A natureza inconstante e catastrófica do luto é o que rege “Inverno em Paris”, longa do cineasta francês Christophe Honoré. O filme, que chega aos cinemas do Brasil nesta quinta (10/10), acompanha Lucas (Paul Kircher), jovem de 17 anos que precisa lidar com a morte repentina do pai.

 




Não é a primeira vez que Honoré se dedica a abordar temas como luto e mortalidade em sua filmografia. “Canções de amor”, longa musical de 2007, e “Conquistar, amar e viver intensamente”, de 2018, são narrativas perpassadas tanto pela imprevisibilidade da morte quanto pelas dinâmicas que a certeza da finitude da vida suscita.

 

Siga nosso canal no WhatsApp e receba em primeira mão notícias relevantes para o seu dia

 

Embora “Inverno em Paris” se encaixe na primeira situação – o pai de Lucas, Claude (papel do próprio Honoré), morre em um acidente de carro –, o longa ainda se vale de elementos autobiográficos que lhe conferem dose extra de autenticidade. Isso porque Christophe Honoré, assim como o protagonista, também perdeu o pai na adolescência.

 

 

“Nunca pensei que um dia faria um filme sobre o estado particular em que me encontrei nos meses seguintes à morte do meu pai”, disse o diretor, em material de divulgação enviado à imprensa. “Quando a tragédia atinge e perturba a sua vida diária, não há narrativa nem história para contar. Há apenas sentimentos confusos e a impressão de que nada mais faz sentido e que você está sendo jogado de um lado para o outro.”

 

 

De fato, o longa não se preocupa em apresentar uma narrativa convencional, com viradas repentinas na trama e ritmo acelerado para manter a atenção do espectador. O roteiro, também assinado por Honoré, se dedica a retratar a maneira com que a falta do pai se torna tudo o que Lucas sente a partir de uma direção intimista, que não se apressa em mostrar o turbilhão de sentimentos que assolam o personagem principal.


À primeira vista, pode parecer difícil se conectar com a dor de Lucas e sua família por não sermos propriamente apresentados a Claude, que surge apenas em curta cena inicial do longa. Sua ausência, no entanto, é o que de fato importa para o diretor, que se aproveita da dimensão universal do luto para emocionar sem soar forçado.


Após a morte do pai, Lucas é incentivado pela mãe, Isabelle (Juliette Binoche), a passar alguns dias em Paris com Quentin, seu irmão mais velho, interpretado por Vincent Lacoste. Na capital francesa, o adolescente procura se distrair do luto com encontros de sexo casual, busca o sentido da fatalidade na Igreja e até tenta uma aproximação romântica com o melhor amigo de Quentin, Lilio (Erwan Kepoa Falé), vários anos mais velho que ele.


Nada resolve. Não importa o que Lucas faça e para onde vá, o luto pela morte do pai sempre encontra uma maneira de acompanhá-lo.


O trio familiar – Lucas, Quentin e Isabelle – lida com a morte de Claude à própria maneira. O irmão mais velho não sabe muito bem como confortar o caçula e se ocupa integralmente do trabalho como pintor para esquecer a perda recente. Já Isabelle é uma mulher que precisa processar a morte do marido e também se mostrar forte pelos filhos.


Apesar dos momentos densos, o filme equilibra as discussões sobre a morte com instantes de descontração entre Lucas e Quentin, além de subverter a dor para fortalecer os laços afetivos que unem os três membros restantes da família.


"INVERNO EM PARIS"
(França, 2022, 122 min.) Direção: Christophe Honoré. Com Paul Kircher, Erwan Kepoa Falé e Juliette Binoche. Estreia nesta quinta-feira (10/10), às 16h20, no Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes); e às 18h20, no UNA Cine Belas Artes (Rua Gonçalves Dias, 1.581 – Lourdes). Exibição a partir de sexta-feira (11/12), às 13h50 e às 18h35, no Cineart Ponteio (Rodovia BR 356, 2.500 – Santa Lúcia).


*Estagiária sob supervisão da subeditora Tetê Monteiro

compartilhe