“Atacar, atacar, atacar. Não admita nada, negue tudo. Reivindique a vitória e nunca admita a derrota.” Em 1973, aos 27 anos, Donald Trump ouviu os três princípios que deveria seguir, para a vida e para os negócios, se quisesse fazer a América. Em “O aprendiz”, filme que estreia nesta quinta-feira (17/10), vemos como ele aprendeu a lição.

 

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Longa-metragem do cineasta iraniano-dinamarquês Ali Abbasi (de “Holy Spider”, sobre um serial killer real que abalou o Irã), que o próprio Trump tentou impedir de chegar aos cinemas, acompanha a trajetória do candidato republicano à eleição para a Casa Branca nas décadas de 1970 e 1980.

 



 


Na época, não havia uma pessoa mais próxima de Trump do que o advogado Roy Cohn. Foi este personagem, figura infame da história americana, que lhe ensinou as três lições.

 

 

 


Assistir ao filme, quanto mais às vésperas do pleito de 5 de novembro, não vai responder a muitas questões em torno desta figura assombrosa, talvez a mais controversa da era moderna. O que não se pode negar é que Trump está em boas mãos (para quem entende a ironia). “O aprendiz” não seria o filme que é, não fossem seus protagonistas, Sebastian Stan e Jeremy Strong.

 

 


Lábios franzidos

 

É um duelo espetacular, que mostra como os atores fizeram um estudo atento das vidas que levaram para o cinema. Trump é campeão de maneirismos, que Stan (que já havia dado vida a Tommy Lee, outra figura polêmica dos anos 1980) incorpora à perfeição – em especial na segunda parte da narrativa, quando o empresário se torna mais próximo da imagem atual. A franzida de lábios é impagável.

 

 


Enquanto Trump é sempre mais, Cohn é menos. Strong, que ganhou fama com o Kendall Roy da série “Succession”, enfatiza aqui o olhar. Olhos fixos (e mortais) diante de seu alvo, que vão mudando gradualmente quando o personagem enfrenta os próprios fantasmas.

 


 
“O aprendiz” acompanha a relação entre estes dois homens de forma distinta. Na primeira hora do filme, Trump é aquele que está de braços abertos para ser moldado. Na segunda, já com as devidas conquistas, tira todos que lhe atrapalham do caminho.

 

Maria Bakalova vive Ivana Trump, que disse ter sido estuprada pelo marido, Donald (Sebastian Stan), mas depois recuou de chamá-lo de estuprador

Diamond Films/reprodução

 


A Nova York da década de 1970 era um lugar em que ninguém queria ir. Suja e violenta, um faroeste que o jovem empresário do Queens queria explorar. Quando a trama começa, Trump, o segundo filho do abusivo Fred Trump (Martin Donovan, quase irreconhecível), tentava convencê-lo a fazer um negócio que mudaria os rumos da empresa da família.


Negócios imobiliários

 

Ele era vice-presidente da Trump Organization. Isto significava coletar dinheiro quase à força de miseráveis que viviam nas habitações igualmente miseráveis da família. Os negócios se localizam em áreas fora de Manhattan. Ele queria chegar à ilha com um gesto ousado. Compraria um hotel decadente ao lado da Grand Central Station e o transformaria em um empreendimento de luxo.

 


O problema maior não era dinheiro. Era minar o Departamento de Justiça, que havia entrado com uma ação judicial contra a empresa por discriminar pessoas negras (e eles realmente tinham culpa no cartório). Trump sabia o que queria – mas não como chegar lá.

 


No Le Club, um clube para membros do qual ele acabou de se tornar sócio, comenta para a modelo com quem divide a mesa quem são os poderosos que estão ali. Um deles se interessa por ele.

 


Roy Cohn é o advogado que nos anos 1950 atuou ao lado do senador McCarthy na caça às bruxas anticomunista. Mas o que o tornou famoso foi ter levado para a cadeira elétrica, em 1953, o casal Julius e Ethel Rosenberg, declarados culpados de espionagem por supostamente entregar planos da bomba atômica para a União Soviética.

 


Pedido de ajuda

 

Duas décadas mais tarde, ele é amigo de todos os que precisam de algo que as vias legais não permitem. Trump vai conseguir sua ajuda depois de muita insistência – o que inclui até um apelo no banheiro do clube. Cohn é realmente desagradável, um tubarão que faz Trump parecer um peixão dourado.

 


A primeira hora do filme mostra este jovem relativamente ingênuo aprendendo a arte do acordo com o manipulador Cohn. Na segunda metade do longa, já na década de 1980, Trump atinge o nível de amoralidade que vem mantendo desde então. É nesta parte que estão sequências que o fizeram vociferar contra o longa desde sua première, em maio, no Festival de Cannes.

 


Ele teria estuprado a primeira mulher, Ivana (Maria Bakalova, que acompanha, com firmeza, seus colegas de cena). Durante seu divórcio, em 1990, ela confirmou o crime, porém, anos mais tarde, negou. Há também sequências que mostram Trump se submetendo a uma lipoaspiração e a um procedimento estético que lhe cortou parte do couro cabeludo para diminuir a calvície.

 


Nesta altura, o “mestre” é apenas uma sombra. São os anos 1980, e o “câncer gay” que Trump tanto abomina e teme está próximo demais. Cohn nunca saiu do armário. A cena em que ouve de Ivana a verdade sobre o marido é aterradora. Descobre, finalmente, do que seu aprendiz é capaz.

 


ONDE VER

 

“O aprendiz” estará em cartaz em Belo Horizonte a partir desta quinta-feira (17/10) nas seguintes salas: BH 7, às 12h30 (sab e dom), 15h20, 18h, 20h45 (leg); Boulevard 5, às 14h, 18h30, 21h (leg); Centro Cultural Unimed-BH Minas 1, às 18h10 (leg); Contagem 8, às 16h05, 18h35, 21h05 (dub); Del Rey 7, às 16h (leg), 18h35 (dub), 21h (leg); Diamond 2, às 14h55, 17h35, 20h20 (leg, exceto sab e dom), 12h20, 15h, 17h45, 20h30 (leg, apenas sab e dom); Minas Shopping 5, às 16h05, 21h05 (dub); Monte Carmo 2, às 18h40 (dub), 21h10 (leg); Pátio 5, às 13h20 (sab e dom), 16h, 18h50, 21h30 (leg); Ponteio 4, às 16h10, 18h40, 21h10 (leg); UNA Cine Belas Artes 1, às 18h10 (leg) e Belas Artes 3, às 15h20 (leg).


“O APRENDIZ”


(EUA, 2024, 122 min.). Direção: Ali Abbasi, com Sebastian Stan, Jeremy Strong e Maria Bakalova). Estreia nesta quinta-feira (17/10) nos cinemas brasileiros.

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