Vida e morte do poeta espanhol Federico García Lorca são lembradas no Metropolitan Opera de Nova York (Met) com “Ainadamar”, a única ópera do compositor argentino Osvaldo Golijov, de 63 anos, com a qual ganhou dois prêmios Grammy em 2007. O espetáculo estreou nesta terça-feira (15/10) nos Estados Unidos.

 

 


A produção é assinada pela coreógrafa brasileira Deborah Colker, para quem a ópera – a primeira dirigida por ela – “pode ser dançada do início ao fim”, com “lirismo e vitalidade rítmica”.

 



 


Composta em 2003, “Ainadamar” (palavra que significa fonte das lágrimas em árabe) se refere ao local onde o poeta foi assassinado pelos fascistas em 1936, no início da Guerra Civil Espanhola (1936-1939). Também está relacionada à atriz e diretora de teatro catalã Margarita Xirgú.

 

 

 


Por 90 minutos, as memórias da musa de Lorca se revelam nos três atos cantados em espanhol, que remetem a “Mariana Pineda”, um dos grandes legados do escritor andaluz. Trata-se de um tributo à liberdade.

 

 

Mulheres protagonizam drama inspirado nas memórias da atriz Margarita Xirgú

Timothy A. Clary/AFP

 

 

Os sonhos libertários são frustrados pelo caos e pela repressão encarnados por Ramón Ruiz Alonso, o falangista que prendeu o poeta, executado em 19 de agosto de 1936.

 

 


A estreia ocorreu na Escócia em 2022. A dança adquire o mesmo protagonismo e dramatismo da história e da música – mistura de estilos que combina a linguagem tradicional da ópera com sons eletrônicos, rumba e flamenco.

 


Colker faz com que Angel Blue, soprano afro-americana que interpreta Margarita Xirgú, suba e dance no palco, onde o caos da guerra é representado por mesas inclinadas e barras pelas quais protagonistas deslizam, assumindo riscos físicos.

 


Trata-se basicamente de uma história contada por mulheres. García Lorca, aliás, é interpretado por Daniela Mack, mezzo-soprano de origem argentina.

 


“Estou completamente fora do mundo da ópera”, afirma Deborah Colker, que se considera “um pouco diferente” dos diretores tradicionais, “dentro das regras”.

 

Deborah Colker (à direita) comanda ensaio no Metropolitan Opera

Instagram/reprodução

 


A brasileira foi convidada pela instituição nova-iorquina para dirigir outra ópera em espanhol, “Frida e Diego”, prevista para 2026.

 

Desafio no palco

 

Daniela Mack reconhece que a montagem representa um desafio, “porque há muitos elementos que não estão necessariamente presentes em uma ópera mais tradicional”.

 


“É preciso lidar com os efeitos sonoros e cronometrar tudo, incluindo a dança”, comenta. “Isso exige um nível diferente de atenção e concentração para que tudo se encaixe”, diz a cantora lírica.

 


Com libreto escrito por David Henry Hwang, a montagem “Ainadamar” é a nova aposta do templo operístico nova-iorquino para atrair novos públicos e rejuvenescer a audiência.

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