“Barbarizando geral”, álbum de Fred Martins e Marcos Suzano, é uma crônica social do Brasil contemporâneo. Letras falam da cultura do ódio disseminada pelas redes sociais, de discursos adotados por gente que, na verdade, nem sabe o que está dizendo. Com lançamento simultâneo no país e em Portugal nesta terça-feira (15/10), o repertório tem 10 faixas – seis delas assinadas por Roberto Bozzetti, Marcelo Diniz, Manoel Gomes e André Sampaio.
Chico Buarque, a vítima preferida dos haters, inspirou a canção “Ahmed”, que contou com participação do MPB4 e arranjo de Paulo Malaguti Pauleira.
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Trata-se de uma brincadeira com o personagem das redes sociais que seria o “verdadeiro” autor dos clássicos de Chico, acusado por internautas de não ter composto o cancioneiro que lhe deu fama.
A letra de Roberto Bozzeti diz assim: “Chega de Chico Buarque, chegou a minha vez/ Eu sou o Ahmed, meu caro amigo, resolvi me apresentar/ Cansei do anonimato, pois saiu barato todo esse tempo sem poder cumprimentar sequer um fã/ A cada vez que eu ouvia alguém passar, assoviando a minha melodia/ Vendida a preço vil pra quadrilha mafiosa da canção popular”.
Lei Rouanet
A canção surgiu no contexto das fake news. “Diziam que artistas mamavam nas tetas do governo, eram filhos da Lei Rouanet e não faziam nada. De repente, todo artista se tornou vagabundo e isso virou bordão dessa gente alucinada. Brincamos um pouco com isso”, comenta Martins.
A produção do álbum coube ao próprio Fred e a Suzano. Ele foi gravado no Rio de Janeiro e em Lisboa. Martins se mudou para a Europa há 14 anos – morou sete na Espanha e sete na capital portuguesa.
O compositor classifica como “sensação dramática” assistir ao discurso de ódio que se espalha pelo mundo. “Morando fora, pude observar como o recrudescimento da violência social se dá tanto lá como aqui. As músicas do disco foram nascendo dessa indignação. Muitas coisas nos deixam tristes, apavorados. Como o fato de pessoas aderirem facilmente ao preconceito. Coisas que há algum tempo eram posturas inconfessáveis já não são mais”, afirma.
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“Há todo tipo de canalhice”, desabafa Fred Martins. “O lixo histórico ligado ao fascismo, experiência europeia recente que agora começa a voltar, com grupos neonazistas na Alemanha e no Brasil, entre outros países, é uma coisa distópica. Na Europa, o preconceito contra estrangeiros, sejam brasileiros, africanos ou árabes, é capitalizado politicamente pela extrema direita”, observa.
Fred também repudia a perseguição religiosa no Brasil, “coisa impensável há 10 anos”. Nascido em Niterói, conta que sua música veio da umbanda. “E o Marcos Suzano também, com o batuque, o jongo do Rio de Janeiro que vai dar no samba, nos pontos de macumba.”
O novo álbum, segundo o compositor, “tem o pé na tradição preta e afro-brasileira para falar da realidade do Brasil”.
“BARBARIZANDO GERAL”
• Disco de Fred Martins e Marcos Suzano
• Biscoito Fino
• 10 faixas
• Lançamento nesta terça (15/10) nas plataformas digitais