A série argentina "Invejosa" é o mais novo fenômeno da Netflix. Lançada em setembro, já figura como top 1 entre as séries mais vistas da plataforma. Com 12 episódios, a comédia dramática dirigida por Gabriel Medina e roteirizada por Carolina Aguirre tem conquistado fãs graças ao seu humor inteligente e à sua sensibilidade.

 

 

A trama acompanha Vicky (Griselda Siciliani), uma mulher de quase 40 anos que não consegue celebrar as conquistas das pessoas à sua volta, a menos que ela esteja em uma posição superior.
Logo na primeira cena, ao chegar em casa, Vicky se depara com uma jovem se alongando em frente ao prédio. Quando ambas entram no salão, percebem que o elevador está em manutenção e apenas uma pessoa poderá usá-lo.

 




A jovem sugere, gentilmente, que Vicky suba pelo elevador, enquanto ela mesma vai pelas escadas. Irritada com a oferta, a protagonista, mesmo de salto e roupa formal, decide correr pelos seis andares, determinada a vencer a "competição" que criou contra a desconhecida.

 

Competitiva

O espectador está, assim, apresentado à protagonista, que não consegue se desvencilhar de seu comportamento invejoso e competitivo, mesmo quando estas características entram em claro desacordo com seu bem-estar e seus interesses. Ou seja, a inveja é uma… fria para Vicky.

 


Ao longo dos episódios, movida por esse comportamento, ela será capaz de invadir a casa de seu ex-namorado, viajar de um país para outro apenas para um encontro e fingir um relacionamento para estar acompanhada em casamentos. As cenas são, ao mesmo tempo, cômicas e constrangedoras.

 


Além de um roteiro afiado, a atuação expressiva de Griselda Siciliani eleva a personagem, transmitindo suas emoções, muitas vezes sem precisar de falas. A montagem também é parte essencial para o tempo da comédia, como exemplificam as transições entre os diálogos da personagem com seu chefe e amante, Nicolás (Benjamín Vicuña), e os momentos esquisitos dos dois após o sexo.

 


Embora a comicidade e o comportamento absurdo de Vicky sejam interessantes, a série ganha em densidade ao explorar a complexidade emocional da personagem, o que facilita a identificação do público.
Abandonada pelo pai na infância e tendo terminado um relacionamento de 10 anos com Daniel (Martín Garabal), que se casou com uma jovem brasileira apenas 20 dias após conhecê-la, Vicky carrega feridas que influenciam suas atitudes.

 

Terapia

A introdução de uma terapeuta na vida da personagem é uma escolha inteligente do roteiro, que torna possível abordar esses assuntos e conhecer suas emoções internas. Por meio dos diálogos entre Vicky e a psicóloga Fernanda (Lorena Vega), muitas vezes hilários, a protagonista compreende a origem de sua inveja, a forma como ela afeta sua vida e, principalmente, questiona seu desejo obsessivo de se casar, ao perceber que o matrimônio, por si só, não é garantia de felicidade.

 

Siga nosso canal no WhatsApp e receba em primeira mão notícias relevantes para o seu dia

 

A terapia também explora o impacto da inveja nas relações de Vicky, com o vizinho Matías (o único homem que realmente a trata bem, mas que ela não enxerga como um parceiro ideal), suas amigas (que estão cansadas de esconder suas conquistas para não provocar ciúmes) e sua família. A dinâmica da relação da personagem com a mãe e a irmã é marcada pelo abandono paterno, mas ganha nuances a cada episódio, mostrando o esforço de cada uma em compreender as vivências da outra.


Com o destaque para a experiência das mulheres e incorporando personagens masculinos apenas como interesses amorosos, “Invejosa” consegue abordar com honestidade, e certa cumplicidade, as diferentes aspirações femininas e o problema da idealização. O sucesso crescente da série talvez esteja precisamente na escolha de retratar essas questões de maneira autêntica, preenchendo uma lacuna em produções que dialogam diretamente com o público feminino. 


“INVEJOSA”
Série argentina em 12 episódios, disponível na Netflix.

 

*Estagiária sob supervisão da editora Silvana Arantes

compartilhe