popular, e isso cria um ambiente único, que vai além das transações comerciais. Essa troca que acontece entre os expositores e o público é um dos maiores legados do evento”, diz.

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