"O aprendiz" mostra Donald Trump no início de sua carreira em Nova York

crédito: Diamond Films/Divulgação

"O aprendiz" teve seu lançamento mundial na competição pela Palma de Ouro, no Festival de Cannes, em maio. O filme, que estreia nesta quinta (17/10) no Brasil, teve uma recepção calorosa, que se refletiu nos aplausos do público. A crítica elogiou a produção, e o burburinho sobre indicações ao Oscar ganhou força.

 

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A história da relação entre o jovem empresário Donald Trump, interpretado por Sebastian Stan, e o controverso advogado Roy Cohn, vivido por Jeremy Strong, estava prestes a decolar para o sucesso. Até que nada aconteceu.

 

 


Em vez de um leilão acirrado pelos direitos de distribuição nos Estados Unidos em pleno ano de eleições presidenciais com Trump na disputa, o filme foi rejeitado por todos os estúdios e serviços de streaming. Não demorou muito para o motivo aparecer.

 

 

 


A equipe do republicano enviou uma notificação extrajudicial aos produtores, acusando-os de "interferirem diretamente na eleição americana" e ameaçando processar qualquer empresa que comprasse "O aprendiz" para levá-lo às salas de cinema do país.


Chances arruinadas

 

"Ele [Trump] é uma pessoa muito litigiosa. Processa todo mundo há 40 anos. O que fizeram em Cannes foi arruinar nossas chances de distribuição", afirma o diretor iraniano-dinamarquês Ali Abbasi. "Assustaram todo mundo. Ninguém quis se envolver com o filme."

 

 

A produtora Kinematics, responsável por quase metade dos US$ 16 milhões do orçamento de "O aprendiz", pediu várias mudanças no corte final, principalmente relacionadas à cena em que Trump estupra sua primeira mulher, Ivana (Maria Bakalova). Os cineastas negaram os pedidos e se viram boicotados pelo próprio investidor, que ameaçou não permitir a distribuição do longa.

 


Mas por que um investidor impediria o lançamento do projeto que garantiria seu esperado retorno financeiro? Não é uma resposta difícil. A Kinematics é controlada por Mark H. Rapaport, que é casado com a filha de Daniel Snyder, bilionário dono do time Washington Commanders e um dos principais patrocinadores das campanhas de Trump.

 


"Ele [Snyder] viu o corte do filme e odiou", confirma Abbasi, que começou a trabalhar no projeto em 2018, depois que diretores como Paul Thomas Anderson e Clint Eastwood recusaram a oferta.

 


"Na última rodada de financiamento, Trump estava num péssimo momento, tinha acabado de perder a reeleição e todos riam dele. Era um fracassado, um palhaço. Ninguém imaginava que teria a oportunidade de concorrer de novo depois do que aconteceu em 6 de janeiro, na invasão do Capitólio. De repente, ele se tornou um perigo para os negócios."


 

Limbo


Com as pesquisas indicando uma eleição sem favoritos em novembro, "O aprendiz" ficou em um limbo. Mesmo com o mercado internacional garantido, a produção precisava assegurar os cinemas americanos para ter algum lucro. Em setembro, os produtores decidiram apelar para a plataforma de financiamento coletivo Kickstarter, para arrecadar US$ 100 mil e fazer uma distribuição limitada. O objetivo foi superado em menos de 24 horas.

 


Logo depois, Tom Ortenberg, que ajudou a lançar filmes politizados como "Fahrenheit 11 de Setembro" e "Spotlight", adquiriu os direitos de distribuição num acordo que levou meses de negociações e adiantamentos e que só vai gerar lucro caso o longa seja bem-sucedido nas bilheterias. E Trump ainda pode cumprir a ameaça de processar todos.

 


"Temos evidências para tudo que mostramos no filme, mas isso pode não ser o suficiente", diz o diretor. "Você pode ganhar um caso e perder tudo. Trump comprou seu caminho pelo sistema legal. Alguém pode jogar milhões de dólares numa firma de advocacia e nos ferrar."

 


Ironicamente, parte de "O aprendiz" humaniza Trump, ao mostrar o início da trajetória do político na Nova York da década de 1970, então um jovem e deslocado empresário disposto a passar por cima das regras para ser bem-sucedido.

 


"O objetivo era humanizar os personagens, porque precisamos de uma dramaturgia. Mas tem de ter cuidado com o julgamento da história, porque você não pode fazer um filme sobre Hitler em 1928 mostrando só que ele era um cara peculiar", diz Abbasi, aos votantes das premiações de Hollywood. "Ser justo é mostrar problemas e falhas, mas também sua inteligência." (Rodrigo Salem)

 

 


ONDE VER

“O aprendiz” estará em cartaz em Belo Horizonte a partir desta quinta-feira (17/10) nas seguintes salas: BH 7, às 12h30 (sab e dom), 15h20, 18h, 20h45 (leg); Boulevard 5, às 14h, 18h30, 21h (leg); Centro Cultural Unimed-BH Minas 1, às 18h10 (leg); Contagem 8, às 16h05, 18h35, 21h05 (dub); Del Rey 7, às 16h (leg), 18h35 (dub), 21h (leg); Diamond 2, às 14h55, 17h35, 20h20 (leg, exceto sab e dom), 12h20, 15h, 17h45, 20h30 (leg, apenas sab e dom); Minas Shopping 5, às 16h05, 21h05 (dub); Monte Carmo 2, às 18h40 (dub), 21h10 (leg); Pátio 5, às 13h20 (sab e dom), 16h, 18h50, 21h30 (leg); Ponteio 4, às 16h10, 18h40, 21h10 (leg); UNA Cine Belas Artes 1, às 18h10 (leg) e Belas Artes 3, às 15h20 (leg).

 


“O APRENDIZ”


(EUA, 2024, 122 min.). Direção: Ali Abbasi, com Sebastian Stan, Jeremy Strong e Maria Bakalova. Estreia nesta quinta-feira (17/10) no Brasil.