Os rios da imaginação desaguam no lago, fragmentos da infância, alguns meio assustadores, emergem dos labirintos da memória, enquanto imagens recriando o jardim do Éden explodem em cores e hipnotizam quem as vê. E há também as marcas da pisada do visitante – isso mesmo, do sapato, do tênis, da sandália ou dos pés nus – sugerindo a perpetuidade da arte.

 




Tudo muito criativo, bonito de contemplar, com substância suficiente para alimentar o espírito e conduzir a outra dimensão. De coração livre e sem amarras, mineiros, brasileiros e estrangeiros já podem conferir as três novas exposições do Instituto Inhotim, em Brumadinho, na Grande BH. Em destaque, o trabalho das artistas Pipilotti Rist, suíça; Rebeca Carapiá, baiana, e Rivane Neuenschwander, belo-horizontina.

 

 

A artista baiana Rebeca Carapiá criou a obra comissionada "Apenas depois da chuva"

Leandro Couri/EM/D.A.Press.Brasil


Na manhã da última sexta-feira (18/10), no cenário natural que misturava canto das cigarras, “chuva” de folhas secas movidas pelo vento e uma ou outra casca desprendida dos coqueiros, a direção do Inhotim apresentou a obra comissionada “Apenas depois da chuva” (2024), de Rebeca Carapiá, seguida da individual “Tangolomango” (2024), de Rivane Neuenschwander, na Galeria da Mata, e exibiu a instalação imersiva “Homo sapiens sapiens” (2005), de Pipilotti Rist, na Galeria Fonte.

 


Vale aqui uma explicação: obra comissionada é aquela em que o instituto convida artistas para desenvolver um trabalho específico, desde a pesquisa até a mostra, com investimento em todas as etapas, conforme informou a diretora artística do Inhotim, Júlia Rebouças.

 

 

A exposição "Tangolomango", de Rivane Neuenschwander, tem obras em diversos suportes, incluindo vídeo

Leandro Couri/EM/D.A.Press.Brasil


Conexão


São três nomes femininos que, curiosamente, poderiam indicar o “outubro rosa” como ponto de partida, mas Júlia desfez qualquer conexão: “Nesta segunda inauguração de 2024, convocamos três artistas de inconteste contribuição para a produção contemporânea e forte conexão com o projeto curatorial do Inhotim. Temos aqui três artistas. E ponto”.

 


Para explicar melhor o contexto, a curadora coordenadora Beatriz Lemos afirmou: “Temos aqui as complexidades da vida associadas às sutilezas do cotidiano”. Com bom humor, Beatriz ressaltou que as exposições podem levar à reflexão e também divertir.

 


Sorridente e satisfeita, Rebeca Carapiá, moradora da Cidade Baixa, em Salvador, apresentou seu trabalho “Apenas depois da chuva”, instalação escultórica composta de 20 peças, com aproximadamente cinco metros cada, em exibição no lago próximo à Galeria Mata e à Galeria True Rouge, de Tunga, um dos maiores destaques do Inhotim.

 

Depois da chuva


Para sintetizar seu trabalho, Rebeca foi direto ao ponto, por ser nordestina e conhecer os longos períodos de seca nas regiões áridas. “O olho d’água se forma depois da chuva”.

 

 

A instalação imersiva "Homo sapiens sapiens", da artista suíça Pipilotti Rista, ocupa o teto da Galeria Fonte, até 2026

Leandro Couri/EM/D.A.Press


Pesquisa


A nova obra no Inhotim, fruto de imersão na Serra da Capivara, no Piauí, reflete sobre a relação entre a água e o território, explorando a abstrata “escrita” encontrada nos seus desenhos e esculturas. A instalação, com curadoria de Beatriz Lemos e do curador assistente Deri Andrade, fica em exibição por tempo indeterminado e significa a continuação da pesquisa de Rebeca Carapiá sobre a interação entre elementos naturais e escultóricos, formas e paisagens.

 

 

e forma inédita no processo artístico de Carapiá, as 20 peças foram confeccionadas em colaboração entre ela e a equipe de Gabriel Silva Santiago, que coordenou a serralharia da instituição.

