Dirigido por Cao Guimarães e Makely Ka, o filme terá sessão comentada pelos cineastas, hoje, no Centro Cultural Unimed-BH Minas  -  (crédito: Cinco em Ponto/Divulgação)

Dirigido por Cao Guimarães e Makely Ka, o filme terá sessão comentada pelos cineastas, hoje, no Centro Cultural Unimed-BH Minas

crédito: Cinco em Ponto/Divulgação

 


Fazer filme sem roteiro é andar de mãos dadas com o acaso. “As coisas vão acontecendo... Essa é a melhor forma de fazer cinema”, afirma o cineasta e artista visual Cao Guimarães. “Santino”, seu novo documentário, com lançamento nesta quinta-feira (24/10), nos cines UNA Belas Artes e Centro Cultural Unimed-BH Minas (este com sessão comentada nesta noite), nasceu precisamente dessa maneira.

 


Santino Lopes Araújo é um veredeiro que vive na bacia do Rio São Francisco, município de Bonito de Minas, Norte do Estado. Regiões próximas ao local onde ele mora estão completamente secas. Enquanto isso, em seu quintal, a Vereda Água Doce está totalmente conservada. Tudo graças a ele, que construiu, com as próprias mãos, pequenas barraginhas – a gambiarra lhe garante água o ano inteiro.

 

 

 


O viés preservacionista é apenas um lado de Santino, um homem casado, pai de três filhas, que é também místico. Cao Guimarães o descobriu por obra do cantor e compositor Makely Ka, autor do argumento e codiretor do filme.

 

 

 


A história é longa. Em 2012, Makely partiu, de bicicleta, para os rincões de Minas. Queria conhecer os lugares descritos por Guimarães Rosa em “Grande sertão: Veredas”. Foram três meses nesta imersão. Cao, um apaixonado por Guimarães e pelo sertão, sempre se interessou por personagens de cunho roseano.


Sem celular

 

No meio da pandemia, segundo conta, ele conseguiu verba para fazer um filme. “Tínhamos várias ideias, mas nada muito fechado. O que sabíamos é que seria em alguma região do sertão, lugares onde até há pouco tempo não havia luz, onde o nível de oralidade é grande. Queria personagens que têm outra existência, sem celular, televisão.”

 


Em agosto de 2022, Cao foi a campo com uma equipe mínima – Makely, o produtor Beto Magalhães, Damiana Campos, moradora da região que trabalhou também na produção do longa, e Marcos “Canário” Moreira, do duo O Grivo.

 

 

“A gente estava na região do Rio Carinhanha, que divide os estados da Bahia e Minas Gerais, já com a pesquisa feita, vendo quais personagens seriam possíveis. O Makely se lembrou do Santino (que tinha conhecido uma década antes) e resolvemos passar lá”, conta Cao.

 


Chegaram para uma conversa sem nenhuma pretensão e “as coisas foram acontecendo misteriosamente”, diz o diretor. “Por isto o meu fascínio, pois é a realidade que vai te entregando o roteiro. Achei o Santino muito interessante, um cara que tem um ativismo muito forte com a terra, que conhece muito dos usos medicinais, transmite sabedoria. Para além disso, ele tem uma relação com o mundo espiritual muito louca, tem algum plano que o orienta.”

 

Contradição

 

Foram alguns dias com este personagem que definiram o filme que ele iria fazer. “O que existe de fundamental para qualquer dramaturgia é a contradição, a dúvida. E ele tem uma relação contraditória com o mundo real, e o outro plano”, continua.

 


Para Cao, quando se faz um filme em cima de um personagem, metade dele vem da própria qualidade expressiva da pessoa em questão. “Como o Dominguinhos de ‘A alma do osso’ (de 2004, sobre Domingos Albino Ferreira, homem que viveu sozinho por quatro décadas em cavernas de Minas Gerais), ali existe uma força, uma humanidade que vai preencher o filme.”

 


O longa começa num cemitério, em que Santino fala sobre morte e vida, e também sobre os tais planos que o regem. A câmera o acompanha em casa, com a família, caminhando na vereda, explicando o poder medicinal das plantas, conversando com os pássaros, mostrando como ele salvou a água da região.

 


“Não tem muito método, tem a intuição de fotógrafo e o fato de ter feito vários filmes. Vou tentando cercar o entorno do personagem de todos os lados, geralmente de forma discreta. É um cinema contemplativo, mas que tem uma atuação. Eu pergunto coisas, sugiro ações”, acrescenta.

 

 


“Santino” foi um filme de realização rápida, aproximadamente 20 dias de filmagem. Seu lançamento comercial, neste ano em que Minas Gerais somou, até setembro, 24 mil incêndios, ganha outra conotação.

 


“É um filme muito urgente, pois mostra o exemplo de uma vida inteira de alguém que é um defensor, de fato, do bioma do cerrado. Santino tem muita riqueza cultural, mesmo que não tenha sido educado em universidade. Tem o aprendizado do cerrado, da universidade da vida”, comenta o diretor.

 

 

Trilha sonora

 

Além de fazer a codireção de “Santino”, Makely Ka também assina duas músicas da trilha do filme. A canção “Itinerário Tatarana” ganhou novo arranjo de O Grivo, aqui cantada por Marcos Moreira. Inspirado na história de “Santino”, Makely compôs a instrumental “Na viela de roda”.

 

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“SANTINO”


(Brasil, 2023, 88 min.). Direção: Cao Guimarães. O filme terá lançamento nesta quinta-feira (24/10), com sessão às 20h30, nas duas salas do Centro Cultural Unimed-BH Minas, seguida de bate-papo com o diretor, o músico Makely Ka e a crítica Helena Elias. No mesmo cinema, será exibido na terça (29/10), às 20h20. Também estreia no UNA Cine Belas Artes (Sala 1, 17h30).