"Está chovendo torrencialmente e tenho toda a minha correspondência para abrir." Brigitte Bardot, ícone internacional do cinema, conversou com a reportagem de Saint-Tropez, no Sul da França, sobre sua vida e suas lutas. A atriz completa 90 anos neste sábado (28/9).

 


A estrela francesa, que deixou o cinema há meio século e que suscitou muitos comentários por suas opiniões e apoio à extrema direita, falou por telefone, durante 20 minutos.

 


Bardot dedica toda a sua energia à causa animal. Tem uma fundação em seu nome, que continua a dirigir. Ela ainda espera, durante a sua vida, ver proibido o consumo de carne de cavalo.

 




Este sábado, 28 de setembro, é um dia especial, porque você completa 90 anos.
Agradeço, mas já estou cansada desse aniversário. Já cansei porque é um assédio, sou muito requisitada em todos os lugares! Felizmente não faço 90 anos todos os dias.

 


Muitas pessoas pensam em você!
É adorável, mas chega um momento em que você tem que dizer basta. Às vezes digo a mim mesma que preferiria ter 20 anos!

 


Se tivesse 20 anos, a veríamos nos filmes novamente?
Não, isso acabou! Estou muito feliz por ter chegado a uma idade tão avançada.

 


Como você se sente nessa idade?
Realmente não penso nisso. Para mim, todos os dias são iguais. Encaro-os com a mesma facilidade de antes. Vejo o tempo passar e parece que está tudo indo muito bem.

 

Brigitte Bardot e Bernard d'Ormale - Desde 1992.

reprodução Twitter


O que faz você se sentir bem?
Prefiro dizer o que me faz sentir mal... Por exemplo, animais: as coisas não melhoram. O que me faz bem é a minha maneira de ver a vida, de me interessar pela natureza, de fugir da humanidade. Fujo da humanidade e tenho uma solidão silenciosa que me faz muito bem.

 


Qual seria o melhor presente de aniversário?
O presente mais lindo que eu poderia ter recebido, depois de 50 anos de apelos a governos e presidentes, seria a abolição do consumo de carne de cavalo. Quando saí do cinema, foi a primeira coisa que pedi. Que cavalos não deveriam mais ser mortos e comidos na França. Bem, não recebi nada! Teria sido um presente maravilhoso para mim.

 


Você ainda acha que verá essa proibição durante sua vida?
Estou há 50 anos gritando e não me deram nada. Não tenho tempo para esperar mais 50 anos.

 


Você está decepcionada com o mundo político?
Estou decepcionada porque ninguém teve pelo menos a ideia de fazer algo. Foi esquecido. Eu gostaria de ter um resultado antes de deixar todos vocês, definitivamente. Eu mereço isso!

 


A percepção dos franceses sobre os animais está mudando.
Por parte dos franceses é maravilhoso. Eles me ouviram, eles me apoiaram. São formidáveis. Eles me escrevem cartas que me fazem muito bem. Agradeço infinitamente pelo incentivo que me dão.

 

Brigitte Bardot protagonizou clássicos da nouvelle vague, como "O desprezo" (1963), de Jean-Luc Godard

Bonfilm/Divulgação


Para eles, você ainda é um ícone do cinema dos anos 1960. Que lembranças você guarda dessa época?
Virei a página há mais de 50 anos. Tenho muito orgulho da primeira parte da minha existência, que conquistei e que agora me permite ter notoriedade mundial que me ajuda muito na proteção dos animais.

 


Se você pudesse voltar no tempo, seguiria a mesma carreira?
Não me questiono. Há coisas mais importantes na vida, e o que está feito, está feito.

 


Sente ansiedade pelo futuro?
Vivo um dia de cada vez e assim vou muito bem. Aceito as coisas como elas vêm.

 


A velhice é como você imaginou?
Eu não me importo com a velhice. Eu nem a vi chegar! Não a sinto.

 


Uma última palavra sobre Paul Watson, ativista das baleias, preso na Groenlândia?
É um problema gravíssimo, que me faz sofrer muito. Estão cometendo uma injustiça flagrante! Noruega, Islândia e Japão desrespeitam a moratória (sobre caça às baleias) assinada pelo mundo inteiro. E Paul Watson é quem é acusado! É incrível!

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