 


Quem viu, gostou, a exemplo do casal gaúcho Bruno Galperim, médico, e Fernanda Brauner Soares, professora de gravura, artista visual e dona da Galeria na Tulipa, em Porto Alegre (RS). “Trouxe um grupo para visitar Inhotim e pude ver parte da montagem da instalação da Rebeca Carapiá. Há harmonia entre arte e natureza, uma intervenção suave. É bem interessante ver o balanço das peças de ferro na água. Parecem flutuar no lago”, observou Fernanda.

 

"Tangolomango"

 

Antes de o Estado de Minas visitar a exposição “Tangolomango”, de Rivane Neuenschwander, apresentada à imprensa no Instituto Inhotim na última sexta-feira (18/10) e aberta ao público desde ontem, a diretora artística do Instituto de Arte Contemporânea Júlia Rebouças, ao lado da artista mineira, ressaltou que o trabalho de Rivane perpassa o acervo do Inhotim, “com uma obra em permanente exibição, cuja presença é amplificada por uma mostra individual inédita”.

 


Para nortear o visitante, vai aqui uma dica: o sonoro título da exposição, que ficará aberta até 2026, vem de uma tradição oral na forma de cantiga ou parlenda (rimas infantis).

 


Com trabalhos em diversas linguagens, como pintura, fotografia, instalação e vídeo, a mostra reúne obras de diferentes décadas, que se atualizam nas pesquisas mais recentes da artista, ao lidar com questões relativas à infância, história, ecologia e política. “Há questões sobre a guerra, o meio ambiente, os medos”, disse Rivane.

 


Na panorâmica “Tangolomango” (curadoria de Júlia Rebouças e dos curadores coordenadores Beatriz Lemos e Douglas de Freitas), são apresentadas obras de vários momentos da produção da artista mineira: “V.G.T. (Ame-o ou deixe-o)” (2023), “J.B. (Piracema: uma transa pós- amazônica)” (2023), “Trôpego trópico” (2022), “Eu sou uma arara” (2022), “O alienista” (2019), “Alegoria do medo” (2018), “Caça ao fantasma” (2018), “(WAR)” (2017), “Cabra-cega” (2016), “Zé Carioca e seus amigos” (2005) e “Andando em círculos” (2000).

 

 

Nessa última, as pessoas poderão molhar a sola dos sapatos numa cola e deixar as pegadas pelo piso da galeria. E admirar figuras, feitas em papel-machê, tecido e outros materiais, a exemplo do Barbeiro, A morte, João de Deus, Anti-Vax, O alienista, O revolucionário.

 


Jardim do Éden

O “grand finale” do passeio pelas galerias de Inhotim (a ordem de visita vai depender do interesse do visitante) pode ser em clima de total relaxamento, sem sapatos, acomodado sobre pufes e camas dispostos no amplo piso atapetado da Galeria da Fonte.

 


Em exibição, no teto, a obra imersiva “Homo sapiens sapiens” (2005), de Pipilotti Rist, artista suíça reconhecida internacionalmente por suas videoinstalações imersivas e experimentais. Todas as cenas remetendo à criação de um “éden inhotiano” foram filmadas nos jardins do instituto.

 


Originalmente apresentado na Bienal de Veneza de 2005, o trabalho agora exibido ganhou adaptações para as características únicas da Galeria Fonte – tem curadoria de Douglas de Freitas e Lucas Menezes, curador assistente. Segundo eles, a montagem dessa obra proporciona uma experiência que questiona e celebra a conexão entre o indivíduo e o universo, refletindo sobre temas como fantasia, sonho, humor e desejo.

 

 

INSTITUTO INHOTIM


Novas exposições “Homo sapiens sapiens”, de Pipilotti Rist, na Galeria Fonte, em exibição até 2026; “Tangolomango”, de Rivane Neuenschwander, na Galeria Mata, em exibição até 2026; e “Apenas depois da chuva”, de Rebeca Carapiá, instalação no Lago True Rouge. Rua B, 20. Horários de visitação: De quarta a sexta-feira, das 9h30 às 16h30, e aos sábados, domingos e feriados, das 9h30 às 17h30. Nos meses de janeiro e julho, o Inhotim abre também às terças-feiras. Entrada: R$ 50 e R$ 25 (meia). Mais informações no site do Instituto.

 


 

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