Você pode ter 20, 30, 50 anos, ter nascido na região que for do país. Não importa, a identificação é imediata: “Leão! Leão! Leão!/ És o rei da criação”; “Lá vem o Pato/ Pata aqui, pata acolá”. Bastam os primeiros versos das canções de Vinicius de Moraes (1913-1980) para que sejamos transportados para outro tempo – e aí, cada qual siga sua própria viagem.
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A animação “Arca de Noé”, em cartaz nos cinemas, é a melhor tradução que o clássico infantil poderia ter. Faz jus à criação de Vinicius, o livro (1975) e os discos (1980 e 1981) homônimos, mas não se perde no saudosismo. É uma narrativa conectada com a atualidade, que não se furta a subverter a história. Nesta arca, são dois penetras que conduzem a trama.
Dois ratos artistas, o poeta Vini (voz de Rodrigo Santoro) e o músico Tom (Marcelo Adnet), não receberam convite para entrar na arca que vai salvar o mundo do grande dilúvio criado por Deus (Seu Jorge). Depois de muita confusão, Tom consegue entrar. Vini fica de fora, mas acaba salvo pela barata Alfonso (Gregório Duvivier).
Lá dentro, está valendo a lei do mais forte. O leão Baruk (Lázaro Ramos) se coloca à frente da turba, enredando os pequenos e fazendo valer a própria vontade. Só que a ratinha Nina (Alice Braga) é engenhosa, e com a ajuda de Menininha (Rihanna Barbosa), neta de Noé (Júlio Andrade) e Ruth (Edvana Carvalho), consegue reverter a situação. É por meio de um concurso musical que Vini e Tom conseguirão se salvar.
“Arca de Noé” é dirigido pelo cineasta baiano Sérgio Machado com Alois Di Leo, realizador egresso da animação nascido no Peru, filho de pais europeus e criado em São Paulo. O projeto vem sendo realizado há mais de uma década.
Apresentado como a maior animação brasileira já feita, o filme é produzido pela Gullane com a Videofilmes em parceria com a Índia, por meio do estúdio Symbiosys Entertainment, e com o CMG (Cinema Management Group), dos EUA. Já foi vendido para mais de 70 países.
Tudo parece grande, e é. Mas o projeto nasceu em casa. Primogênita de Vinicius, a atriz Suzana de Moraes (1940-2015), a quem o longa é dedicado, procurou Walter Salles para fazer o filme. O cineasta, que assina a supervisão artística do longa, o encaminhou para Sérgio Machado.
Como diretor, Machado ficou conhecido por “Cidade Baixa” (2005), mas começou como assistente de Salles em “Central do Brasil” (1998). “Acho que o Waltinho me chamou porque trabalho com ele há muitos anos e sempre estou rodeado de crianças. Na época do ‘Central’, criei uma relação forte com o Vinicius (de Oliveira), que era garoto. Nunca tinha imaginado dirigir um filme infantil, muito menos animação”, diz.
Mas o que o pegou, mesmo, foi a música de Vinicius (em parcerias com Toquinho, Paulo Soledade e Luis Henriquez Bacalov). “Sempre fui fã dele, e a ‘Arca de Noé’ faz parte da minha memória enquanto criança e depois como pai”, continua Machado, acrescentando que, mesmo adolescente, chorava toda vez que ouvia a canção “Menininha”.
“Tinha medo de minha irmã crescer. Depois, tive a mesma emoção com a minha filha, de querer que ela ficasse sempre daquele jeito. Quando contei isso para a Suzana, ela falou: ‘Não acredito, você, um ‘homão’ desses, chorou com a ‘Menininha’.”
Assim que o projeto ganhou maior vulto, Alois Di Leo foi chamado para ser o codiretor. “Estava pulando no abismo, em um lugar que não conhecia. Conhecia dramaturgia, contar histórias, mas não tinha nenhuma experiência com animação”, acrescenta Machado.
“Teve um momento em que o Sérgio precisou se ausentar, fazer outros filmes, escrever roteiros, então fiquei no lugar de carregar a bandeira, levar a história que ele tinha dirigido no começo até o final”, comenta Di Leo.
Elenco de estrelas
O elenco de “Arca de Noé” é imenso, cheio de estrelas. Além dos nomes já citados, participaram Bruno Gagliasso, Giovanna Ewbank, Eduardo Sterblitch, Ingrid Guimarães, Marcelo Serrado, Chico César, Adriana Calcanhotto, Céu, BaianaSystem e Luis Miranda.
“Eu queria voar na animação, desde sempre queria grandes atores. Então chamei meus amigos, pessoas que trabalharam comigo em algum filme. Na verdade, acabei convidando mais gente. E todo mundo topou no mesmo segundo. No final, a gente tinha mais ator do que personagem. Então, agora sou persona non grata para os que não fizeram. A gente tem que começar urgentemente ‘Arca 2’ para chamar esse pessoal”, finaliza Machado.
“ARCA DE NOÉ”
(Brasil, 2024, 95min, de Sérgio Machado e Alois Di Leo) – O filme está em cartaz em salas dos shoppings BH, Big, Boulevard, Cidade, Contagem, Del Rey, Diamond, Estação, Itaupower, Minas, Monte Carmo, Norte, Pátio e Via.
Que confusão é essa, Sérgio?
Infecção causada por um fungo, um médico, um cineasta e uma atriz muito desligada. Em abril de 2023, Heloísa Perissé contou no “Que história é essa, Porchat?”, um dos melhores (e mais vexamosos) casos do programa do GNT comandado por Fábio Porchat. Sérgio Machado é o nome do ginecologista da atriz. Mas por causa de confusão de Heloísa, foi seu homônimo, o diretor baiano, quem ouviu suas lamúrias sobre uma crise de candidíase.
A história é hilária. Rendeu tanto que Porchat convocou, semanas mais tarde, todos os envolvidos para uma live. O telefonema para o Sérgio errado aconteceu há muitos anos. “Era o mínimo que ela me devia, não é?”, brinca Sérgio Machado, o cineasta, falando sobre a participação de Heloísa em “Arca de Noé”. Ela colaborou com o roteiro (ao lado de Ingrid Guimarães) e fez a voz da personagem Furona. “Não tinha nem chance de ela rejeitar”, acrescenta o diretor.