Brad Pitt e George Clooney se tornam uma dupla a contragosto no longa de Jon Watts, disponível na AppleTV+ -  (crédito: apple+/divulgação)

Brad Pitt e George Clooney se tornam uma dupla a contragosto no longa de Jon Watts, disponível na AppleTV+

crédito: apple+/divulgação

 

Recorrendo à uma expressão típica da malandragem brasileira, é possível dizer que Brad Pitt e George Clooney são os "parças" de Hollywood. Amigos, famosos, bem-sucedidos e milionários, já juntaram forças em alguns projetos.

 


E agora mais um chega ao público no streaming, já disponível na AppleTV+. Dizer que "Lobos" é uma trama policial bem engendrada seria limitar a real condição desse filme que demonstra muita sofisticação no roteiro e na criação dos personagens.

 


Definir os papéis de Pitt e Clooney é também explicar o título do filme, tradução literal do original "Wolfs". Eles não se conhecem, mas fazem a mesma coisa na vida. São "fixers". Na tradução literal, os que consertam coisas.

 


Estamos falando de crimes. Quando algo dá muito errado, profissionais como eles são chamados para limpar a cena, uma tarefa que quase sempre inclui desovar algum cadáver. São muito bem pagos, e cada profissional dessa categoria trabalha completamente sozinho. Daí serem chamados de "lobos solitários".


Vidro e sangue

Quando o filme começa, a situação já está exposta ao espectador. Uma mulher madura com as roupas manchadas de sangue está numa suíte de um hotel caríssimo, ao lado do corpo de um jovem vestindo cueca e meias. O morto está coberto por estilhaços, porque espatifou uma mesa de vidro ao cair em cima dela.

 


A mulher é uma promotora de justiça importantíssima na cena política americana e faz uma ligação para um número que uma figura de muito poder e prestígio certa vez passou a ela. Pede ajuda, e o homem do outro lado da linha diz estar a caminho.

 


É George Clooney que aparece. Com pinta de muito eficiente no que faz, dá a ela algumas instruções de como deve se comportar ao sair dali e começa a operação limpeza. Eis que mais alguém bate à porta. Brad Pitt, claro. Diz à mulher que veio fazer exatamente o que Clooney já está fazendo.

 


A suíte tem câmeras ocultas, e essas foram acessadas pela dona do hotel. Ao ver a confusão, ela convocou o personagem de Pitt, e agora os dois estão ali, eficientes e extremamente egocêntricos. Mesmo odiando a ideia, os dois são obrigados a trabalhar juntos por suas contratantes. A partir daí, até a última cena, o filme mostra o convívio dos dois, com as óbvias disputas entre eles para mostrar quem é o melhor.


Droga e máfia

Mas a missão não se desenrola de forma tão simples quanto parecia. Enquanto empacotam o cadáver e limpam a cena, descobrem na suíte uma mochila entupida de pacotes de cocaína. Os dois concordam que o material é provavelmente parte do roubo recente de entrega de droga à máfia albanesa da cidade. E fica claro que ambos têm um medo tremendo dos albaneses.

 


Eis aqui a última revelação do ótimo enredo: já fora do hotel, eles percebem que o rapaz ainda está vivo, apesar de Clooney ter checado seu pulso ao chegar à suíte. O filme realmente começa agora, construindo um ritmo de ação montanha-russa, que só é interrompido para algumas conversas filosóficas entre os profissionais do crime e o rapaz, com aquele jeitão dos diálogos de filmes de Quentin Tarantino que Clooney e Pitt conhecem muito bem.

 


O trio vai passar por momentos extremos pela madrugada, incluindo tiroteios com soluções muito criativas na tela e uma perseguição nas ruas que não deve nada às clássicas corridas de carros desenfreados nos melhores exemplares desse gênero cinematográfico. Mas a excelência das cenas de ação é apenas coadjuvante à química perfeita de Pitt e Clooney, aqui o grande trunfo.

 


Piadinhas

Falar que eles são bonitões e charmosos é algo dispensável. Mas é bom saber que poucas vezes essas características da dupla foram tão bem exploradas. Um rebate cada piadinha do outro com outra ainda mais engraçada. E o roteiro acerta ao insistir nos perrengues físicos da dupla. Apesar de serem galãs sedutores, os dois se rendem à velhice.

 


Jon Watts, diretor do blockbuster "Homem-Aranha: Sem volta para casa" e de 11 episódios da ótima série "O velho", com Jeff Bridges, leva com segurança o filme até o final. Como em muitas produções atuais para o streaming, abre-se o caminho para uma possível continuação.

 


Se "Lobos 2" vier, seria bom ter novamente no elenco o ator Austin Abrams, um ótimo coadjuvante como o garoto "não morto" envolvido em toda a confusão. Ele funciona muito bem entre os dois astros principais. É mais um acerto num filme repleto deles. (Thales de Menezes)

 


“LOBOS”
(EUA, 2024, 108 min.) Direção: Jon Watts. Com Brad Pitt, George Clooney, Austin Abrams. Disponível na AppleTV+. Classificação: 14 anos.