O poeta e filósofo carioca Antonio Cicero morreu nesta quarta-feira (23), aos 79 anos. A notícia foi confirmada pela Academia Brasileira de Letras (ABL).


 

Nos últimos anos, ele foi diagnosticado com Alzheimer e enfrentava complicações neurológicas decorrentes da doença. Sua morte ocorreu na Suíça, onde optou por um procedimento de morte assistida em uma clínica especializada, ao lado de seu parceiro Marcelo. Antonio Cicero deixou uma carta de despedida em que fala sobre a escolha de encerrar a vida, que nas palavras dele havia se tornado “insuportável”. 

 




Nascido no Rio de Janeiro em 6 de outubro de 1945, Antonio Cicero se formou em filosofia pela Universidade de Londres e iniciou sua carreira como poeta ainda jovem. Ganhou reconhecimento inicial por suas contribuições como letrista de sua irmã, Marina Lima, em sucessos como “Fullgás”, “Pra Começar” e “À Francesa”, esta última em parceria com Cláudio Zoli. Ao longo de sua trajetória, colaborou com grandes nomes da MPB, como João Bosco, Waly Salomão, Adriana Calcanhotto e Lulu Santos, coautor do hit “O Último Romântico”.

 

 

O poeta Antonio Cicero (em pé) em uma de suas últimas aparições públicas, em 30 de setembro, em livraria no Rio de Janeiro, na noite de lançamento do livro "O grande relógio: A que hora o mundo recomeça", de Silviano Santiago

Sérgio de Sá/ Especial para o EM

 

Em 2017, Cicero foi eleito para a cadeira 27 da Academia Brasileira de Letras, sucedendo o crítico literário Eduardo Portella. 

 


Antonio Cicero escreveu uma carta de despedida, na qual expressa as dificuldades que enfrentava devido à doença de Alzheimer e a perda de suas habilidades intelectuais. Em um trecho da carta, ele afirma: “Não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia. Não consigo me concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu mais gostava no mundo”. 


A decisão pelo suicídio assistido, segundo ele,  foi tomada em plena consciência. Na carta, Antonio Cicero ainda destacou o desejo de viver e morrer com dignidade.

 

Siga nosso canal no WhatsApp e receba em primeira mão notícias relevantes para o seu dia

 

O parceiro do poeta e filósofo também compartilhou uma mensagem de despedida, na qual informou que Cicero havia planejado o procedimento por algum tempo e desejava que poucos soubessem de sua decisão. Ele também conta que, após uma breve passagem por Paris, cidade admirada por Cicero, ambos viajaram à Suíça para que o procedimento fosse realizado.

 

Leia a carta na íntegra:


"Queridos amigos,

Encontro-me na Suíça, prestes a praticar eutanásia.

O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer.

Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem.

Exceto os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas pessoas que encontro na rua e com as quais já convivi.

Não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia.

Não consigo me concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu mais gostava no mundo.

Apesar de tudo isso, ainda estou lúcido bastante para reconhecer minha terrível situação.

A convivência com vocês, meus amigos, era uma das coisas - senão a coisa - mais importante da minha vida. Hoje, do jeito em que me encontro, fico até com vergonha de reencontrá-los.

Pois bem, como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo.

Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade.

Eu os amo muito e lhes envio muitos beijos e abraços!"


 


 

compartilhe