Igor Cosso era criança quando a primeira coisa que fazia, ao ver o pai, Júlio Cosso, ler o Estado de Minas, era buscar a página com a coluna de TV do jornal. Aos 33 anos e às vésperas de completar 15 anos como ator, ele reconhece que, naquela época, nem imaginava chegar onde está.

 




“Não havia ninguém na minha família ligado à arte, e todos morávamos em BH. Ser artista era uma coisa muito distante, uma utopia, um sonho”, recorda, por telefone, do Rio de Janeiro, entre um intervalo das gravações de “Mania de você”, novela das 21h da Globo.


No folhetim de João Emanuel Carneiro, Cosso interpreta Gael, recepcionista do resort Albacoa, onde boa parte da trama se desenrola. O ator mineiro mostra, em vídeo, sua rotina nos bastidores de “Mania de você. 

 


O ator, que completa 15 anos de carreira em 2025, tem motivos para festejar. Fã da novela “Avenida Brasil” (2012), escrita pelo mesmo autor de “Mania de você”, Cosso diz que interpretar o texto de João Emanuel Carneiro é um sonho. O texto, elogia, “é maravilhoso. Todos os personagens do João Emanuel são complexos, são dúbios”.


Quando o assunto é Gael, Igor Cosso esquiva-se para não dar spoiler sobre o futuro do personagem na trama. Já sobre o elenco, contudo, não poupa elogios a Eriberto Leão (Robson) – “um queridaço” – e Agatha Moreira (Luma), com quem conviveu por quase dois meses em curso de interpretação que frequentaram em Los Angeles, na Califórnia. Para o compromisso com os Estúdios Globo, o ator deixou o elenco da peça “Ainda dá tempo”, dirigida por Isser Korik com Ricardo Tozzi, que estreou em março e na qual permaneceu por seis meses.

 


O ator mineiro chegou à televisão nos anos 2010 atuando nas séries "Bicicleta e melancia" (Multishow) e Malhação (Globo), além das novelas "Os Dez Mandamentos" (2015), "Apocalipse" (2017) e "Jezabel" (2019), todas da Record.


Nos palcos

 

A paixão de Cosso pelo teatro surgiu aos 13 anos, quando estava na 5ª série do Colégio Edna Roriz, no Belvedere. “Os professores Antônio Paulo e Denise Paixão fizeram esse movimento de ter teatro na escola, o que é muito importante para a criança desenvolver a comunicação, independentemente se vai seguir a profissão”, opina o ator, que participou no colégio da montagem “O fantástico mistério de Feiurinha”, de Pedro Bandeira.


Cosso frequentou as aulas extracurriculares de teatro por cerca de três anos. Àquela altura, a paixão pelos palcos estava clara e o rapaz decidiu trocar BH pelo Rio de Janeiro. Aos 18, começou os estudos na Casa de Cultura Laura Alvim e, para se manter, se virou por um tempo como vendedor de loja em shopping center. Mas nem esquentou lugar.


Três meses depois de chegar à Cidade Maravilhosa, se mudou para São Paulo após ser aprovado para a peça “O prazer é todo meu”, de Ricardo Leitte, com direção de Carlos Machado, montada em 2019.

 

Marília Pêra

 

Ao avaliar a década e meia de ofício, diz que, para ser ator, é preciso ter muita resiliência. “Existem 'n' questões para desistir da carreira. Ao longo desses 15 anos, por exemplo, devo ter levado uns 100 nãos em testes que fazem parte do dia a dia do ator. Aí você precisa, de novo, juntar as energias para estar bem e na semana seguinte fazer um outro teste.”

 


Cosso conta que, desde que cursava teatro na Universidade Cândido Mendes, sabe que não pode ficar parado, esperando o trabalho chegar ou o telefone tocar. “Aprendi que eu precisava ser um criador, ser um artista que cria os seus projetos e faz acontecer”.


Dos tempos de faculdade, ele lembra como uma das melhores lições a resposta de Marília Pêra (1943-2015) quando perguntaram a ela qual o caminho de um ator em início de carreira.


“Ela falou uma coisa linda: 'Você deve se juntar com as pessoas com as quais tem afinidade artística, aqui mesmo na faculdade. Com elas, deve montar uma peça. Vocês vão chamar outras pessoas da faculdade, amigos, família e apresentar a montagem, nem que seja na garagem do seu prédio. Depois que o projeto nasce, ele cria vida, vai crescendo, crescendo. Mas ele tem que ter um parto, ele precisa nascer'”, relembra o ator.


Foi assim, com aquele empurrãozinho de Marília Pêra, que Igor escreveu “Primeiro sinal”, seu texto de estreia, que falava sobre o primeiro amor, encenado ao lado de Lua Blanco, atriz que fez parte do elenco da novela “Rebelde”.


“Consegui vender minha peça para várias cidadezinhas”, diz, lembrando que a estreia foi no interior da Bahia. “Fiquei três anos em cartaz. Era o produtor, atuava, contratei um cara para fazer a luz; o outro, o som. E eles me ajudavam a recolher os ingressos. Ali eu entendi o que era ser artista de verdade.”

 

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Homossexualidade

 

Igor cosso também faz sucesso nas redes sociais. Mas, antes, foi preciso quebrar uma barreira entre ele e a internet para se firmar no mundo digital: declarar publicamente que é gay. Detalhe: até 2020, quando atuava em “Salve-se quem puder”, dirigida pelo mineiro Fred Mayrink e na qual viveu Antônio Romantini Júnior, o ator não frequentava nem mesmo as confraternizações do elenco para preservar sua vida pessoal e o namoro com o dançarino e advogado Heron Leal, com quem está até hoje.


“Na pandemia, trancado no apartamento com Heron, vi que a maneira de ser uma pessoa livre, ativa na internet, era sendo quem sou.” Ao postar em seu Instagram uma foto de dois homens dando um selinho, Cosso perdeu seguidores e recebeu muitas mensagens homofóbicas. Foi quando decidiu postar imagem dele com o namorado e a seguinte legenda: “Já que estão parando de me seguir por uma foto que nem é minha, vai uma foto minha e do meu amor”.


De um dia para o outro, conseguiu mais de 100 mil seguidores. “Amadureci como artista depois desse passo”, reconhece.


No streaming, Igor Cosso pode ser visto na série “Blogueirinha, a Feia”, exibida na DiaTV. Quando terminar “Mania de você”, o ator deve participar das gravações da segunda temporada da produção, assim como iniciar os ensaios de “Todas as histórias somos nós”, texto encomendado por ele a Rafael Primor, que será dirigido por Johnny Massaro. 

 

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