Partimpim já tem 20 anos. Mas a idade está nos outros, não nela. Tanto que cabe de tudo em seu repertório. Uma antiga versão dos Beatles, abrasileirada como ela só. A lenda que ganha uma porção autoral, marcando parceria de Marisa Monte com seu primogênito, Mano Wladimir. Até o clássico um tanto esquecido de Rita Lee.

 

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Adriana Calcanhotto fala de Partimpim – heterônimo nascido do apelido com que o pai, Carlos Calcanhoto, a chama desde a infância – na terceira pessoa.

 



 

“Ela a ouve como uma canção infantil, que está dizendo para as crianças que o mundo é dos que sonham, que toda lenda é pura verdade. Isso é muito mais legal de dizer para as crianças do que para os adultos, que já não ouvem isso desse jeito”, diz ela sobre “Atlântida” (1981), canção de Rita e Roberto de Carvalho, um dos achados de “O quarto”, álbum de Partimpim com lançamento hoje (10/10), nas plataformas digitais.

 

O título se refere tanto à produção de Partimpim – este é o álbum número quatro do projeto para crianças, nascido em 2004 com o disco “Adriana Partimpim” – quanto à faixa de abertura, “O meu quarto”. A canção autoral é uma carta de intenções, em que a cantora convoca a todos para “cantar juntos/ inventar o mundo/ ser cor, música e poesia”.

 

 

 Efeméride e desejo

 

Lançar mais um álbum de Partimpim vem em decorrência da efeméride, mas também do desejo. “Não sei dizer o que me move. Mas a ideia, desde o começo, foi essa: fazer de vez em quando, quando tenho repertório e oportunidade”, afirma.

 

Desta vez, ela convocou para o projeto Pretinho da Serrinha, que assina a produção. “A gente tem muito em comum na maneira de entender cruzamentos dos ritmos, as claves, os acentos, é uma coisa musical. Quando ouvi o disco ‘Xande canta Caetano’ (2023, de Xande de Pilares, produzido por Pretinho), achei uma coisa nova. Fiquei viciada, chamei o Pretinho para conversar. Ele me explicou como o disco do Xande foi feito e tudo me pareceu ainda mais simples, ágil, espontâneo. É muito legal vê-lo trabalhando.”

 

A cada nova produção de Partimpim, Adriana faz uma lista grande de músicas, dela e dos outros, que gostaria de cantar. “Atlântida”, aqui em versão reggae (com direito ao “chuá, chuá” na abertura que é uma delícia de ouvir), era uma canção que ela via há tempos com potencial para o projeto infantil.

 

Foi também Rita Lee quem lhe apresentou outro destaque do repertório. Adriana ouviu em um show dela “O bode e a cabra”, versão divertida de Renato Barros (do Renato e seus Blue Caps) para “I want to hold your hand”, da fase inicial dos Beatles.

 

“Ela nunca gravou em disco. Lembro que conversei com a Rita, ela reclamando que não tinha autorização da Yoko (Ono) para a versão. Então, achei que era isso, não tinha autorização para gravar em disco, seria complicado. Só que depois me mandaram as gravações da Jovem Guarda, de quando a versão foi feita. E o versionista é o Renato Barros. Uma vez que alguém gravou a versão, está autorizado, você pode gravar de novo.”

 

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“Boitatá”, composta por Marisa, Mano Wladimir e Arnaldo Antunes, é de alguns anos atrás. “A Marisa me mostrou a gravação pelo telefone e eu falei: ‘Isso é totalmente Partimpim, me dá essa canção’”, conta Adriana. Quando decidiu gravar, os autores formataram a música, mantendo as vozes de Mano. Adriana pediu para Arnaldo fazer alguma intervenção. “O que você quer que eu faça?”, ele perguntou. “Não sei, você que é autor da música. Faça um boitatá com medo da Marisa Monte”, ela respondeu. E assim ficou.

 

Adriana termina o álbum com uma canção de Vitor Ramil, “Estrela, estrela”, que ganhou, para ela, outra conotação. “Ela não estava na lista (das músicas que poderiam estar no repertório), mas fui ao ‘Altas horas’ (em maio) cantá-la em um programa por causa das chuvas no Rio Grande do Sul”, comenta.

 

Comoção gaúcha

 

De acordo com ela, “Estrela, estrela” cala fundo aos gaúchos (“Eu canto, eu canto/ Por poder te ver/ No céu, no céu/ Como um balão”). “Isso em condições normais. Só que naquela situação, foi uma loucura. Depois do programa, meu irmão e muitas pessoas disseram que eu tinha de gravar. Fiquei contente, porque o disco foi atravessado por esse momento.”

 

 

 


Mesmo com o álbum saindo agora, somente em 2025 “O quarto” chegará aos palcos. O repertório será a combinação dos quatro discos. “A demanda para a Partimpim é muito maior.” Mas tudo virá a seu tempo. No início do ano, Adriana vai para Coimbra. Ela tem uma relação próxima com a tradicional universidade portuguesa, onde já ministrou alguns cursos.

 


“O QUARTO”


• Álbum de Adriana Partimpim
• Sony Music
• Oito faixas
• Lançamento nesta quinta (10/10), nas plataformas digitais

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