À noite, Vanille Goovaerts e Ricardo Herz vão se apresentar na Fundação de Educação Artística. De tarde, o casal ministra aula aberta no Conservatório UFMG -  (crédito: Mikes Micacles/Divulgação)

À noite, Vanille Goovaerts e Ricardo Herz vão se apresentar na Fundação de Educação Artística. De tarde, o casal ministra aula aberta no Conservatório UFMG

crédito: Mikes Micacles/Divulgação

 

Em janeiro de 2019, o músico paulista Ricardo Herz, conhecido por reinventar o violino brasileiro, seguia rumo à Ilha do Cardoso, no litoral Sul de São Paulo, para estudar o fandango caiçara, manifestação cultural típica da região. No barco, conheceu a francesa Vanille Goovaerts, que, apaixonada pela música brasileira desde seu país de origem, viajava com o mesmo intuito. Naquela ocasião, durante o percurso, começaram a selar uma parceria na vida e na arte.

 


A sintonia fina entre os dois, fruto de um “amor à primeira vista”, como diz Herz, e de uma convergência de interesses, poderá ser conferida pelo público de Belo Horizonte no espetáculo “Redescobrindo o violino popular e a rabeca”, que o duo apresenta nesta sexta-feira (8/11), às 20h, na Fundação de Educação Artística – FEA, com entrada franca. O repertório é predominantemente autoral, com composições de Herz, algumas de Vanille e uma releitura de Gilberto Gil – que será surpresa.

 

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Xote, choro e baião


Ele diz que são todos temas baseados em ritmos brasileiros, do xote ao choro, executados numa dinâmica de alternância entre o violino, a rabeca e o canto. “A escolha das músicas que compõem o roteiro foi orientada pela coisa da brasilidade mesmo, buscando uma variedade. Tem um xote, tem um baião mais lento, um choro, uma toada, um chamamé, que é um ritmo do Rio Grande do Sul. Também pensamos em músicas que funcionam bem para dois violinos ou violino e rabeca”, destaca.

 

 

O espetáculo revela o interesse dos dois por ritmos populares e tradicionais, com suingue, conforme diz. Herz observa que a rabeca, muito comum na música popular nordestina, é o nome antigo do violino, mas ressalta que hoje no Brasil existem algumas diferenças entre os instrumentos. “No Conservatório de Lisboa, até por volta de 1910 ou 1911, o violino era chamado de rabeca, que segue muito presente na música popular brasileira. A rabeca é mais aberta, pode ter cinco cordas e diferentes afinações”, explica.


Violino brasileiro


Ele ressalta que, apesar dessa presença, trata-se de um instrumento ainda “meio escondido”. Herz diz que as pessoas não sabem que o violino faz parte da música popular no Brasil. “Estamos querendo mostrar a concepção de um violino brasileiro, que é um pouco diferente, na medida em que se inspira em outros instrumentos. A ideia é criar coisas novas, com o violino fazendo o papel da sanfona, do cavaquinho ou emulando o clarinete e a flauta no choro. Fica muito orgânico, sem forçar a barra”, diz.


Outro detalhe da apresentação para o qual o artista chama a atenção é o fato de guardar bastante espaço para a improvisação, o que se relaciona com a fluência do duo na seara do jazz. “Os ritmos são bem brasileiros, populares, mas esse show tem também um certo verniz de música de concerto, porque é completamente acústico, num formato de recital ou de apresentações orquestrais”, destaca.

 

 

“Redescobrindo o violino popular e a rabeca” estreou no Rio de Janeiro e, depois de Belo Horizonte, segue para Vitória e para Belém. Além das apresentações, essa circulação do duo prevê aulas abertas em que os músicos falam de seus processos criativos. Em Belo Horizonte, ela será realizada também nesta sexta-feira, das 14h às 17h, no Conservatório da UFMG, para alunos da Escola de Música e para o público interessado em geral.


Herz diz que essa atividade formativa consiste em um bate-papo, com demonstrações práticas do que é dito e com espaço aberto para quem quiser tocar também, de forma a promover uma troca de experiências. “A gente fala do processo de criação das músicas, dos arranjos, da improvisação e de como acompanhar com o violino, que normalmente aparece como solista e sempre muito atrelado à partitura”, adianta.


Amor à primeira vista

 

A aula aberta vai contar como curso de extensão da Escola de Música da UFMG, e se aplica tanto ao campo da música popular quanto da erudita.


“Aprendemos com partitura, mas também de ouvido. Vamos elaborando arranjos como se faz na música popular. É um processo a que o pessoal não está muito acostumado. É legal explicar como a gente faz, principalmente para alunos da música de concerto, falando sobre clave, sobre ritmos brasileiros e sobre como pensar acompanhamentos”, ressalta Ricardo Herz.


Recapitulando o encontro com a parceira, ele conta que Vanille conheceu e se apaixonou pela música brasileira, especialmente o forró, quando ainda estudava jazz no Conservatório de Chambéry, na França. Ela veio ao Brasil para pesquisar a cultura local em 2018 e retornou no ano seguinte.


“Nos conhecemos no barco, indo para a Ilha do Cardoso, e chegando lá já nos apresentamos juntos pela primeira vez. Foi amor à primeira vista. Começamos a namorar, seguimos tocando juntos e acabamos nos casando”, relata.


Outras frentes

 

Além da atuação em duo, Ricardo Herz e Vanille Goovaerts gravam e se apresentam individualmente, além de participarem de outras formações.


Ele acaba de disponibilizar nas plataformas o álbum “Sonhando o Brasil”, com o trio que integra ao lado do pianista Fábio Leandro e do baterista Pedro Ito. Além do trabalho solo, gravou discos e se apresentou em duo com Nelson Ayres, Yamandú Costa, Antônio Loureiro e Samuca do Acordeon.


Radicada desde 2019 em São Paulo, Vanille integra, também ao lado de Herz e dos percussionistas Guegué Medeiros e Alice Vaz, o projeto Ronco do Violino, Forró de Rabeca. Ela faz parte ainda do grupo Chegaê, do Coletivo Forró das Minas, da formação feminina Octeta e do Ensemble Choro Erudito.

 

“REDESCOBRINDO O VIOLINO POPULAR E A RABECA”
Com Ricardo Herz e Vanille Goovaerts. Nesta sexta-feira (8/11), às 20h, na Fundação de Educação Artística (Rua Gonçalves Dias, 320 – Funcionários). Os ingressos, gratuitos, devem ser retirados em feanh.byinti.com. Os artistas participam também de aula aberta, hoje, das 14h às 17h, no Conservatório UFMG (Av. Afonso Pena, 1.534 – Centro). A atividade é gratuita, mas requer inscrição prévia pelo https://forms.gle/kFk84bCvPdbbjA7L6.