A relação entre os seres vivos, o planeta e suas transformações são o tema da exposição “Eztetyka da Terra”, que ocupa a CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais a partir desta sexta-feira (25/10). Trata-se da itinerância do Festival de Fotografia de Tiradentes promovida pelo projeto Foto em Pauta.

 


“Eztetyka da Terra” – escrita com a grafia anticolonial adotada pelo cineasta Glauber Rocha (1939-1981) em seu manifesto “Eztetyka da Fome” – reúne mais de cem imagens de 13 artistas nacionais e internacionais.

 

São eles: Pedro Motta (MG), Cuia Guimarães (MG), Daniela Balestrin (SC), Gustavo Moura (PB), Luciana Alt & Vitor Moura (MG), Luciano Candisani (SP), Marc Ferrez (RJ), Isadora Romero (Equador), Janelle Lynch (EUA), Marcela Magno (Argentina) e Peter Fischli & David Weiss (Suíça).

 




Com direção artística do idealizador do projeto Foto em Pauta, Eugênio Sávio, e curadoria de João Castilho e Pedro David, a exposição explora o planeta como um elemento ativo, presente na forma e no processo de criação das imagens, e não apenas como um objeto passivo de contemplação. Segundo os realizadores, a mostra também questiona a dicotomia entre natureza e cultura, propondo uma reflexão sobre o impacto da civilização no planeta e a interdependência entre todas as formas de vida.

 


Sávio diz que a exposição em BH é uma versão ampliada da que foi vista em Tiradentes. “Como o espaço da CâmeraSete é maior (do que o Centro Cultural Yves Alves), conseguimos incluir algumas imagens inéditas”, diz. Ele destaca que elas são selecionadas a partir dos acervos dos artistas escolhidos. “São trabalhos que a gente conhece pesquisando, um processo de muito longo prazo, que fica a cargo dos curadores.”

 


Um exemplo é a obra do suíço David Weiss, que trabalhava em dupla com Peter Fischli e que morreu em 2012. “O Pedro [David] se lembrou do trabalho dele, de uma exposição que tinha visto há mais de 10 anos, entendeu que é uma obra que se relaciona com a temática e foi atrás.”

 


João Castilho ressalta que esse modelo, de buscar artistas e obras com base em um tema, foi adotado a partir das edições realizadas no período pós-pandemia. “Antes usávamos outras metodologias, viajando, vendo portfólios, pesquisando trabalhos que nos interessavam; partíamos das obras para chegar a um tema. Nos últimos três anos é que invertemos o processo”, comenta.

 

 

A fotógrafa mineira Cuia Guimarães fez registros de catadores de sempre-vivas, na serra do Espinhaço, nos anos 1990

Cuia Guimarães/Divulgação


Curadoria heterogênea


Segundo o curador, não há preocupação em escolher trabalhos que sejam complementares. “É uma curadoria sempre muito heterogênea, nunca é focada em uma determinada geração de artistas, em um estilo ou em um recorte geográfico. Incluímos, por exemplo, o Marc Ferrez, um trabalho de 100 anos atrás, que caiu em domínio público, e, por outro lado, tem a Daniela Balestrin, que está começando agora a fazer exposições”, diz.

 


“Eztetyka da Terra” reúne tanto fotografias em preto e branco quanto coloridas, imagens digitais e analógicas, registros mais naturalistas e outros mais artísticos, segundo Castilho. “O Luciano Candisani é um fotógrafo de natureza, as imagens dele circulam em revistas, na imprensa, e não tanto no circuito das artes. Já tivemos o Araquém Alcântara, que é o expoente desse segmento, ao lado do Paulo Nazareth”, exemplifica.

 

 

Outra meta da curadoria é lembrar e rever produções que vão ficando esquecidas com o passar do tempo. “O trabalho da Cuia Guimarães, por exemplo, há muito tempo não era visto. É uma fotógrafa aqui de Minas, de uma geração um pouco anterior à nossa. Ela tinha negativos guardados na casa dela, registros de catadores de sempre-vivas na serra do Espinhaço. É uma produção dos anos 1990, feita em filme, imediatamente anterior à revolução digital na fotografia”, aponta.

 


Castilho chama a atenção, ainda, para o fato de que os trabalhos reunidos em “Eztetyka da Terra” são pequenas histórias dialógicas – nenhum propõe uma abordagem extensiva ou globalizante sobre o tema. “Cuia pega os catadores de sempre-vivas; Gustavo Moura conta a história de um rio na Paraíba; Luciano Candisani conta a história de uma espécie, que é o jacaré de papo amarelo no Pantanal; as imagens de Marc Ferrez são de rochedos enormes, no Rio de Janeiro, no Nordeste e em Minas”, cita.

 


“FOTO EM PAUTA – EZTETYKA DA TERRA”
Abertura da Exposição, nesta sexta-feira (25/10). Em cartaz até 4 de janeiro de 2025, na CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais (Av. Afonso Pena, 737, Centro). Visitação de terça a sábado, das 9h30 às 21h. Entrada franca. Agendamento de visitas: agendamento.educativofcs@appa.art.br.

 

 

 

 

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