Steve McQueen durante a estreia de

Steve McQueen durante a estreia de "Blitz" na abertura do Festival de Cinema de Londres, realizada ontem

crédito: HENRY NICHOLLS/AFP

 

No longa “Blitz", Steve McQueen quis denunciar a "perversidade" da guerra e a propensão humana a "desviar o olhar" de sua realidade obscura, como explica o próprio diretor britânico, ganhador do Oscar de melhor filme por “12 anos de escravidão” (2013).

 


A dura epopeia ambientada na Segunda Guerra Mundial, que abriu o Festival de Cinema de Londres ontem (9/10), narra a Blitz, campanha de bombardeios maciços da Alemanha nazista ao Reino Unido entre 1940 e 1941 pelo olhar de George, menino negro de 9 anos.

 

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Ele foge quando é levado com outros meninos para a área rural, longe dos combates, e embarca em uma corrida frenética para encontrar sua mãe, interpretada por Saoirse Ronan, e o avô, vivido pelo músico Paul Weller, no Leste de Londres.


Para Steve McQueen, de 55 anos, que também assina o roteiro do filme, colocar um menino no centro da história foi como usar "uma página em branco" para mostrar a "perversidade" da guerra.

 

 

"Com os adultos (...) há um momento no qual tendemos a olhar para o outro lado (...) ou a não escutar", explica o diretor. "Mas para um menino, as coisas são boas ou más, verdadeiras ou falsas. Tudo é motivo de reflexão", destaca.


Devastação

 

Em uma cena do filme, George (Elliott Heffernan) observa, desconcertado, como seu bairro fica completamente destruído pelas bombas.


McQueen se inspirou em parte na própria infância em Londres, mas também no trabalho realizado em 2003 para o Museu Imperial da Guerra, que o enviou para o Iraque como "artista oficial" durante a segunda Guerra do Golfo.

 

 

Mas foi a descoberta, em 2020, enquanto trabalhava em um projeto para a TV, da foto de um menino negro em uma estação aguardando para ser evacuado que lhe deu a ideia para o filme.


"Disse a mim mesmo que essa era a minha porta de entrada. Preciso contar essa história, ver essa ideia da Blitz através dos olhos dele", lembra.


O filme lhe permite também descrever o racismo no Reino Unido durante a guerra, tema pouco abordado na evocação da Blitz.


"Estamos lutando tanto contra nosso inimigo quanto contra nós mesmos de certa forma, seja em termos de sexismo, antissemitismo, islamofobia", explica. "Não se pode fazer um filme sobre a sociedade sem contar tudo o que está acontecendo, qualquer que seja a forma que se adote", acrescenta McQueen.


O diretor conta que quis que "o coração" do filme fosse uma trama de amor familiar. "O mais importante desta história é o amor, o amor entre uma mãe e seu filho, o que é atemporal", afirma.


Pessoas reais

 

Embora parte da história seja ficcional, Steve McQueen construiu personagens a partir de pessoas reais e pesquisou exaustivamente "para apresentar as coisas da forma mais realista possível".


Devido a esse desejo de colocar "pessoas comuns" no centro da história, os soldados em combate e os líderes da época, como o primeiro-ministro Winston Churchill, estão ausentes em "Blitz".


"Não era o meu tema", afirma Steve McQueen. O diretor se diz especialmente satisfeito com fato de a estreia do filme ocorrer em Londres. "Não gostaria que fosse em nenhum outro lugar", diz.


O sucesso da produção também se deve, em grande medida, a seus atores e, em particular, ao jovem Elliott Heffernan, que impressionou o diretor durante a seleção do elenco.


"Muitas vezes, você não sabe realmente o que está buscando e em seguida descobre quando vê. Isso é emocionante", comenta McQueen. Durante os testes, ele lembra ter considerado o jovem ator "fascinante".


Nas filmagens do longa, que chegará aos cinemas em 1º de novembro, houve grande cumplicidade entre o menino e Saoirse Ronan, que se mostrou sua protetora. "Esta conexão era óbvia. Nós a vemos assim também na tela, ela foi maravilhosa", diz o diretor.