O teatro vive atualmente uma fase de esplendor, afirma a atriz e diretora carioca Patricya Travassos.
Com carreira iniciada na década de 1970 no grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone, conhecido pelo humor e pela criação coletiva, Patricya fala com propriedade e conhecimento de causa. De seus 69 anos, afinal, 50 foram dedicados ao palco.
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“Hoje, se você quiser apresentar uma pauta para os teatros de São Paulo, por exemplo, precisa chegar com um ano de antecedência”, revela.
Patricya está na capital mineira com Eduardo Moscovis, neste sábado e domingo (12 e 13/10), para apresentar a peça “Duetos, a comédia de Peter Quilter”, com sessões esgotadas no Sesc Palladium. Há exatos dois anos, em outubro de 2022, ela trouxe à cidade o mesmo espetáculo, contracenando com Marcelo Faria.
Dirigida por Ernesto Piccolo, a peça apresenta quatro cenas, nas quais quatro casais distintos experimentam dilemas e anseios do relacionamento a dois. Na primeira, Jonathan e Wanda marcam encontro às cegas após se conhecerem por meio de um aplicativo, criando a expectativa de que ali se iniciará um romance.
Na segunda, Jane promove uma festa de aniversário para o chefe, Ary, no intuito de conquistá-lo e, quem sabe, casar-se com ele. No entanto, ignora a homossexualidade do chefe.
A terceira cena mostra Shirley e Beto viajando para a Espanha, onde pretendem pôr fim a anos de casamento. Após uma noite de bebedeira, eles reconsideram sua vida conjugal. Por fim, o público acompanha as incertezas de Ângela. Prestes a se casar, ela começa a duvidar dessa decisão após o irmão, Tobias, criticar o vestido de noiva.
Cinemas vazios
Em BH, o espetáculo terá 2.238 cadeiras ocupadas em um único final de semana – já foi visto por cerca de 100 mil pessoas ao longo de dois anos.
“As pessoas estão indo ao teatro, mas os cinemas estão ficando vazios. O curioso é que sempre foi o contrário, os cinemas enchiam mais do que os teatros”, observa Patricya. “Fizemos várias temporadas no Shopping da Gávea, no Rio de Janeiro, que tem umas seis salas de cinema e quatro teatros. Todos os teatros estavam lotados e o cinema vazio”.
Pandemia impôs mudanças à cena teatral
Esse fenômeno, acredita a atriz, pode ser explicado pelo longo período de pandemia, em que as pessoas estiveram expostas ao streaming, levando-as agora a buscar a experiência do “ao vivo” e a interação direta com o elenco no palco.
No entanto, de forma contraditória, não há abertura de novas salas de teatro no Brasil – as que existem estão fechando as portas, mesmo que temporariamente. “O Teatro Nacional de Brasília está interditado desde 2014. O Castro Alves, em Salvador, também está fechado há bastante tempo, uma obra que nunca acaba”, lembra Patricya.
Isso se reflete na redução das temporadas. Não faz muito tempo, Belo Horizonte recebia peças que ficavam em cartaz de quarta-feira a domingo. Atualmente, é raro encontrar espetáculos que permaneçam mais de três dias no mesmo palco.
“No Rio, também estamos vivendo essa situação. Recentemente, fizemos uma temporada de ‘Duetos’ na Barra da Tijuca, com sessões apenas de quinta a domingo. Quando comecei, as apresentações eram de terça a domingo. Além da grande quantidade de espetáculos competindo por espaço, o alto custo dos aluguéis dos teatros também influencia essa mudança”, afirma a atriz e diretora.
Muito trabalho
Patricya observa que, geralmente, espetáculos em cartaz no fim de semana dividem o teatro com produções infantis apresentadas à tarde. “Ao contrário das décadas de 1970, 1980 e 1990, quando as peças ficavam em cartaz praticamente a semana inteira, agora precisamos desmontar o cenário todos os dias, o que dá um trabalho considerável”, destaca.
Enquanto não se encontra a solução para esse paradoxo, o jeito é seguir a estratégia adotada por “Duetos”: manter o espetáculo em cartaz com temporadas curtas, passando por diferentes teatros na mesma cidade. “Assim, conseguimos atrair público. E, quanto mais o público prestigiar o teatro, mais espaços serão abertos”, conclui Patricya Travassos.
“DUETOS, A COMÉDIA DE PETER QUILTER”
Texto: Peter Quilter. Adaptação: Patricya Travassos e Ernesto Piccolo. Direção: Ernesto Piccolo. Com Patricya Travassos e Eduardo Moscovis. Neste sábado (12/10), às 20h; domingo, às 19h, no Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro). Ingressos esgotados.