FOLHAPRESS

 

Ana Lima Cecilio, curadora da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), disse neste domingo (13/10) que acharia “fantástico” ter Paulo Coelho no evento. Não se tratou de declaração espontânea. Ela foi indagada, durante entrevista coletiva no encerramento da Flip, se a festa está pronta para receber esse tipo de autor, depois de um ano com o youtuber Felipe Neto e a mineira Carla Madeira, autora do best-seller “Tudo é rio”. “Acho que é uma figura muito interessante”, afirmou, referindo-se a Coelho.

 

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A mesa com Carla Madeira, realizada hoje, foi tachada de “muito comercial”. A curadora dispensa a crítica: “É uma bobagem. Ela é a maior vendedora de livro deste país.”

 



 


Se, por um lado, a Flip costuma ser acusada de propor debates herméticos e discussões apartadas das urgências do mundo, por outro, a decisão da curadoria de levar Felipe e Madeira a Paraty foi apontada como evidência de que o evento não é mais o mesmo.

 


“Foi muito importante trazer. A Flip consegue trazer pessoas que furam a bolha. E o Paulo Coelho, eu acho este homem... Não é um fenômeno? É, né?”, comentou, lembrando que o escritor, que vive em Genebra, declarou que não volta ao Brasil.

 


Cecilio foi confirmada como a curadora da Flip de 2025, que ainda não tem data certa. Mauro Munhoz, diretor artístico do evento, explicou que a data depende de patrocinadores acertarem a participação até dezembro, o que permitiria a realização da festa literária em julho. Mas pode ser que a próxima edição fique para outubro.

 

Curadora Ana Cecílio levou experiência do mercado editorial para a Flip 2024

 

Sarr


O escritor senegalês Mohamed Sarr lotou o espaço Casa Folha, neste domingo, depois de participar da programação oficial, no sábado, em mesa com o brasileiro Jeferson Tenório.

 


Primeiro subsaariano a levar o prêmio Goncourt, com o livro “A mais recôndita memória dos homens”, Sarr navegou por terrenos espinhosos. Falou da categorização de sua literatura como negra e africana, da criação do cânone literário e das exclusões que ficam pelo caminho.

 


Contou que, antes do Goncourt, seus livros ficavam nas prateleiras de literatura africana. Depois, ele se tornou literatura. “Literatura africana não é, então, literatura?”, questionou.

 


Para ele, é ambíguo categorizar alguma literatura como negra, feminina ou LGBTQIA+–, porque, enquanto se reconhece um problema de visibilidade, criam-se distinções.

 


“A boa literatura faz a gente se esquecer das caixinhas onde as obras são colocadas”, afirmou. Mas Sarr se considera, sim, um escritor africano. E citou a frase que viu na parede do ateliê de Daniel Jorge, em Salvador: “Minha obra não é africana, mas eu sou”.

 


Sarr discutiu a expectativa depositada no autor negro de performar certa “africanidade”. “Como você pode reduzir uma identidade a uma função? Como eu devo falar, como eu devo escrever para ser africano?”.

 


Para ele, a identidade não pode ser função, mas uma construção no tempo, a partir de experiências pessoais e íntimas. Sarr adverte que a exigência de performance acaba impedindo a escrita, “porque você fica respondendo a clichês”.


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