Há alguns meses, quando os cineastas João Dumans e Affonso Uchôa receberam o convite da Editora Javali para escrever um livro sobre os bastidores do processo de criação do longa “Arábia” (2017), uma dúvida tomou conta dos dois: a partir de qual roteiro do filme eles se baseariam?

 




“Nosso processo de escrita de ‘Árabia’ foi muito fluido”, lembra Dumans, em entrevista ao Estado de Minas. “O roteiro foi se transformando muito. Desde as primeiras ideias até no processo de montagem”, acrescenta.

 

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Ele conta que foram mais de cinco anos para que o filme saísse do papel. E, nesse período, um número incontável de roteiros foram escritos e reescritos até que o filme tomasse a forma final.

 

 

Contudo, é o texto que a dupla esboçou em 2015 que está em “Arábia: caminhos da escrita de um filme”, livro que será lançado nesta segunda-feira (30/9), às 19h30, no Cine Humberto Mauro. Outros dois eventos de lançamento serão realizados em 9 de outubro, no Cine Santa Tereza (com exibição do filme seguida de bate-papo com os diretores); e no dia 10 do mesmo mês, quando Dumans e Uchôa participarão de live no canal de YouTube da Editora Javali.


“O roteiro de 2015 foi a versão que a gente teve como base para a maior etapa de realização do filme”, explica Uchôa. “É possível perceber que nele está a base da história do Cristiano”, afirma.


Cristiano é o protagonista do longa, vale lembrar. Interpretado por Aristides de Sousa, ele é um operário marginalizado de uma fundição em Ouro Preto e sua história só se torna conhecida depois que um diário dele é encontrado.

 

 

Acompanhamos, então, a jornada desse personagem, que é complexo, solitário e tem enormes dificuldades de criar laços e de pertencer a algum lugar.


Cristiano não foi concebido do nada por Dumans e Uchôa. Em “Arábia: caminhos da escrita de um filme”, os diretores compartilham as entrevistas e pesquisas de campo realizadas, respectivamente, por Laura Godoy e André Dumans Guedes, que fundamentaram a escrita do roteiro.


Inspiração real

 

Tratam-se de impressões a respeito de protestos organizados por operários da antiga Alcan, em Saramenha, distrito de Ouro Preto, que estavam com medo de demissões em massa com o possível fechamento da fábrica em Minas.


Nessas anotações, há personagens em potencial para uma ficção, como o operário que torce, ao mesmo tempo, para o Atlético e para o Cruzeiro; o rapaz sisudo e metido a machão que é fã de novelas; e o peão que só escuta “Bolero de Ravel” e “As quatro estações”, de Vivaldi.


“A entrevista e o trabalho de campo mostram que a realidade que a gente estava falando era a realidade de muita gente. Tem certas vivências, formas de pensar, de se divertir e de se relacionar que falam a respeito de uma fatia muito grande da população brasileira, né?”, destaca Dumans.


O livro conta ainda com parte do diário de Cristiano, que na realidade foi escrito pelo ator Aristides Sousa a pedido dos diretores. “Quando perguntamos ao Juninho (apelido do ator Aristides de Sousa) se ele toparia escrever um diário com suas memórias, nunca poderíamos imaginar que ele preencheria, em menos de cinco meses, 56 páginas à mão, relatando alguns dos momentos mais duros, bonitos e importantes da sua vida, com uma entrega e uma sensibilidade que até hoje nos comovem”, revelam Dumans e Uchôa na apresentação do livro.


“ARÁBIA: CAMINHOS DA ESCRITA DE UM FILME”
• Autores: João Dumans e Affonso Uchôa
• Editora: Javali
• Páginas: 256
• Preço: R$ 50 (livro físico), nas livrarias ou pelo site editorajavali.com.
• Lançamento nesta segunda-feira (30/9), às 19h30, no Cine Humberto Mauro (Av. Afonso Pena, 1.537 – Centro). Entrada Gratuita.

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