Obra de Ângelo Arantes é exemplo da ideia do indivíduo  se dissolvendo no coletivo, um dos temas da exposição -  (crédito: Reprodução)

Obra de Ângelo Arantes é exemplo da ideia do indivíduo se dissolvendo no coletivo, um dos temas da exposição

crédito: Reprodução

Impermanência, efemeridade, apagamento, tempo, matéria, imaginação – a soma dessas ideias e conceitos baliza a exposição coletiva “Tudo é real, tudo é sempre outra coisa”, em cartaz no Centro Cultural UFMG, na sala Celso Renato de Lima. A mostra reúne obras dos artistas Angelo Arantes, Bianca Perdigão, Fernanda Gontijo, Frederico Almeida, Gustavo Machado, Márcio Murari, Mateus Lustosa e Murilo Caliari, com curadoria de Sarah James.

 

 

Diferentes técnicas e materiais – colagens, pinturas, desenhos, impressões, vídeo – são empregados com o objetivo de explorar a transformação e a efemeridade da imagem. A curadora explica que esse grupo de artistas se conheceu na pós-graduação da Escola Guignard, há dois anos. O embrião de “Tudo é real, tudo é sempre outra coisa” está no encontro dos participantes da coletiva e nas afinidades estéticas e conceituais que os aproximaram.

 

“É um grupo bem heterogêneo no que diz respeito a experiências, formações e idades, mas, vendo a produção de cada um, as investigações em curso, chegamos nessa temática. Foi um denominador comum, um assunto que estava interessando a todos. Angelo e Fernanda já tinham trabalhos em fotografia em consonância com o tema. Márcio também tinha um vídeo produzido. Algumas obras já existiam, outras foram criadas para a exposição”, diz.

 


Integrante do grupo, Sarah foi eleita para ser a curadora porque já havia exercido essa função anteriormente. Entre os artistas do coletivo, somente Murilo Caliari não é egresso da Escola Guignard. “Costumamos dizer que ele foi uma aquisição. Ele veio de fora, mas com um trabalho que tem tudo a ver, deu liga”, afirma a curadora.

 

 

Obra de Mateus Lustosa na exposição "Tudo é real, tudo é sempre outra coisa"

Egresso da Escola Guignard, Mateus Lustosa participa da mostra, que tematiza a efemeridade e o apagamento da identidade

Reprodução

 

Diálogo

As obras estabelecem um diálogo entre si, o que é fruto de muitas conversas e muitas trocas entre os artistas, segundo Sarah. “Os trabalhos se desdobram, essa ideia de impermanência, de efemeridade e de identidade passa de um para o outro.” Ela ressalta que mesmo a forma como cada um dos artistas se coloca na mostra reflete as temáticas que guiam “Tudo é real, tudo é sempre outra coisa”, na medida em que representam uma certa ausência.

 

“Nesse grupo, tem nomes que trabalham principalmente com pintura, mas trouxeram fotografia, por exemplo. O foco é a força do coletivo, não são só artistas querendo mostrar individualmente sua produção. Isso tem a ver com o tema, a presença conjunta dentro dessa ideia do apagamento, porque cada um teve que se apagar um pouco para entrar no processo do outro. O indivíduo retratado não sou eu, mas uma representação”, explica.

 


Nesse sentido, as possibilidades de espiar, desaparecer, renunciar, encontrar a si e buscar o outro são temas que flutuam nos trabalhos dos artistas. A ideia é que o corpo transcenda sua mera existência física, fazendo surgir um eu refletido, capaz de estar em qualquer lugar desejado, segundo Sarah. Ela salienta que todos exploram maneiras de evanescer e, unificados por esse gesto poético, deixam sua presença coletiva de forma mais marcante.

 

“Os artistas partilham suas investigações e processos com matérias primas ora inusitadas, ora cotidianas, convidando todos a um novo olhar sobre o que fica e sobre o que o tempo leva. A impermanência e o desgaste da matéria tornam-se temas centrais e se desdobram em reflexões sobre a presença e a ausência”, afirma. “Tudo é real, tudo é sempre outra coisa” se configura como uma crítica ao individualismo, de acordo com a curadora.

 


Cada um participa com apenas uma obra, ainda que seja um conjunto. Um dos trabalhos em fotografia, por exemplo, é um políptico. “Outro é uma impressão enorme na parede. Tem um que apresenta uma imagem, mas é, na verdade, uma instalação sonora, com um fone em que o visitante ouve uma gravação que diz dessa imagem”, cita Sarah.

 

Ela chama a atenção, ainda, para trabalhos que se desdobram no tempo, como no caso de uma imagem estática que deriva de uma performance realizada anteriormente. Por meio da justaposição de materiais distintos e ações complementares, pequenas histórias são formuladas, o que pode implicar uma ficção do cotidiano e, ao mesmo tempo, o registro dos encontros e procedimentos adotados durante a jornada de criação.

 

“TUDO É REAL, TUDO É SEMPRE OUTRA COISA”
Exposição coletiva, em cartaz na sala Celso Renato de Lima, no Centro Cultural UFMG (Av. Santos Dumont, 174, Centro). De terça a sexta, das 9h às 20h; sábados, domingos e feriados, das 9h às 17h. Até 1º/12. Entrada franca.

 

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Outra exposição

Na sala Ana Horta do Centro Cultural UFMG está em cartaz a coletiva “Desenvolvimento”, que reúne trabalhos dos alunos do Atelier de Escultura da Escola de Belas Artes da UFMG, com curadoria de Fabrício Fernandino. “Desenvolvimento” reúne produções dos alunos Ana Maia, Camilla Campos, Gabriel Duarte Lauriano, Gui Orzil, Henrique Pinto de Matos, Julia Manzani Loero, Laura Dias, Leandro Caldeira, Luiz Claudio Perpétua Custodio, Marco Caetano, Riel, Rodrigo Lucendi, Tatyana Müller Soares, Vitor Medeiros, Victor Lara Borem e Yurika Morais. A mostra fica em cartaz até o dia 1º de dezembro, com entrada franca.