Um subsolo abafado, entulhado de tralhas, com um laboratório fotográfico mínimo e um retroprojetor que ninguém sabia para que servia. Naquele espaço escondido estava o melhor lugar do mundo: a Fundação Escola Guignard. Tal descrição foi tirada do texto da crítica de arte Maria Angélica Melendi, a Piti, que atua como fio condutor da exposição “Fundação Escola Guignard: Anos 80 nos 80 anos”.

 



Com abertura neste sábado (19/10), às 10h, na galeria da Escola Guignard, a coletiva reúne trabalhos de 41 artistas com passagens pela instituição. É uma nova iniciativa para comemorar as oito décadas da Escola. Organizada por três ex-alunos, a mostra traz um recorte específico: apresentar trabalhos de artistas que lá estudaram na década de 1980.

 


“A gente faz questão de demarcar esse território, esse momento da nossa história. O nome Fundação Escola Guignard está no título porque é bem diferente da Escola Guignard – UEMG de hoje”, explica Sávio Reale, professor da instituição, que concebeu a mostra, ao lado dos ex-colegas Luciana Horta e Breno Barbosa.

 



 


A gênese da escola é de 1944, quando o então prefeito Juscelino Kubitschek convidou Alberto da Veiga Guignard para criar, em Belo Horizonte, um curso de desenho e pintura no Instituto de Belas Artes. Em seus primeiros anos, as aulas da futura Escola Guignard foram no Colégio Imaco, no Parque Municipal.

 

Subsolo

 

A partir de 1950, ela foi transferida para o subsolo da construção inacabada do que viria a ser o Palácio das Artes, onde hoje estão localizadas as galerias Arlinda Corrêa de Lima e Genesco Murta. A escola funcionou no chamado “porão do Palácio das Artes” até o final de 1994, quando, já como uma das unidades da Universidade do Estado de Minas Gerais, ganhou sua sede nas Mangabeiras.

 

 


“A década de 1980 foi muito produtiva, rica, porque foi um momento em que a arte, tanto em Belo Horizonte quanto no Brasil, estava se profissionalizando. Como era também a nossa década enquanto alunos, resolvemos chamar não só colegas da época, mas pessoas que frequentaram a escola no período e continuaram trabalhando ou como artistas, ou como professores artistas”, explica Reale.

 


Breno Barbosa acredita que esta seja a exposição com o maior número de obras já reunidas na galeria. Isto porque a premissa é de que os 41 artistas apresentem dois trabalhos cada um: um produzido na década de 1980 e outro mais atual. “O resultado ficou muito legal, pois é diverso não só no olhar e de soluções, como de suportes”, diz Barbosa.


Unanimidade

 

A coletiva reúne nomes como Adrianne Gallinari, Leo Brizola, Niura Bellavinha, Ricardo Homen, Rosângela Rennó, Sebastião Miguel, Solange Pessoa e Sonia Labouriau. Professor por 40 anos da escola (1979-2019), Marco Tulio Resende fez um texto para a exposição. “Ele foi professor da maioria (dos artistas da mostra) e muito querido, uma unanimidade, que acrescentou muito ao aprendizado da gente”, comenta Reale.

 

 


Cada artista escolheu o que iria apresentar. Três deles – Reale, Edna Moura e Giovanna Martins – criaram, cada um, uma obra única, que reúne trabalhos que perpassam a trajetória vivida na escola.

 


“A bomba A” é a de Reale – a letra A, no caso, se refere à AIDS. “Quando fui rever meus trabalhos, vi que o advento da AIDS estava presente em vários momentos. Estava na biblioteca da escola quando li a primeira notícia. Para mim, que estava começando a vivenciar a sexualidade, caiu como uma bomba”, conta ele, que reuniu nesta obra uma série de objetos, como carimbos, caixas com moldes dentários, fotografias.

 

 


Em sua pesquisa, Barbosa encontrou uma pintura de seu último período como aluno. “Esta obra resume quase tudo o que a escola me trouxe. Comecei a pintar com 7 anos, entrei na escola aos 18 e parei de pintar radicalmente porque me envolvi com a filosofia de Guignard, que é maravilhosa: ele te põe para investigar o mundo através do desenho. Mas você vai investigar a seu modo, a técnica é só um nome, você tem que se virar.”

 


Já o trabalho contemporâneo foi em bico de pena e revive a entrada de Barbosa na instituição, pois foi em seu primeiro ano como aluno que ele conheceu a técnica.

 


Luciana Horta vai expor uma pintura feita enquanto aluna de Carlos Wolney. “Um professor por quem tenho grande admiração, feita na época de telas grandes, sem pincel, em que nada estava programado, a tela estava ali e você jogava com seus movimentos”, diz ela.

 


Trabalhando com arte-educação, ela se vê como uma “colecionadora de coisas, como diz Manoel de Barros”. O trabalho atual que estará na mostra se chama “Andarilho”, que nasceu a partir de um alicate “estragado e enferrujado”, que encontrou numa estrada de terra.

 

 

Nomes da coletiva

 

Os 41 artistas participantes da exposição “Fundação Escola Guignard: Anos 80 nos 80 anos” são: Adrianne Gallinari, Adriano Gomide, Alfredo Nobel, Breno Barbosa, Carlos Buére, Celso Travassos, Cristina Corradi, Demóstenes Vargas, Edna Moura, Giovanna Martins, Helenice Dornelles, Heloísa Brandão, Leo Brizola, Léo Maciel, Lídia Miquelão, Lígia Imanishi, Liliana Lobo, Lorena D’Arc, Louise Ganz, Luciana Campos Horta, Luiz Henrique Vieira, Nara Firme, Niura Bellavinha, Patrícia Figueiredo, Paulo Schmidt, Piti, Regina Dantas, Renato Madureira, Ricardo Homen, Rosângela Rennó, Sávio Reale, Sebastião Miguel, Sérgio Arruda, Sérgio Machado, Silvana Viola, Solange Pessoa, Sonia Labouriau, Thereza Portes, Thiers Matos, Tuscha, Vânia Barbosa.

 

“FUNDAÇÃO ESCOLA GUIGNARD: ANOS 80 NOS 80 ANOS”


Abertura neste sábado (19/10), das 10h às 14h, na Galeria Escola Guignard, Rua Ascânio Burlamarque, 540, Mangabeiras. Visitação de segunda a sexta, das 9h às 20h30. Até 27/11. Entrada franca.

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