O segundo longa do cineasta e escritor mineiro Alberto Araújo, “O voo do anjo”, estrelado por Othon Bastos e Emílio Orciollo Netto, fala sobre depressão e o poder transformador das amizades. O filme está em cartaz nos cinemas do Shopping Del Rey e do Una Cine Belas Artes.

 




A trama acompanha Vitor Almeida Falcão (Othon Bastos), um professor de física aposentado, poeta e viúvo, que vive isolado na cobertura luxuosa de seu filho Renan (Gustavo Duque), um cirurgião plástico com pouco tempo livre para desfrutar de momentos com o pai.

 


Durante as comemorações de seus 88 anos, a vida do aposentado muda com a chegada de Arthur (Emílio Orciollo Netto), um entregador de delivery com quem ele acaba desenvolvendo uma amizade inesperada. Arthur é um ex-professor de sociologia que, após a trágica morte de sua filha Aurora, caiu em profunda depressão.


O diretor conta que a ideia do filme surgiu como forma de homenagear Othon Bastos, ator de 91 anos com quem ele havia trabalhado em seu último filme, “Vazio coração”. “Eu e Othon nos tornamos muito amigos e em um de nossos encontros ele me disse que por conta da sua idade não era mais convidado para papéis importantes no cinema”, conta. A partir daí, Alberto decidiu se dedicar à escrita de um filme para que pudesse trazer o protagonismo de volta a Bastos.


Durante a produção do roteiro, o aumento dos casos de depressão nos últimos anos chamou a atenção do cineasta. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) de 2023, a doença atinge 11,7 milhões de brasileiros, o que equivale a cerca de 5,8% da população.


Cenário goiano

 

“Sei que não é um tema para o cinema comercial, mas fingir que um problema não existe não faz com que ele deixe de existir”, observa Araújo. Durante o processo de escrita, o diretor fez uma série de pesquisas com famílias que já perderam algum parente de forma trágica.


O filme foi rodado em abril deste ano em Goiânia, onde está a produtora do diretor, a Fata Morgana, e na cidade de Paraúna, no interior goiano. Ele conta que a ideia era mostrar uma Goiânia “mais cosmopolita”. Com equipe, elenco e cenários locais, o objetivo foi retratar a beleza e riqueza da cidade, conforme relata Alberto Araújo, que é natural de Coromandel (Alto Paranaíba) e vive na capital de Goiás há mais de três décadas.

 

“A minha ideia era mostrar uma cidade diferente do que geralmente é mostrado. Quem não conhece a cidade, faz uma associação imediata com o sertanejo, aquela caricatura de chapéus, botas e sotaques fortes. Goiânia é muito mais que isso. É uma cidade de vanguarda na oftalmologia, cirurgia plástica e indústria da confecção, com uma cena de rock alternativo incrível e uma população de 1 milhão e meio de habitantes. É moderna, vibrante. Eu queria que o público visse esse lado inexplorado”, afirma o cineasta. 

 

Ele conta que originalmente o papel de Arthur seria de Alejandro Claveaux, mas, com a convocação do ator para o elenco de “No rancho fundo” (Globo), a escalação ficou em aberto a menos de um mês do início das gravações. Emílio Orciollo Netto foi indicado pelo próprio Othon. “Ele me mandou um vídeo da chegada dele ao aniversário de 50 anos do Emílio, no Rio. Quando vi o abraço carinhoso e a alegria entre eles, percebi que aquela amizade seria perfeita para o filme,” conta o diretor. “Na tela, a química dos dois ficou incrível”, garante.


Núcleo central do filme, a amizade entre Vitor e Arthur foi inspirada em uma amizade real que Alberto Araújo teve com um senhor chamado Timóteo Ribeiro, hoje já falecido. “Foi uma amizade fraterna. Com ele, aprendi que grandes amigos têm essa força de resgatar um ao outro”, afirma.


Olhar poético

 

Com a ajuda de Vitor, um poeta apaixonado pela obra de Augusto dos Anjos, Arthur, encontra consolo para a tragédia familiar na escrita. “Assim como as amizades, o cinema é capaz de salvar vidas. Acho que esse é o tipo de cinema que vai além do entretenimento, que deixa algo na pessoa quando a história termina é uma grande ferramenta para lidar com questões da vida”, observa o diretor.

 

 

Diretor e roteirista de “O voo do anjo”, Alberto Araújo conta ter participado da maioria dos processos de produção do longa. “Eu mesmo escrevo minhas histórias, dirijo, participo da finalização. Faço múltiplas funções. É muito prazeroso porque você vive o filme intensamente, ele automaticamente ganha a sua cara. A presença da poesia e da música, por exemplo, são muito fortes, pois é o universo ao qual pertenço”, observa.


“Eu sabia que era um tema delicado de se tratar, mas, como sou escritor e poeta, acho que consegui fazer isso de uma forma mais sensível. Acredito que conseguimos passar essa mensagem sem ir para o campo mais dramalhão, sem ficar piegas ou exagerado”, finaliza. 


“O VOO DO ANJO”
Filme de Alberto Araújo (BR, 2024, 90 min). Com Othon Bastos e Emílio Orciollo Netto. Em cartaz nos cinemas do Shopping Del Rey (Av. Presidente Carlos Luz, 3.001 – Pampulha) e do Una Cine Belas Artes (Rua Gonçalves Dias, 1.581 – Lourdes).

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