Reconhecida por propor experiências artísticas em espaços alternativos e por trabalhos com dramaturgia autoral, a Quasecia. de Teatro, criada em 2018, apresenta o espetáculo “Burburinho – A primeira festa”, desta sexta-feira (27/9) até domingo, no Teatro de Bolso Sesiminas. A montagem tem texto de Daniel Gama, ator e cofundador da companhia, e direção de Raquel Pedras, do grupo Armatrux.

 




Em cena, o elenco formado por Letícia Leiva, Matheus Carvalho, Rodrigo Liberato e o próprio Gama, mais os artistas convidados Amanda Salvador e Leon Ramos, vivenciam uma festa de aniversário que coloca em cena uma realidade atravessada por doses de absurdo e surrealismo, numa chave metalinguística. A dramaturgia se inspira no livro “Rua Aribau” (2018), organizado por Alice Sant'Anna, que reúne textos de poetas contemporâneas, como Ana Martins Marques, Alice Ruiz e Angélica Freitas, entre outras.

 

Siga nosso canal no WhatsApp e receba em primeira mão notícias relevantes para o seu dia


“Rua Aribau”, por sua vez, é uma espécie de desdobramento do romance “Nada” (1945), da escritora espanhola Carmen Laforet. Ambas as obras tratam de questões como inadequação, solidão, deslocamento e viagem. “O romance 'Nada' tira a gente do espectro comum das coisas, desafia o entendimento do que é realidade e do que não é”, diz Gama. Ele aponta que a peça parte, também, da “Trilogia do susto”, da Quasecia., formada pelos solos “Chamarei de qualquer coisa”, “Onde o mar começa” e “Pedra/cabeça”.


ATUAR A POESIA

 

“Quando a gente criou uma das cenas, 'Onde o mar começa', com Amanda Salvador atuando e Letícia Leiva dirigindo, escrevi um texto mais poético. Minha linguagem no teatro, o que gosto de explorar parte muito do campo da poesia, então o desafio é como deixar as imagens poéticas palpáveis no palco, um processo de como atuar a poesia”, diz.

 


Gama conta que morou em Barcelona, próximo da rua Aribau, e que, à época, já criava à distância para a companhia. “Eu estava habitando esse universo do 'Nada' e do 'Rua Aribau', entendendo as questões que esses livros abordam”, diz. Ele observa que essa chave poética que constitui a dramaturgia de “Burburinho” não implica a inexistência de um enredo, de uma história, mas pondera que ela surgiu apenas durante os ensaios.


“O exercício foi transformar poesia em teatro. Os acontecimentos de 'Burburinho', a linha narrativa, nós descobrimos durante o processo de montagem.Tem uma coisa dos atores que se abraçam e se soltam, se abraçam e se soltam, até que aconteça alguma coisa, mas não sabíamos de antemão que coisa era essa”, afirma.

 


Ele acrescenta que a peça “tem um caráter enigmático mesmo; em cena é que a gente consegue ir se desvendando. Foi uma criação muito viva, porque o tempo todo estávamos tentando desvelar os acontecimentos”.

 


Embora “Burburinho” seja o primeiro espetáculo da Quasecia. concebido para o espaço cênico convencional, ele segue um “rastro de linguagem” deixado pelos trabalhos pregressos do grupo, segundo o dramaturgo. “Outras performances e intervenções que já fizemos em bares, cafés, cinemas e centros culturais levam o espectador a uma 'ginástica cerebral', como dizia Manoel de Barros. As imagens nem sempre são óbvias, não entregamos de primeira, deixamos para construir o sentido em cena. É muito um lugar do existencialismo também”, afirma.

 


As proposições cênicas da Quasecia. têm um gosto de “primeira vez”, e, no caso de “Burburinho”, isso vai além do fato de ser o debute do grupo num teatro. “É um formato diferente, porque sempre bebemos muito das performances, da instalação, da intervenção artística em locais públicos – um contato mais escancarado com as pessoas. No teatro, o diálogo é diferente, mas o bar do foyer vai funcionar uma hora antes, com uma ambientação de festa, então é como se a peça começasse uma hora antes de estarmos no palco”, aponta.


“BURBURINHO – A PRIMEIRA FESTA”
Com a Quasecia. de Teatro, nesta sexta-feira (27/9) e sábado (28/9), às 20h, e no domingo (29/9), às 19h, no Teatro de Bolso Sesiminas (Rua Padre Marinho, 60, Santa Efigênia). Ingressos a R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia e promocional para industriários), à venda no Sympla. Classificação etária: 12 anos. Duração: 70 minutos.

compartilhe