Homenageada pela exposição "A presença feminina na literatura – um caminho
 difícil", Constância Lima Duarte vai conduzir debate na AML -  (crédito: Izabel Lima/divulgação)

Homenageada pela exposição "A presença feminina na literatura – um caminho difícil", Constância Lima Duarte vai conduzir debate na AML

crédito: Izabel Lima/divulgação

 

 

Na reta final de sua temporada na Academia Mineira de Letras (AML), a exposição “A presença feminina na literatura – um caminho difícil”, que estreou em 5 de outubro e fica em cartaz até esta quarta (6/11), é mote do bate-papo que vai reunir, nesta terça-feira (5/11), às 19h, as escritoras Conceição Evaristo, Antonieta Cunha e Ana Cecília Carvalho. A conversa será conduzida por Constância Lima Duarte, homenageada da mostra por suas numerosas pesquisas e publicações acerca do tema.

 

 


As quatro vão falar das respectivas trajetórias no campo da literatura e dos estudos literários como ponto de partida para a discussão sobre a invisibilidade das escritoras no Brasil. A mostra exibe cerca de 70 livros, quase sempre em primeira edição, de 49 autoras brasileiras dos séculos 18 ao 20.

 

 

Constância Duarte diz que a exposição revela uma verdade “pouquíssimo conhecida” sobre a difícil trajetória intelectual da brasileira.

 

“Elas sempre estiveram presentes, só que desapareceram da memória, não foram devidamente integradas ao cânone, à história literária e à história, de modo geral, por causa do corporativismo masculino. Críticos e historiadores simplesmente ignoraram as mulheres”, diz.

 


Algumas escritoras até receberam elogios de autores importantes, como Machado de Assis e Lima Barreto, mas quando morriam, as obras morriam junto, pois não eram reeditadas ou incluídas em antologias, pontua Constância.

 

“Essa exposição é valiosa porque nos permite revisitar páginas perdidas da história intelectual da mulher brasileira, uma história que, na verdade, ainda está por ser escrita”, ressalta.

 

"Memoricídio" corporativista

 

A mostra revela o sistemático apagamento da memória das mulheres na literatura. Pioneiras que escreveram nos séculos 18 e 19 jamais foram mencionadas, destaca Constância. Diz que elas foram vítimas de “memoricídio”, com lutas e conquistas apagadas pelo corporativismo masculino, que desvalorizava esta produção ao ponto de “literatura feminina” virar rótulo negativo.

 


A exposição, a propósito, tem uma vitrine especial dedicada a obras das 11 escritoras que fazem e fizeram parte da Academia Mineira de Letras: Alaíde Lisboa, Ana Cecilia Carvalho, Carmen Schneider Guimarães, Conceição Evaristo, Elizabeth Rennó, Henriqueta Lisboa, Lacyr Schettino, Maria Antonieta Antunes Cunha, Maria Esther Maciel, Maria José de Queiroz e Yeda Prates Bernis.

 

Escritora Antonieta Cunha olha para a câmera

Antonieta Cunha é vice-presidente da Academia Mineira de Letras

Glaucia Alves/divulgação

 


“Ana Cecília Carvalho foi eleita recentemente. Conceição Evaristo tomou posse este ano, no dia 8 de março. Antonieta Cunha é vice-presidente da Academia. São três ilustres escritoras, cada uma com sua contribuição importante para a literatura e para a própria instituição. A presença delas diversifica a literatura mineira que é ali representada”, diz Constância.

 


O encontro desta terça será um evento expositivo e dialógico. “Meu papel é destacar esta importante e inédita exposição e chamar as escritoras para falar sobre suas trajetórias e conversar sobre literatura”, adianta. “O que as escritoras de hoje estão enfrentando? Já foram vencidas as dificuldades que perduraram durante tantas décadas e séculos? São perguntas importantes que devemos abordar”, destaca Constância.

 


De acordo com a pesquisadora, ao acompanhar a trajetória das escritoras desde o século 18, é preciso admitir que muito foi conquistado. “As pioneiras abriram caminho, abriram possibilidades para todas que vieram depois”, ressalta.

 

“As pioneiras foram apagadas, mas abriram portas. As escritoras de hoje têm uma tradição a ser revista. As precursoras foram invisibilizadas, mas elas marcaram presença. A exposição traz autoras do século 18, passa por escritoras importantes do século 19 e entra no século 20, aí, sim, apresentando nomes conhecidos, como Henriqueta Lisboa ou Cecília Meireles”, destaca.

 

 


Mesmo autoras do século 20 que desfrutam de reconhecimento têm obras que são ignoradas pelo do público em geral, observa Constância. “É uma exposição valiosa por mostrar esta presença e contemplar edições pouquíssimo conhecidas, algumas muito raras, de Hilda Hilst, Cora Coralina e Carolina Maria de Jesus. Há ali algumas primeiras edições que, em alguns casos, tiveram só 200 ou 300 exemplares lançados”, diz.

 

Acervo precioso

 

Entre os livros exibidos na mostra “A presença feminina na literatura – um caminho difícil” estão “Máximas de virtude e formosura”, de Teresa Margarida da Silva e Orta, o primeiro romance de que se tem conhecimento de autoria de uma mulher no Brasil; os poemas de Maria Firmina dos Reis, reconhecida como a primeira autora negra do país; “Espectros”, o livro mais raro de Cecília Meireles; e as primeiras publicações de Henriqueta Lisboa e Lygia Fagundes Telles, posteriormente relegadas pelas autoras.

 

DEBATE NA AML


Reflexões sobre a exposição “A presença feminina na literatura brasileira – um caminho difícil”, com Constância Lima Duarte, Conceição Evaristo, Ana Cecília Carvalho e Antonieta Cunha. Nesta terça-feira (5/11), às 19h, na Academia Mineira de Letras (Rua da Bahia, 1.466, Lourdes). Entrada franca.