Neste ano, quando alcança os 75 (em 13 de outubro), Raimundo Fagner começou a fazer um projeto muito particular: refazer os roteiros de sua vida, tocando em lugares que foram determinantes para sua trajetória musical, iniciada mais de 50 anos atrás. Começou pelo Ceará natal e agora chega a Belo Horizonte.

 




“Estou repensando a carreira, querendo estar junto do meu público para retribuir”, diz ele, que está na cidade desde domingo (22/9) preparando dois shows, diferentes, que fará nesta semana: hoje (25/9), no Teatro Francisco Nunes e amanhã (26/9), no Palácio das Artes. Os ingressos estão esgotados.

 

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O percurso é sentimental, principalmente o desta quarta, escolhido por Fagner para celebrar uma temporada no Chico Nunes em 1976 – foi o primeiro teatro que ele se apresentou na cidade. Produtor do show de 48 anos atrás e de tantos outros que o cantor e compositor fez em BH, Gegê Lara se lembra que teve casa lotada nas quatro apresentações, de quinta a domingo.

 

 

“As filas iam até o Palácio das Artes. Ficou lotadaço, 900 pessoas por noite, Fagner de cabelo comprido, junto com o Robertinho do Recife, com gente sentada até no palco”, conta Lara, que foi convocado, há três meses, pelo próprio artista para agendar as novas datas.


Dívida com Vander Lee

 

No show no Chico Nunes, Fagner vai se apresentar ao lado do violonista Cainã Cavalcante, prodígio cearense que o acompanha há algum tempo. “Vou buscar o máximo de lembranças da época, coisas como ‘Penas do Tiê’ (outra de “Manera Fru Fru”). Já o repertório do segundo show será mais normal”, conta.


“Mais normal” é um modo de ver, mas o show de quinta também será especial. Porque além de Cainã e do baterista Robson Matias, que integram sua banda, Fagner terá dois mineiros nesta noite. Túlio Mourão no piano e teclados, relembrando o período que tocou ao lado dele em priscas eras, e o contrabaixista Bruno Vellozo.

 


Nesta apresentação, o cantor deverá apresentar algumas das canções que integram seu novo álbum. Lançado no mês passado, “Além desse futuro” é o primeiro disco de inéditas de Fagner em uma década. Tem dois mineiros no repertório: “Ponta de punhal”, de Toninho Geraes e Chico Alves, e “Onde Deus possa me ouvir”, de Vander Lee (1966-2016).


Esta última é uma canção cara a Fagner. “Fiquei em dívida com o Vander Lee. Fiquei de gravá-la e não gravei. Depois descobri um e-mail dele em que se dizia muito chateado (pela não gravação). Tanto que eu me redimi”, conta. Em 2022, em seu primeiro show em BH no pós-pandemia, Fagner fez no Palácio das Artes o show-tributo “Onde Deus possa me ouvir”.


Referências em Minas

 

A produção musical de Belo Horizonte é uma referência desde sempre. “Milton é muito forte, ‘Para Lennon e McCartney’ é uma referência para toda a minha geração. Depois terminei gravando com ele ‘Morro velho’. Essa referência se estende para muitos outros: Lô Borges, Beto Guedes fizeram nossa cabeça. Acabei ainda tendo uma relação muito estreita com o Fernando Brant, por conta das questões sobre direito de autor.”


Parte do chamado “pessoal do Ceará”, grupo de cantores, compositores e instrumentistas (Belchior e Ednardo estavam entre eles) que surgiu naquele estado nos anos 1960, Fagner, no início da década seguinte, já havia se tornado um artista nacional. Seu primeiro grande sucesso, o até hoje imbatível “Canteiros”, estava no álbum de estreia, “Manera Fru Fru, Manera” (1973).


Em BH, Fagner aportou pela primeira vez em 1975, para uma calourada no DCE da PUC Minas. Ao Estado de Minas, afirmou na época sua preocupação com a música brasileira. “Essa garotada toda procurando seguir o que os artistas estrangeiros criaram. Mas está tudo aqui mesmo, o Brasil tem a música mais importante do mundo.”


Roberto Carlos e Clara Nunes

 

Depois da primeira temporada no Chico Nunes, Fagner fez nos anos posteriores apresentações igualmente marcantes. Em 1979, causou num show no antigo ginásio do Minas Tênis Clube. Seis mil ingressos foram vendidos em quatro dias, segundo informações do extinto Jornal de Casa. No dia da apresentação, havia 8 mil pessoas dentro do ginásio – e 2 mil não conseguiram entrar. Teve briga e confusão, e “o cantor mal conseguiu terminar o show”.


Em 1980, Fagner retornou para a temporada de apresentações que marcou a inauguração do Mineirinho. Roberto Carlos se apresentou na sexta-feira, ele no sábado e Clara Nunes no domingo. “Fagner vendeu mais ingresso do que o Roberto”, recorda-se Lara.


FAGNER
Nesta quarta (25/9), às 21h, no Teatro Francisco Nunes (Avenida Afonso Pena, 1.321 – Centro); e nesta quinta (26/9), no mesmo horário, no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537 – Centro). Ingressos esgotados.

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