Fundador da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o crítico Leon Cakoff (1948-2011) comemorava o fato de conseguir dobrar sua equipe. A ironia é que “dobrar a equipe” significava ter mais uma pessoa.

 

 

Foi de maneira apaixonada e utópica que o evento teve início, em 1977. No começo, era Cakoff, um telefone e meia dúzia de voluntários – daí a celebração quando ele conseguiu ter um funcionário de fato.

 


Com estreia na próxima quarta (30/10), na HBO e Max (dia do encerramento da edição de 2024 da Mostra de SP), a minissérie “Viva o cinema! Uma história da Mostra de São Paulo” acompanha mais de quatro décadas do evento. Mas não só.

 



 

“O projeto nasceu para falar também da história do Brasil. Neste sentido, foi superinteressante porque, mesmo para mim, que frequento a Mostra desde a adolescência, trouxe uma nova perspectiva”, afirma a atriz e diretora Marina Person.

 


Ao lado do marido, o roteirista e diretor Gustavo Rosa de Moura, Marina conduz o espectador por uma história que tem olhares diversos. Tem o Brasil da ditadura militar, da abertura política, das Diretas-Já, do Plano Collor, das sucessivas crises econômicas e também da pandemia.

 

 

E tem ainda o olhar da própria Marina, que, em primeira pessoa, conta o que ela viveu e passou ao longo do evento – como espectadora, jornalista, cineasta, atriz e membro do júri.


Cronologia

“A série foi quase uma encomenda da HBO para que a gente falasse sobre esse evento cultural que é um fenômeno de São Paulo, que ajudou a formar tantos cineastas e cinéfilos”, diz ela. Com vasto material de arquivo e seguindo a cronologia, a série começa mostrando como Cakoff conseguiu, em 1977, ano em que o MASP completou seu 30º aniversário, convencer Pietro Maria Bardi (1900-1999) a realizar ali uma mostra com produções estrangeiras, autorais, totalmente desconhecidas no país. E sem legenda.

 


Já na primeira edição, a Mostra foi um sucesso de público, que lotava as sessões, mesmo que não desse para entender patavina do que se passasse na tela. Além da condução segura de Marina, de alguns entrevistados interessantes (Serginho Groisman conta do que se lembra da primeira edição, por exemplo), a série também coloca o espectador em meio ao processo de realização do documentário.

 


O formato, conta Gustavo, nasceu depois que ele e Marina assistiram ao filme “Os palhaços” (1970) de Federico Fellini. “Nele, a gente vê o Fellini aparecendo de um jeito que não é bastidor. Percebemos naquela referência que você pode entender um pouco o processo de construção de um filme, pois, mesmo que ele se proponha a ser um documentário, há o lado de uma construção ficcional”, afirma Gustavo.

 


Mas o maior mérito da série é seu material de arquivo, não só jornalístico, mas principalmente de cinema. “A gente não queria fazer uma série sobre cinema que não tivesse filme”, comenta Gustavo. A maior parte dos recursos da produção foi utilizada para aquisição do material – cerca de 1,2 mil arquivos foram licenciados.

 

Assistimos a trechos de clássicos como “Império dos sentidos” (1976), de Nagisa Oshima, que “causou” quando foi exibido na Mostra (na época da censura, vale dizer), e de dezenas de produções de grandes cineastas (Wim Wenders, Manoel de Oliveira, entre tantos nomes que fizeram a história do evento).

 


Nos primeiros episódios, Cakoff é onipresente. Além de muitas fotos de época, há também um longo depoimento dele (gravado durante o evento “Filmes da minha vida”, realizado dentro da própria mostra), que conta boa parte da história que a série acompanha. Com a morte do fundador, sua mulher, a produtora Renata de Almeida, passou a dirigir o evento. E é com ela à frente que a série chega à sua parte final.


“VIVA O CINEMA! UMA HISTÓRIA DA MOSTRA DE SÃO PAULO”
• Minissérie em quatro episódios. Estreia na próxima quarta-feira (30/10), às 21h, na HBO e Max. Novos episódios às quartas.

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