Giuliana Danza montou em 2013 o seu estúdio, no qual realiza trabalhos autorais de animação e onde desenvolveu a história do Golem contada em

Giuliana Danza montou em 2013 o seu estúdio, no qual realiza trabalhos autorais de animação e onde desenvolveu a história do Golem contada em "Placa-mãe"

crédito: acervo pessoal

  

Primeiro longa de animação realizado no interior de Minas Gerais, em Divinópolis, “Placa-mãe”, de Igor Bastos, estreou na semana passada (em 212 salas do país), enfrentando a concorrência do peso-pesado “Coringa: Delírio a dois”. Sem se intimidar com o páreo duro, o filme aposta numa criação coletiva, que valoriza elementos regionais, para abordar temas como tecnologia e divisões ideológicas por meio da história de uma androide que adota duas crianças.

 


Bastos abriu espaço no longa para outros dois animadores mineiros – Giuliana Danza e Jackson Abacatu –, que criaram histórias que a androide conta para as crianças. Ele também buscou em Divinópolis parte da trilha sonora do filme, com três músicas da banda Os Caxambus. Os trabalhos dos realizadores convidados e do grupo ajudam a tingir o longa com as cores locais que o diretor pretendeu.

 


A parte que coube a Giuliana é a história do Golem, gigante de barro do folclore judaico, que ela criou valendo-se do mesmo material que já tinha utilizado no premiado curta “Poética de barro” (2019). Formada pela Escola de Belas Artes da UFMG em 2010, ela diz que conheceu o diretor quando ele cursava a mesma faculdade (onde se graduou em 2018). “Quando fui fazer o ‘Poética de barro’, ele leu o roteiro e deu algumas sugestões”, conta.

 

Carta branca

Com o convite para participar de “Placa-mãe”, Giuliana recebeu de Bastos o roteiro da história do Golem e carta branca para alterar o que quisesse. Ela fez uma adaptação para resumir a história, mas respeitando o conto original. “Modelei, fotografei e animei tudo no meu estúdio. Igor tinha gostado da visualidade do ‘Poética de barro’, mas, para o ‘Placa-mãe’, só o Golem é feito de barro. O restante das figuras e cenários é feito com uma massinha da Faber-Castel”, diz.

 


A animadora destaca que trabalha com materiais diversos e que o barro está entre seus interesses. “No meu trabalho autoral, primo por coisas que sejam acessíveis, coisas com as quais qualquer um possa lidar. Por outro lado, sempre me interessei pela produção das mulheres do Vale do Jequitinhonha, que é um grande polo de artesanato. São interesses aliados. O ‘Poética de barro’ surgiu daí. É um projeto de que me orgulho muito, porque rodou bastante, ganhou alguns prêmios, então é graças a ele que as pessoas me conhecem”, diz.

 

 

Percurso torto

Com um estúdio próprio, fundado em 2013, pelo qual realiza trabalhos autorais e presta serviços para outros estúdios e produtoras, Giuliana diz que cumpriu um percurso “meio torto” até se tornar diretora, roteirista, animadora, fotógrafa, montadora e designer de personagens e cenários.

 


Ela se formou, primeiro, em terapia ocupacional e buscou o curso de Belas Artes para aplicar técnicas criativas em atendimentos terapêuticos. “Comecei com esculturas, modelagens e fui migrando aos poucos para o cinema de animação.”

 


Da parte visual para a musical de “Placa-mãe”, o cantor, compositor e guitarrista Daniel Flores, fundador do grupo Os Caxambus, conta que as músicas de sua banda foram parar na trilha do longa de animação a convite de Igor Bastos.

 


“Somos da mesma cidade, eu já o conhecia, mas nunca tínhamos conversado. Ele ouviu uma canção que gravei em 2012, antes de criar Os Caxambus, em 2018, chamada ‘Tia Uca’, gostou e me procurou dizendo que queria nossas músicas no filme que estava fazendo”, recorda.

 


Além de “Tia Uca”, que foi regravada pelos Caxambus e lançada no EP de estreia, em 2019, entraram na trilha as faixas desse trabalho “Mineirês” e “Afro tupiniquim”. “Igor teve essa visão, de inserir regionalidades em ‘Placa-mãe’, e nosso trabalho passa muito por aí. Muita gente pergunta se essas músicas foram feitas para o filme, mas não, já estavam prontas. Por essa característica do regional que se cruza com o universal parece que são canções que foram compostas originalmente para a trilha”, observa.

 


Aos 38 anos, Flores diz que compõe desde os 12. “Comecei como cantor no coral Rouxinóis de Divinópolis, que chegou a acompanhar Milton Nascimento em uma turnê. Cresci com a vontade de me firmar como artista, então fui compondo e gravando minhas coisas, mesmo sem muitas expectativas”, diz.

 


A chegada de Vitor Nunes (bateria e percussão) e Vinícius Belini (guitarra e baixo) viabilizou Os Caxambus. Após o EP de estreia, feito de forma independente, a banda lançou, em 2022, com recursos da lei de incentivo cultural Aldir Blanc, o álbum “Música mineira interestelar”, com 11 faixas.

 


“Desde que o grupo existe, a gente vem criando e desenvolvendo temas que têm influência do congado, do reisado, mas também do pop, bebendo em fontes não só musicais, mas também literárias. Acabamos adotando o título do álbum como definição do tipo de som que a gente faz, que é esse cruzamento da regionalidade com a universalidade”, afirma. 

 

ONDE VER

Desde a estreia, na última quinta-feira (3/10), “Placa-mãe” está em cartaz em Belo Horizonte nas seguintes salas: BH 10, às 13h40 e 16h10; Boulevard 1, às 14h10 (exceto terça); Cidade 3, às13h25 e 15h35; Contagem 7, às 13h30 e 16h; Del Rey 7, às 13h40 (exceto terça); Estação 6, às 13h30 e 15h45; Itaupower 1, às 13h45; Minas Shopping 5, às 13h50 (exceto terça); Minas Shopping 6, às 16h35 (exceto terça); Monte Carmo 1, às 14h e 16h10; UNA Belas Artes 1, às 14h50; Via 4, às 13h40 (quinta a domingo).