O espetáculo “O toró”, da Trupe de Teatro e Pesquisa, adapta “A tempestade”, texto de William Shakespeare (1564-1616), para a cultura mineira. A peça volta ao cartaz nesta quinta-feira (31/10), no Centro Cultural Unimed-BH Minas, depois de estrear no ano passado.

 

 


No texto original, Próspero, duque de Milão, é injustamente destituído de seu título e exilado em uma longínqua ilha ao lado de Miranda, sua filha.

 

 



 


Agora, Próspero é um coronel dono de terras às margens do Rio São Francisco. “O toró” fala sobre amor, perdão e arrependimento utilizando o humor – a cargo de dois personagens, o bêbado e do palhaço –, além de elementos fantásticos.

 


“Tem dramas e conflitos, mas termina tudo bem, com todo mundo feliz e realizado. Essa é a característica do que se chama comédia de Shakespeare”, afirma o diretor Yuri Simon.

 


Traçando um paralelo entre o universo shakespeariano e Minas Gerais, as entidades fantásticas da natureza, representadas no original por Calibã e Ariel, chegam ao palco como lendas do sertão.

 

 


A montagem comemorou os 30 anos da companhia, formada em 1993 por amigos que atuavam no grupo de teatro do Cefet-MG. A primeira peça da Trupe foi “Os saltimbancos”, dando início ao repertório formado por clássicos da dramaturgia com linguagem contemporânea.

 


“A gente sempre teve uma vertente real para a montagem de textos mais clássicos”, explica Yuri Simon, um dos fundadores do grupo.


Grandiosidade

 

Ao longo de suas três décadas, é a primeira vez que a companhia monta Shakespeare. “Queríamos um texto com grandiosidade dramatúrgica para a comemoração desse marco”, diz Simon. É a décima montagem da companhia, que já apresentou releituras de Dostoievski e Ésquilo.

 


No caso de “O toró”, a primeira coisa que veio na cabeça do diretor foi o título. Depois, ocorreu o longo processo de tradução coletiva de “A tempestade”.

 

 


“Fizemos a nossa tradução do inglês original. Até chegamos a ler algumas traduções já prontas, mas nenhuma nos satisfez. Então fomos direto do inglês para o 'mineirês'”, conta Yuri Simon.

 


“A gente acredita que Shakespeare era um cara popular que escrevia para o povão. Naquela época, ninguém era alfabetizado, então o teatro tinha linguagem mais popular. Com o passar do tempo, o inglês arcaico do texto original foi se tornando erudito, por isso as traduções atuais são muito difíceis de entender”, explica.

 


São 11 atores em cena: Alex Zanonn, Alexandre Toledo, Alice Maria, Eder Reis, Edu Costa, Elton Monteiro, Jader Corrêa, Marcus Labatti, Roberto Polido, Sidnéia Simões e Simone Caldas. Além de transformar o duque em coronel, a companhia mudou o sexo de dois personagens originalmente masculinos. O conselheiro e o irmão do rei, Gonçalo e Sebastião, viraram Gonçala e Sebastiana.

 


Outras adaptações foram realizadas para evitar repetições e reduzir a duração do espetáculo. Originalmente encenado em quatro horas, ele tem 120 minutos.

 


“A gente manteve a essência. Mesmo escrito em 'mineirês', ele é muito próximo da versão original. Mantivemos toda a linha de construção do texto”, garante o diretor. “É Shakespeare. Não estamos deixando de montar Shakespeare”, afirma.

 


O cenário minimalista dá destaque aos figurinos desenvolvidos por Alexandre Colla em parceria com estudantes de design da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg). Ao fundo, são projetadas paisagens do Rio São Francisco, do cerrado e da mata atlântica. Executada ao vivo, a trilha sonora de Fernando Chagas traz arranjos originais de canções mineiras, incluindo congado e folia de reis.

 


“O TORÓ, DE SHAKESPEARE”


Montagem da Trupe de Teatro e Pesquisa. Sessão nesta quinta-feira (31/10), às 20h, no Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). Ingressos: R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia), à venda na bilheteria do teatro e na plataforma Sympla.

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