Bong Joon-ho, que ganhou quatro Oscars com

Bong Joon-ho, que ganhou quatro Oscars com "Parasita", diz que o boom cultural é fruto dos "tempos dramáticos" vividos pelo país

crédito: Frederic J. Brown/AFP/9/2/2020

 

 

A Coreia do Sul ganhou vários Oscars. Séries sul-coreanas e grupos de K-pop são sucessos globais. A escritora Han Kang é a primeira mulher asiática a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura. Como este país asiático se tornou uma potência cultural?

 

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Na década de 1990, seriados de televisão e bandas de K-pop começaram a entrar nos mercados de países asiáticos como China e Japão, dando início à Hallyu, a onda cultural sul-coreana.

 

 

O lançamento em 2012 do sucesso global “Gangnam style”, do cantor Psy, consolidou esse fenômeno. Na década seguinte, garotos do grupo de K-pop BTS se tornaram superastros mundiais, conseguindo abrir espaço até em países de salsa como Cuba e monopolizando o mercado em toda a América Latina.

 

 

 


Em 2020, “Parasita”, dirigido por Bong Joon-ho, foi o primeiro longa não interpretado em inglês a ganhar o Oscar de Melhor Filme, além de mais três estatuetas, e “Round 6” se tornou a série em idioma diferente do inglês mais vista na Netflix.

 

 


As exportações culturais da Coreia do Sul totalizaram US$ 13,2 bilhões em 2022 (R$ 68,8 bilhões na cotação da época).

 


Mais do que eletrodomésticos ou veículos elétricos, a maior parte deste volume corresponde à indústria de jogos eletrônicos.

 

 

Até 2027, o governo pretende atingir US$ 25 bilhões (R$ 139 bilhões), com Europa e Oriente Médio na mira como novos mercados.

 

 

Escritora sul-coreana Han Kang está sentada em um banco à frente de casa com janela onde se vê cortina branca

Massacre de manifestantes pró-democracia inspirou livro de Han Kang, vencedora do Nobel deste ano

Nobel Prize/Lee Chunhee/Natur &Kultur/Instagram

 


Na opinião do diretor de “Parasita”, a chave do sucesso está no fato de os sul-coreanos terem vivido “tempos dramáticos”.


Após a guerra de 1950, que levou à separação do país em Coreia do Sul e Coreia do Norte, o sul-coreano viveu sob ditadura militar antes de experimentar boom econômico radical e a transição para a democracia.

 

A população viveu turbulências e experiências extremas. “Nossos filmes não podem ser diferentes”, explica o cineasta Bong Joon-ho.

 

 

A romancista Han Kang, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura anunciado na semana passada, transformou a história contemporânea de seu país em livros.

 

Massacre de Gwangju

 

Han revelou que foi uma experiência transformadora saber mais sobre o massacre de 1980 em sua cidade natal, Gwangju, onde militares reprimiram violentamente um protesto pró-democracia. O pai lhe mostrou fotos dos corpos, que inspiraram o livro “Atos humanos”.

 


Vários autores mergulharam no passado traumático do país, mas Han conseguiu “estabelecer uma estética literária própria e marcante”, analisa o crítico literário Oh Hyung-yup, acadêmico da Universidade da Coreia.

 


Em seus livros, Han Kang documentou “comportamentos que antes eram considerados passivos e lhes deu um significado totalmente novo”, diz o crítico literário coreano Kang Ji-hee.

 


Embora o governo tenha investido milhões para apoiar a indústria cultural, especialistas dizem que o boom sul-coreano ocorreu apesar, e não por causa, do papel do Estado.

 

 

"Lista negativa"

 

A ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura e o diretor de “Parasita”, por exemplo, fizeram parte da “lista negativa” durante o mandato da ex-presidente Park Geun-hye por criticarem o Executivo.

 


O sucesso das bandas de K-pop serviu de impulso para outros setores, pois os hábitos de leitura dos cantores impulsionaram as vendas da literatura sul-coreana.

 

O cineasta Bong aponta outra chave do sucesso: “Somos um país de viciados em trabalho. As pessoas trabalham demais e, ao mesmo tempo, bebemos demais. Então, todas as noites, nos entregamos a rodadas de bebida excessiva. É tudo muito extremo”, diz ele.