Gilda Vaz, uma das organizadoras do livro, diz que a escolha do tema desilusão é um reflexo da vivência das autoras no consultório

 -  (crédito: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)

Gilda Vaz, uma das organizadoras do livro, diz que a escolha do tema desilusão é um reflexo da vivência das autoras no consultório

crédito: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press

 

 


O lançamento do livro “Da desilusão”, que reúne textos de diversas psicanalistas, nesta quinta-feira (31/10), no Centro Cultural Unimed-BH Minas, das 19h às 21h, fecha uma trilogia não planejada, cujas duas primeiras partes são as obras “Da solidão” (2018) e “Da diferença” (2021). Ambas foram organizadas por Ana Maria Portugal, Gilda Vaz e Maria Auxiliadora Bahia. Em “Da desilusão”, juntou-se ao trio Regina Beatriz Simões.

 

 


Além das organizadoras, participam da publicação as psicanalistas Ana Lúcia Bahia, Carla Derzi, Cidléa Barbosa, Regina Pachêco, Regina Teixeira da Costa, Rosely Gazire Melgaço e Thaïs Gontijo. O livro conta, dessa forma, com 11 artigos que propõem diferentes abordagens sobre o tema da desilusão.

 

 

Além do prefácio de Jacques Fux, “Da desilusão” tem texto de orelha assinado pelo psicanalista Fábio Borges e posfácio da também psicanalista Márcia Rosa.

 


Gilda Vaz explica que esse mesmo grupo, com eventuais baixas e adesões, já lançou muitos livros antes dessa trilogia. “Fizemos o 'Da solidão' sem sabermos ainda que escreveríamos sobre a diferença e, agora, sobre a desilusão”, diz, pontuando que os dois primeiros saíram pela editora Quixote+Do e o último pela Conceito Editorial.

 


As autoras que assinam textos em “Da desilusão” foram convidadas pelas organizadoras, e a escolha das abordagens ficou a cargo de cada uma, de acordo com Gilda. Essa soltura foi possível, ela diz, justamente pelo fato de serem todas colegas e todas muito experientes.

 

“Foi muito livre mesmo, não definimos o que cada uma ia escrever. Depois, com os artigos prontos, é que fomos tentando articular uns com os outros”, destaca.

 

A psicanalista diz que as escolhas dos temas tratados na trilogia foram orientadas pela própria vivência das organizadoras e, de modo geral, de quem exerce a psicanálise.

 

 

“A própria experiência clínica e também os fatos que vamos observando é que nos norteiam. São os problemas mais presentes e mais frequentes nas sessões de análise. A solidão, a diferença e a desilusão são mencionadas com muita repetição. Além disso, nós, analistas, mesmo quando não estamos no consultório, estamos captando o que está acontecendo com as pessoas”, ressalta. Sobre a desilusão, ela considera que seja um fenômeno muito característico da contemporaneidade.

 

Mundo em guerra

 

Gilda diz que essa desilusão é, sobretudo, com o próprio ser humano, o que passa pela persistência das guerras e por questões políticas. “É como se aqueles ideais que marcaram o iluminismo – que conseguiríamos, como seres humanos, algo muito sublime – tivessem naufragado diante da violência, da guerra, de coisas que achamos que já teríamos superado. Isso tudo continua aí, de forma exacerbada. Temos ouvido relatos de desesperança com relação ao funcionamento da humanidade”, diz.

 


Ela observa, contudo, que para a psicanálise a desilusão é um operador. “A ilusão também não é uma coisa boa. Enquanto o sujeito está aprisionado a uma ilusão, ele não tem que se haver com o real e, de repente, o que estamos vendo é o real do ser humano. Soluções para o problema ou novas formas de agir e pensar só vão surgir se encaramos a realidade como ela se apresenta. A desilusão é um encontro com o real. Criamos ilusões para não termos que nos haver com isso”, diz.

 


Freud e Lacan

 

Gilda Vaz destaca que alguns dos textos reunidos em “Da desilusão” se apoiam tanto em Freud quanto em Lacan. O primeiro, ela recorda, tem um texto muito conhecido chamado “O futuro de uma ilusão”, em que trata de religião.

 

“É como se ele previsse o que poderia acontecer. Para Freud, a religião era uma ilusão. Trabalhamos muito com Lacan também, mas para ele a religião não era uma ilusão, e sim um ponto de ancoragem que cada um tem que ter. Ele usa os termos 'religio' e 'religar' para se referir a algo que nos liga a uma marca fundadora e que cada um interpreta de uma forma – uns chamam de Deus. A própria filosofia foi trazendo uma certa desilusão com relação à imagem de Deus”, diz.


“DA DESILUSÃO”


• Organizadoras: Ana Maria Portugal, Gilda Vaz, Maria Auxiliadora Bahia e Regina Beatriz Simões


• Lançamento nesta quinta-feira (31/10), das 19h às 21h, no Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244 – Lourdes)