Ana Cecília Carvalho é a primeira psicanalista a integrar a Academia Mineira de Letras  -  (crédito: Gisele Gontijo/Divulgação)

Ana Cecília Carvalho é a primeira psicanalista a integrar a Academia Mineira de Letras

crédito: Gisele Gontijo/Divulgação


“Uma surpresa e alegria enorme”. A escritora e psicanalista Ana Cecília Carvalho recebeu empolgada a notícia de que fará parte da Academia Mineira de Letras (AML). A posse da escritora será nesta sexta-feira (8/11). A eleição foi disputada com outros sete candidatos e decidida por unanimidade em agosto deste ano.

 


Décima primeira mulher a integrar a entidade, ela ocupará a cadeira 36, que anteriormente pertencia a Aloísio Teixeira Garcia, falecido em 2024, aos 80 anos, e tem como patrono Eloy Ottoni. Natural de Belo Horizonte, Ana começou na escrita ainda na adolescência. Já na faculdade de psicologia, no início da década de 1970, publicou seus primeiros contos no Suplemento Literário de Minas Gerais. Especializou-se como mestre em psicologia e doutora em literatura, e foi professora de psicanálise no Departamento de Psicologia da UFMG por 30 anos.

 

Siga nosso canal no WhatsApp e receba em primeira mão notícias relevantes para o seu dia

 

“É a primeira vez que a Academia elege uma psicanalista, mas muito antes de ser psicanalista eu já escrevia. O fato de ser escritora é anterior à psicanálise. A escrita literária é algo que eu faço desde muito antes, inclusive, de começar com a psicologia. Antes de tudo, sou uma escritora”, diz.


Com mais de 10 livros publicados, Ana Cecília tem obras que transitam entre ficção e literatura acadêmica. A primeira publicação, “O livro dos registros”, veio em 1976. Depois dele, escreveu “Trilogia da inquietude” (Quixote-Do), “A poética do suicídio em Sylvia Plath” (Editora UFMG), “O livro neurótico de receitas” (Ophicina de Arte & Prosa) e “Uma mulher, outra mulher” (Editora Lê), entre outros.


Avó e neta


A publicação mais recente é “O mundo das fitinhas perdidas” (Pangeia Editorial), livro escrito a quatro mãos com a neta, Stella Valente, de 8 anos. A obra traz ilustrações feitas com lápis de cor pela própria Stella, trabalhadas pela designer Alexandra Abdala. Ana Cecília venceu o Prêmio Brasília de Literatura e, por duas vezes, o Prêmio Cidade de Belo Horizonte. Em 1993, foi finalista do Prêmio Jabuti.

 

 

Sobre a aproximação entre literatura e psicanálise, revela: “Literatura e psicanálise, na minha vida, se nutrem uma da outra. Freud costumava usar a expressão ‘fertilização cruzada’. Elas se alimentam. No meu caso, as duas coisas convivem muito bem”.


“Não posso imaginar um psicanalista que exerça atividade clínica e que não se alimente da literatura, do cinema, da música e de todas essas coisas que enriquecem a nossa escuta. Se o escritor pode passar longe da psicanálise, o psicanalista não vai muito longe se ele se nutrir apenas de textos teóricos e de técnica”, completa.

 

 

Atualmente, são acadêmicas da AML as escritoras Elizabeth Rennó, Yeda Prates Bernis, Maria Esther Maciel, Conceição Evaristo e a vice-presidente Antonieta Cunha. Ana Cecília espera que sua presença abra caminhos para maior representatividade feminina na instituição.


“Nossa presença ainda é discreta, mas antes de mim tivemos nomes como Maria José de Queirós e Henriqueta Lisboa. Temos que lembrar que há duas patronas na Academia Mineira de Letras: Bárbara Heliodora e Beatriz Brandão. Há reconhecimento, sim, da presença feminina. É preciso expandir esse número, fazê-lo crescer. Tenho esperança de que isso vai acontecer”, afirma.


Renovação


Eleita para a Academia Mineira de Letras em um momento em que a instituição busca pluralidade e renovação, Ana Cecília se diz aberta para dialogar e continuar promovendo encontros culturais na casa, que nos últimos anos vem ampliando o número de ações com o envolvimento da sociedade.


“Fazer parte de uma instituição que se compromete da maneira como a AML está fazendo para promover diálogos e abrigar projetos culturais é uma condecoração para mim. Minas Gerais sempre foi um celeiro de escritores, artistas e pensadores, como Carlos Drummond de Andrade e Fernando Sabino, e, na cena contemporânea, Jaime Prado Gouvêa, Branca Maria de Paula e Carlos Herculano. Então, uma casa como a AML não poderia deixar de ter como marca registrada a cultura em primeiro lugar”, conclui.