Xangai afirma ser arteiro, no sentido de artesão, e cantador -  (crédito: ASA Produções/Divulgação)

Xangai afirma ser arteiro, no sentido de artesão, e cantador

crédito: ASA Produções/Divulgação

 

 

Prestes a completar meio século de carreira, desde o lançamento de seu álbum de estreia, “Acontecivento” (1976), Xangai costuma dizer que não é artista nem cantor, e sim arteiro e cantador. “Arteiro no sentido de artesão, de quem burila sua arte com tato, e cantador porque canto de dentro pra fora, canto o que sinto”, afirma. Pois esse arteiro e cantador nascido no interior da Bahia aterrissa em Belo Horizonte para um show em que divide o palco da casa A Autêntica com o amigo Chico Lobo, neste sábado (19/10).

 

 


Os dois artistas se apresentam em sequência, a partir de 21h, com a promessa de canja de um no show do outro. “Já gravei com Chico e ele já gravou comigo, prestando um belíssimo serviço com a viola dele. Também já nos apresentamos ao vivo. Para esse show, ele se ofereceu para tocar umas cantigas juntos e eu aceitei com muito gosto”, diz.

 

 


Xangai se recorda de uma excursão que fez com Chico Lobo e com a dupla Pena Branca e Xavantinho. “É uma lembrança muito linda que guardo. Eu era muito amigo de Pena Branca e Xavantinho, assim como de Zé Mulato e Cassiano, que são, para mim, as melhores duplas, as que mais honraram e honram a música caipira no Brasil. Com Chico Lobo a amizade segue, temos muita afinidade, musical e pessoal”, afirma.

 


Xangai cita Tavinho Moura, Paulinho Pedra Azul, Saulo Laranjeira, Celso Adolfo, Titane, Pereira da Viola e Vander Lee (1966-2016) entre os amigos que fez em Minas. “Tenho uma ótima ligação com os músicos de Minas, é uma turma que faz parte do meu reconhecimento no meio. Também sou próximo de João Bosco, que é mineiro de nascimento, de Ponte Nova, mas costumo dizer pra ele que é filho de Clementina de Jesus com Jackson do Pandeiro, o que o tira um pouco do espectro da mineiridade.”

 

 


Sobre o que vai apresentar no show em BH, ele primeiro desconversa com um “não sei”, para depois dizer que sim, existe uma espinha dorsal, mas que a construção do repertório é muito livre e maleável, já que dispõe de uma obra vasta e não tem que se atrelar a nenhum trabalho específico. Xangai destaca que costuma atender a pedidos do público e que essa espinha dorsal de que fala são as músicas preferidas de seus fãs, como “Matança”, “Estampas Eucalol” e “Curvas do rio”.

 

 

O violeiro Chico Lobo

Chico Lobo faz show de lançamento do disco "Ao vivo na estrada"

Élcio Paraíso/Divulgação

 

 

Rios brasileiros

 

“Tenho muitas músicas falando dos rios brasileiros, das matas, das paisagens exuberantes do país. Faço, desde o início do meu trabalho de gravação, nos anos 1970, músicas abordando essa temática tão em voga hoje em dia, que é o descaso com o meio ambiente”, observa.

 


Xangai diz que sempre trafegou e ainda trafega no caminho inverso de uma porção de artistas que, em algum momento, ficaram à mercê do domínio das grandes gravadoras. “Minha experiência com a indústria fonográfica não foi agradável, porque ela sempre quer moldar, fazer da arte um produto que vai para a prateleira do supermercado. Meus discos todos foram produções independentes ou saíram pela Kuarup, uma gravadora que sempre preservou a qualidade e garantiu a liberdade do artista”, afirma.

 

 

 


Ele pondera que nunca encheu estádios sozinho (o projeto “Cantoria”, que integrou ao lado de Elomar, Vital Farias e Geraldo Azevedo e que rendeu dois álbuns, em 1984 e 1988, alcançou grande sucesso popular), mas, por outro lado, também nunca deixou de cantar em teatros para um público fiel. “Tenho um público que tem poder de escolha, não é alienado; gente que gosta de mim e de uns outros tantos artistas que também optaram por essa tomada de atitude”, diz.

 


A postura que ele adota frente à música que é oferecida e consumida massivamente é crítica e contundente. “Ligue a rádio ou ligue a TV, o que eles têm para apresentar é uma porcaria, 90% não me agrada. Imagino que exista um interesse maléfico por trás dessas emissoras, que pertencem a pessoas que não querem a educação do nosso povo. É como se fosse uma espécie de bancada 'curralista', que quer deixar o povo no curral”, aponta.


Melhor momento

 

Reconhecendo o paradoxo, ele, no entanto, não hesita em dizer que a música brasileira está em seu melhor momento. “Já tive a oportunidade de visitar todo o país, conheço todos os estados brasileiros, e em todo lugar que chego, naquela roça pequenininha, naquele distrito do interior do Acre, no Rio Grande do Sul, sempre tem gente fazendo música bonita, gente que, em se tratando de fazer arte, não é encabrestada. Digo que a música brasileira está em seu melhor momento porque ela não parou”, salienta.

 


Depois do álbum de estreia, que trazia músicas como “Asa branca”, “Forró de surubim” e “Esta mata serenou”, Xangai já gravou mais de 20 discos de grande destaque no cenário da música regional nordestina. Seu repertório conjuga gêneros de raiz popular, como xote, baião, forró, coco, repente, canções românticas, óperas e árias sertanejas. Ao longo da carreira, estabeleceu parcerias com Geraldo Azevedo, Renato Teixeira, Elomar, Vital Farias e Juraildes da Cruz, entre outros.


Lançamento de disco

 

O show que Chico Lobo apresenta neste sábado (19/10) em BH marca o lançamento do álbum “Ao vivo na estrada”, que transporta o público para um ambiente de festa, de mutirão, conduzido pela viola caipira, típico das comunidades rurais do Brasil profundo. O repertório repassa os mais de 40 anos de trajetória do cantor e violeiro, por meio de composições próprias e temas do cancioneiro brasileiro, e inclui folias, repentes, modas, toques instrumentais, cantigas de boi e toadas. Chico estará acompanhado por Marcelo Fonseca (violino e vocal) e Ricardo Gomes (baixo e vocal).

 


XANGAI E CHICO LOBO


Shows neste sábado (19/10), a partir das 21h, n’A Autêntica (Rua Álvares Maciel, 312, Santa Efigênia). Ingressos com preços variando de R$ 70 a R$ 140, a depender do lote e da localização, à venda pelo Sympla e na bilheteria da casa.