Francisco Solano Aniceto (1886-1972), mais conhecido como Chico Aniceto, foi importante maestro e compositor mineiro. Natural de Piranga, na Zona da Mata, o maestro reuniu em vida um acervo de centenas de partituras do período colonial. Além de fragmentos de peças dos séculos 17, 18 e 19, Aniceto possuía 702 obras completas do mesmo período.
Após sua morte, as filhas de Aniceto repassaram o acervo do pai para a Escola de Música da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), onde o professor Domingos Sávio Lins Brandão teve acesso ao material. Com o objetivo de resgatar as canções inéditas do período, uma parceria foi firmada entre a universidade e o Coral Cidade dos Profetas, grupo especializado na interpretação de obras sacras antigas sediado em Congonhas.
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“As partituras de Chico Aniceto, preservadas com todos os detalhes das canções, são um patrimônio material importantíssimo, mas se não convertidas em música, permanecem eternamente caladas”, comenta o maestro do coral, José Herculano Amâncio. “Quando transformamos as partituras em som, a obra ganha vida, cada nota performando uma melodia morta há 200 anos. Executar as obras foi muito gratificante para todos os membros do coral.”
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Além das sete peças selecionadas pelo professor Domingos Brandão, outras três obras, “O Lingua Benedicta” e “Beata es, Virgo Maria”, do Padre João de Deus, e “Invitatorium A4”, de Francisco Gomes, do acervo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), compõem o álbum “Coral Cidade dos Profetas interpreta obras inéditas do período colonial”, já disponível nas plataformas digitais.
Em comemoração ao lançamento, o coral apresentará todo o repertório do disco nesta terça-feira (29/10), na Basílica do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, na Região Central de Minas.
Barroco e rococó
“O período colonial é marcado pela música sacra, uma vez que a Igreja católica financiava a produção musical através das irmandades que administravam a instituição”, explica José Herculano. “Em festas religiosas, a Igreja encomendava os serviços do mestre de capela, que compunha obras para uma variedade de cerimônias, como novenas, tríduos e missas festivas.”
Figura comum no Brasil colonial, o mestre de capela não apenas compunha as músicas utilizadas em cerimônias religiosas, como também era o responsável por contratar o coro e a orquestra que interpretariam as partituras para cada evento da Igreja.
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Ainda sobre as composições da época, o maestro conta que a música produzida no Brasil tinha origem no estilo artístico europeu em vigência. O período colonial, que se estendeu da chegada dos portugueses em 1500 até a proclamação da Independência, em 1822, coincidiu com os movimentos barroco e rococó, caracterizados pelo dramatismo e expressividade.
“O barroco, por exemplo, aconteceu não apenas na arquitetura, mas também nas artes plásticas, na literatura e na música. Era marcado pela atenção aos detalhes e à ornamentação”, diz Amâncio.
O maestro do Coral Cidade dos Poetas reforça ainda a importância de não só interpretar as obras restauradas e inéditas ao vivo, mas disponibilizá-las em plataformas on-line. De acordo com ele, as composições agora podem “ser difundidas e interpretadas por outras pessoas”.
“CORAL CIDADE DOS PROFETAS INTERPRETA OBRAS INÉDITAS DO PERÍODO COLONIAL”
Com Coral Cidade dos Profetas, sob a regência do maestro José Herculano Amâncio. Nesta terça (29/10), às 20h, na Basílica do Senhor Bom Jesus de Matosinhos (Praça do Santuário, 180), em Congonhas. Entrada gratuita.
* Estagiária sob supervisão da subeditora Tetê Monteiro