Em 2011, a Fundação Clóvis Salgado (FCS) montou a ópera “Nabucco”, que foi assistida por mais de 10 mil pessoas em seis récitas e dois ensaios em Belo Horizonte, e viajou para o Rio de Janeiro e para Lisboa, consolidando-se como uma das maiores e mais exitosas montagens da casa. Agora, num resgate daquele momento – sem, no entanto, tirar os olhos do presente –, os corpos artísticos da FCS voltam a se reunir em torno da nova versão da obra-prima de Giuseppe Verdi.

 

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O Coral Lírico e a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais se juntam a cantores solistas convidados – a maior parte deles presente na montagem de 2011 – para quatro apresentações no Grande Teatro Cemig do Palácio das Artes de quinta-feira (17/10) ao dia 23 de outubro. “Nabucco” tem regência da maestra Ligia Amadio e direção cênica a cargo de André Heller-Lopes. A direção-geral é de Cláudia Malta. Os ingressos para todas as sessões já acabaram.

 







A pré-estreia, em versão reduzida de 40 minutos (a integral tem 140), ocorreu neste domingo (13/10) na Basílica de Nossa Senhora da Piedade – Ermida da Padroeira de Minas, na Serra da Piedade, em Caeté. Sem a orquestra, com metade do Coral Lírico, o pianista Fred Natalino, a flautista Nara Franca e cinco solistas, “Nabucco” foi executada dentro da pequena capela, com telões do lado de fora para que o público pudesse acompanhar.

 


A iniciativa segue o modelo adotado ao longo dos últimos tempos, pelo qual a FCS promove estreias ou pré-estreias de óperas em espaços alternativos que são, também, rotas de turismo no estado.

 

 

“Aleijadinho” teve como palco o adro da Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto; “Devoção” foi encenada no Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas; e “Matraga”, baseada na obra de Guimarães Rosa, ocupou a Gruta do Maquiné, em Cordisburgo.

 

 


“A gente vem produzindo óperas pensando também em valorizar os pontos turísticos de Minas Gerais. Nada melhor do que fazer 'Nabucco' neste lugar abençoado, que é o nosso Monte Sião”, afirma o presidente da FCS, Sérgio Rodrigo Reis, aludindo ao cenário onde parte da história se passa.

 


Originalmente, “Nabucco” tem quatro atos, compostos por Verdi, e libreto de Temistocle Solera, baseado em “Nabucodonosor” (1836), drama de Auguste Anicet-Bourgeois e Francis Cornu. A estreia ocorreu em 9 de março de 1842, no Teatro La Scala, de Milão, na Itália.

 

 

Pequena capela na basílica da padroeira de Minas Gerais virou palco para a pré-estreia de "Nabucco"

Paulo Lacerda/divulgação

 


A história remete à antiguidade bíblica, retratando o drama do povo de Israel, perseguido por Nabucodonosor, rei da Babilônia (605-562 a.C.), que conquistou a Palestina, tomou Jerusalém, deportou e escravizou os hebreus.

 


O tema da guerra e da escravidão atravessa a narrativa de “Nabucco” – nesse sentido, a montagem dialoga com o momento presente. Passados 182 anos de sua estreia, os dois flagelos da humanidade seguem na ordem do dia. Ligia Amadio destaca que os artistas se atêm à partitura e ao libreto criados há quase dois séculos, mas se trata de uma obra que reverbera através dos tempos.

 


“Cada um de nós que assiste à ópera ou participa dela tem a própria leitura pessoal, vivencia isso de um determinado jeito. Não queremos impor nenhuma opinião a ninguém, todos têm liberdade de pensar o que quiserem, mas esses temas importantes agora estão aí e nos obrigam a refletir a respeito. É uma maneira de trazer, por meio da arte, temas que pedem reflexão sobre um momento histórico e social”, diz.

 

 


Cláudia Malta afirma que o diálogo de “Nabucco” com a atualidade diz respeito à necessidade de uma visão mais ampla por parte do ser humano a respeito do mundo, com mais respeito à natureza e às diferenças, principalmente.

 


“Não é preciso que sejamos hebreus e assírios em eterno conflito, nem aqui nem em lugar nenhum. A ópera propõe essa reflexão. As pessoas se emocionam com a música e pensam nisso. Por que estamos às voltas com guerras até hoje? Temos que buscar a paz”, pontua.


“Va pensiero”



Ligia Amadio destaca que “Nabucco” evoca memórias recônditas, especialmente a melodia que inicia o terceiro ato, “A profecia”, pois seus pais, imigrantes italianos, a cantavam no coro do Colégio Dante Alighieri, em São Paulo, onde a maestra estudava com os irmãos.

 


“O famoso 'Va, pensiero', conhecido como 'Coro dos escravos hebreus', era parte do nosso repertório. Só anos mais tarde vim a conhecer as razões pelas quais a ópera e o coro, em especial, alcançaram uma conotação patriótica tão importante”, comenta.

 

Cena da ópera "Nabucco", apresentada em 2011 no Palácio das Artes

Paulo Lacerda/divulgação

 


Ligia explica que Verdi morreu aos 87 anos amado e admirado pelos compatriotas, pois havia se tornado uma espécie de herói nacional ao se destacar no processo de reunificação política da Itália.

 


 “O cortejo foi integrado por membros da família real italiana, além de dignitários, diplomatas, políticos e compositores como Puccini, Mascagni e Leoncavallo. Cerca de 28 mil pessoas acompanharam o caixão, com vozes que se mesclavam às do imenso coro que interpretava o 'Va, pensiero'”, conclui a regente.



“NABUCCO”


Ópera de Giuseppe Verdi. Com Coral Lírico, Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, solistas e atores convidados. Regência: Ligia Amadio. Sessões na quinta-feira (17/10), sábado (19/10) e dias 21 e 23 deste mês, no Grande Teatro Cemig do Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro). Ingressos esgotados para todas as sessões.

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