"É impossível não se envolver emocionalmente quando fazemos uma série baseada numa história real”. A frase é da diretora de conteúdo e pesquisa Bruna Rodrigues, profissional que esteve à frente da ideia e da produção da série documental “Volta Priscila”, disponível no Disney+.
A trama rememora a traumática e até aqui inconclusiva história do sumiço de Priscila Belfort, irmã do lutador Vitor Belfort. Ela desapareceu em janeiro de 2004, aos 29 anos, e nunca mais foi vista. A produção demorou dois anos para ser realizada, e a equipe mergulhou nas histórias da família, além de vídeos VHS e outros arquivos pessoais.
“Esse caso é emblemático porque mostra como uma investigação pode te levar a muitos lugares e, ao mesmo tempo, a lugar algum. A cada nova pista e descoberta, esperança e dor se misturavam. Tudo isso em vão. São 20 anos de muito sofrimento”, analisa o diretor Eduardo Rajabally.
Desafios
Segundo ele, foram três os desafios principais para a execução da obra. O primeiro deles: entender como retratar visual e dramaturgicamente os momentos cruciais da vida de Priscila, numa mescla de intensidade, ação, leveza e poesia.
Depois, filmar um true crime em que não existe cena do crime, suspeito, corpo e nem veredito. Por último, como construir a narrativa de maneira que o público mergulhe nos acontecimentos e se envolva durante os episódios, mesmo sabendo que Priscila ainda não foi encontrada.
Rajabally conta que a adesão da família Belfort ao projeto foi fundamental. “É aqui que pontes de confiança e amizade são construídas. Na minha carreira, tenho devoção total às pessoas que retrato. Meu compromisso é com elas. Com muita coragem, essas pessoas depositam suas histórias de vida e sofrimentos, intimidades e sentimentos”, avalia.
Ao longo dos capítulos, o público conhece mais sobre a vida, os sonhos e os planos de Priscila. “Foi uma forma de apresentá-la ao público e torná-la uma voz muito ativa dentro dos episódios da série”, comenta o diretor.
Universo familiar
A produção passou bastante tempo em conversas informais com familiares – a mãe, Jovita, o irmão Vitor, a cunhada Joana Prado e o pai, Zé Marcos. Tudo para, aos poucos, reconstruir o universo em que Priscila estava inserida, além de seus gostos pessoais, personalidade e temperamento.
“A ideia da série é recuperar a imagem equivocada que a grande mídia divulgou à época do desaparecimento. É inevitável esperar que um projeto com tamanha abrangência desencadeie novos fatos numa investigação marcada por lacunas, vícios e contradições”, reforça Bruna Rodrigues.
Os diretores afirmam que não tiveram o intuito de deixar suas emoções de lado e que elas auxiliaram na realização do documentário. Mesmo após 20 anos, a família Belfort segue confiante que em breve o desaparecimento de Priscila possa ter uma conclusão.
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“A morte é algo que faz parte da vida. Por mais dolorosa que seja, passamos por um processo de luto que culmina com a memória e a saudade de alguém amado em vida. Nas palavras da própria Jovita Belfort, 'é uma ferida aberta que dói todos os dias da mesma forma'. Nesse contato, pude perceber que se trata de algo longe de cicatrizar”, completa Eduardo Rajabally. (Leonardo Volpato)
“VOLTA PRISCILA”
Série documental dirigida por Eduardo Rajabally e Bruna Rodrigues, com quatro episódios.
Disponível na plataforma Disney+.