Pode-se dizer que é um verdadeiro “trem de doido” – talvez uma “insensatez” ou “pura loucura”. Fato é que Belo Horizonte vai receber a partir desta quarta-feira (30/10) a primeira edição do Festival de Música Doida, evento que seguirá em cartaz na Funarte MG até sexta-feira (1º/11), com programação composta exclusivamente por artistas com algum transtorno psíquico.
Ainda que as expressões citadas no início do texto soem ofensivas, o leitor não deve se deixar enganar. “Nosso objetivo é valorizar artistas que vivenciam sofrimento mental e, ao mesmo tempo, ressignificar termos que, no passado, foram usados com tom de deboche e ironia”, explica o multiartista e idealizador do festival, Babilak Bah.
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“Ter um diagnóstico de transtorno mental não deve ser motivo de vergonha ou diminuição”, acrescenta ele, que atua há mais de duas décadas em serviços públicos de saúde mental em Belo Horizonte, como os Centros de Convivência e o Centro de Referência em Saúde Mental Álcool e Drogas (Cersam AD). Em 2021, Babilak lançou o livro “Uma clínica de instantes inusitados”, baseado em sua experiência com arte-educação na área da saúde mental.
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O Festival de Música Doida, por sua vez, é uma extensão do livro, um meio de Babilak dar protagonismo aos chamados “usuários” dos serviços de saúde mental – dessa vez, colocando em destaque suas produções artísticas.
Frevo, samba, soul e reggae
Ao longo dos três dias de evento, as atrações perpassam os mais diversos segmentos, traçando um caleidoscópio musical que transita pelo frevo, samba, soul, reggae, ijexá e experimentações sonoras. Entre as atrações, estão a Banda Piraboa e o grupo vocal Vozes Fora da Caixa, formado nas oficinas do Centro de Convivência Marcus Matraga, em Venda Nova; além dos blocos de carnaval Sem Prisões e Sem Manicômios, Bloco do Trem Tan Tan (do qual Babilak faz parte) e Maluco Beleza.
Entre os artistas solo, destacam-se o compositor carioca OSB (Orlando dos Santos Baptista), do grupo Cancioneiro do IPUB-RJ; Juliano, o Batman; e as mineiras Lídia Ramos, Viviane de Cássia Ferreira, Raissa Cordilira e Silvia Vilarejo.
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“Tenho feito um levantamento de artistas com sofrimento mental em várias partes do país. Já temos cadastrados de oito estados”, revela Babilak, explicando que esse mapeamento foi essencial para a concepção da programação.
O festival também exibirá os filmes “18 de maio – O melhor de todos os tempos”, de Paulo Azevedo (quinta-feira, às 15h); e “Retratos incandescentes”, de Viviane de Cássia Ferreira (sexta-feira, às 14h).
“Além de desmistificar muitas percepções sobre quem vive com sofrimento mental, queremos oferecer um respiro cultural à cidade”, reflete Babilak. “Quem sabe, assim, a população passe a enxergar e pensar de forma diferente. E, principalmente, a valorizar o que é diferente”, conclui.
FESTIVAL DE MÚSICA DOIDA
Primeira edição. Apresentações de artistas autorais e exibições de filmes desta quarta-feira (31/10) a sexta-feira (1º/11), das 14h às 18h, na Funarte (Rua Januária, 68 – Centro). Entrada gratuita. Informações: festivaldemusicadoida.com.br.
PROGRAMAÇÃO
Quarta-feira (30/1)
. Área Externa (14h às 18h): Suricato – Associação de trabalho e produção solidária – Quitutes e afins
. Galpão 1:
15h: A loucutora em cena – Andrea Dário, Banda Piraboa – CCOeste e Barreiro, Mostra de compositores(as) e Grupo vocal Vozes Fora da Caixa – CCMM
. Galpão 2:
17h: Palavra aberta – Canto livre
14h às 18h: Suricato – Bazar
Quinta-feira (31/10)
. Área Externa (14h às 18h): Suricato – Quitutes e afins
. Galpão 2:
15h: Sessão de vídeo: “18 de maio – O melhor de todos os tempos” – Paulo Azevedo e Palavra aberta – Canto livre
. Galpão 1:
16h30: OSB – Orlando Baptista – Cancioneiros do IPUB-RJ
17h: Trem Tan Tan
18h: Intervenções de blocos
Sexta-feira (1º/11)
. Galpão 1:
14h: Sessão de vídeo: “Retratos incandescentes” – Viviane de Cássia Ferreira
15h: Roda de conversa: Canto coletivo: rumos da cartografia – Participação dos blocos: Sem prisões e Sem Manicômios, Maluco Beleza e Trem Tan Tan