Os imóveis abordados pelo projeto são das décadas de 1930 e 1940 e situam-se em 15 bairros da cidade, como o Floresta -  (crédito: Alexandre Rezende/Divulgação)

Os imóveis abordados pelo projeto são das décadas de 1930 e 1940 e situam-se em 15 bairros da cidade, como o Floresta

crédito: Alexandre Rezende/Divulgação

 


Círculos, linhas, triângulos e quadrados destacam-se em fachadas pintadas, algumas delas coloridas, de casas dos eixos Leste e Oeste de Belo Horizonte. “É uma gramática muito disciplinada, com poucos elementos geométricos”, diz a artista gráfica Fernanda Goulart, a respeito do casario presente em 15 bairros, a maior parte deles das regiões Leste e Noroeste.

 

 


Com lançamento neste sábado (26/10), no Mercado da Lagoinha, o livro “Beagá Decô – Patrimônio gráfico da cidade ao papel” revela parte da história do art déco na cidade. Pesquisando o tema desde seu doutorado, que rendeu o livro “Urbano ornamento: Um inventário de grandes ornamentais em Belo Horizonte” (2014), Fernanda busca, neste projeto, jogar luz sobre casas e sobrados, fugindo das edificações do estilo mais conhecidas da capital (Prefeitura e Cine Theatro Brasil Vallourec entre eles).

 

 

 

Livro é uma forma de falar, pois “Beagá Decô” reúne 10 plaquetes que exploram o tema por diferentes vias: textos (das pesquisadoras Beatriz Magalhães, Michele Arroyo e Yana Tamayo), fotos, cores, elementos gráficos, entrevistas e até mesmo um mapa, que apresenta a sugestão de roteiro para conhecer, a pé, muitas das edificações. Neste caminho, que ela chamou de “Cartografia decorativa”, foram incluídos imóveis para além das casas, incluindo antigos cinemas, colégios e edifícios.


Metrô

 

Sobre as casas especificamente, o recorte feito pela autora vai do bairro Santa Efigênia até o Calafate, “justamente onde passa o metrô”, ela diz. O inventário foi realizado a pé, entre 2017 e 2018. Foram encontrados 700 imóveis. “Inventários urbanos nos fazem atentar que a gente conhece a cidade pelas pernas. Ao passar de carro, não se vivencia a cidade, não se presta atenção aos detalhes”, diz Fernanda.

 

 

Casa antiga de BH pintada de azul

Uma das características das casas do estilo art déco é terem alinhamento na rua, sem recuo

Alexandre Rezende/divulgação

 


Os imóveis que compõem o projeto são das décadas de 1930 e 1940. “As fachadas não são de um momento da arquitetura pré-fabricada, são desenhos feitos no molde”, afirma Fernanda. Em comum, além dos traços art déco, são casas com alinhamento na rua, sem recuo.

 


Para o lançamento do livro, Fernanda retomou, neste ano, o percurso. Queria encontrar as pessoas que vivem e trabalham nessas casas. “No começo, pensei só no comércio, pois em tempos de e-commerce, queria encontrar as arquiteturas que resistem e suas funções. Mas percebi que muita gente morava no lugar que trabalhava também. Desta maneira, cheguei às 15 entrevistas (10 com comerciantes e cinco com moradores). Foi uma forma de tentar fazer o retrato possível de quem está ali hoje.”

 

 


Encontrou pessoas como a comerciante Cristiane Sena dos Santos, que está à frente do Cemitério dos Azulejos, no Carlos Prates. “Numa avenida comercial, ninguém repara muito. Tem que ter um amor no olhar para enxergar isso”, disse ela sobre a casa alugada na Avenida Pedro II, de fachada azul. Já Maria Lúcia da Silva, que está à frente da Cantina da Lúcia, na Lagoinha, comentou que “se fosse construir uma casa hoje, construiria com esse mesmo estilo”.

 

 


Mesmo que o inventário tenha sido realizado sete anos atrás, Fernanda, ao retomar, mais recentemente, o percurso, teve uma percepção positiva. “A sensação que tenho é de que as casas (nas regiões em que ela trabalhou) estão desaparecendo mais lentamente. Também me chamou a atenção que existem mais comerciantes. São casas que dizem de um momento em que a cidade cresceu tanto, e a cada saída aparece uma nova. Claro que é importante dizer que o inventário foca em uma arquitetura não tombada que corre o risco de desaparecer.”

 

 

Casa antiga de BH pintada de verde

A autora do livro entrevistou moradores e comerciantes que seguem ocupando os imóveis inventariados

Alexandre Rezende/divulgação

 


A edição digital do projeto não ficou pronta para o lançamento deste sábado. Mas Fernanda afirma que, em breve, “Beagá decô” terá sua versão em e-book, com audiodescrição.

 


Também neste sábado, a artista gráfica, atualmente professora de Desenho na Escola Belas Artes da UFMG, vai lançar o projeto, “A cidade e sua lírica geometria decorativa”. Fruto de seu pós-doutorado, realizado em 2022, a obra é uma caixa com tiragem artesanal que reúne impressos e experimentações em torno do art déco em Belo Horizonte.

 

Foto do livro "Beagá Decô: Patrimônio gráfico da cidade ao papel" e da caixa "A cidade e sua lírica: Geometria decorativa", de Fernanda Goulart

Livro "Beagá Decô: Patrimônio gráfico da cidade ao papel" e caixa "A cidade e sua lírica: Geometria decorativa", de Fernanda Goulart

Alexandre Rezende/divulgação
 


“BEAGÁ DECÔ”


De Fernanda Goulart. Lançamento neste sábado (26/10), a partir das 10h, no Mercado da Lagoinha (Avenida Antônio Carlos, 821, Lagoinha). No local, o livro será vendido a R$ 60. A caixa “A cidade e sua lírica geometria decorativa” será vendida a R$ 170.