A expressão é clichê e passadista, mas na falta de outra melhor, é cidadão do mundo a maneira de apresentar apresentar Marcelo Frota. Com a alcunha Momo, o belo-horizontino (nasceu aqui porque o pai, engenheiro, vivia onde trabalhava) de 45 anos chega ao sétimo álbum, “Gira”. Lançado pelo selo britânico Batov Records, é também o primeiro concebido e gravado em Londres, cidade onde vive há três anos.

 



 

“É uma coisa louca, pois foi em Londres, cidade muito melancólica, que fiz o disco mais solar e brasileiro da minha carreira”, diz Momo sobre as 10 faixas que compõem o álbum. Músico que começou a carreira no Rio de Janeiro, com o grupo Fino Coletivo, ao longo da vida já morou em Luanda, Chicago e Lisboa. Deixou o Brasil há uma década. Lançou alguns discos aqui, outros fora.

 

 

“Acho que trabalho no lugar onde estou. É difícil atuar em todos os países, a logística é muito cara. Quando saí do Brasil, era um artista indie. Ainda sou, mas aí sempre vivi à custa dos editais”, diz Momo. A troca de Lisboa (onde morou até 2021) por Londres coincidiu com o nascimento de sua primeira filha, Leonora.


A menina, hoje com 3 anos, tem tudo a ver com a sonoridade de “Gira”. “Quando ela começou a esboçar uns passos, não tinha um repertório meu para ela. A Leonora ouvia música de outros, e eu queria algo meu para que ela pudesse dançar. Além disso, minha mãe faleceu uma semana antes de ela nascer. Então, quis fazer um movimento contrário, fazer um álbum pulsante, pois as minhas músicas sempre foram mais melancólicas, com um andamento mais lento.”

 

London jazz

 

Perto de sua casa em Londres está localizado o Total Refreshment Centre (TRC), que Momo frequenta diariamente e onde conheceu muitas pessoas que fazem parte de “Gira”. “É uma casa antiga, com vários estúdios pequenos que são alugados para músicos, e onde tem também um estúdio de gravação, grande, com todos os equipamentos”, conta.


“Comecei a conhecer a cena de Londres, do London jazz, que é uma turma muito aberta. Acabei me deixando influenciar pela linguagem”, continua Momo. Ele convidou o baterista Nick Woodmansey, também frequentador do TRC, e um percussionista (que não gravou o disco). Juntos, os três começaram a tocar juntos. “Quando vi, nestes ensaios eu já tinha 15 ideias de música. Muito diferente do que fazia até então, pois eu compunha ao violão, fechava a canção e depois ia para o estúdio.”

 

 

Depois deste movimento, Momo foi para o computador e, sozinho no TRC, estruturou as músicas. Para as gravações, chamou boa parte de gente que atua no mesmo local. De brasileiros, convidou Regis Damasceno para gravar o baixo. Já Caetano Malta registrou algumas guitarras e baixo. O resultado é bem diverso, com muitos grooves, afrobeats, digressões instrumentais. Um contraponto e tanto para o folk que Momo apresentou até então.

 

Shows e vinil

 

Parceiro de Wado desde que este trocou Maceió pelo Rio, Momo dividiu com ele seis letras. “Foi tudo via Skype”, conta ele. A canção-título, por exemplo, de uma alegria quase carnavalesca, é quase uma conversa do pai para a filha.


Também pela primeira vez em sua carreira, Momo sentiu que algumas das músicas não precisavam ser cantadas. Uma delas é “A walk in the park”, com referência clara do reggae, que ganhou só um vocalise da cantora Liz Elensky (solo inclusive gravado no primeiro take). A outra instrumental é “Oqueeei”.


Além do lançamento virtual, a Batov Records acabou de lançar o vinil duplo de “Gira”. “Já fiz um show em Portugal antes de o disco sair, que foi meio a estreia de ‘Gira’”, conta ele, que nos próximos meses vai abrir shows de brasileiros em Londres: em novembro de Toninho Horta e em dezembro da banda Azymuth. Momo planeja trazer “Gira” ao Brasil entre abril e maio de 2025. 

 

“GIRA”
De Momo
Batov Records
10 faixas
Disponível nas plataformas digitais. O vinil está disponível para venda no site batovrecords.com

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