Ailton Krenak na exposição sobre a Amazônia em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil -  (crédito: Jair Amaral/EM/D.A Press)

Ailton Krenak na exposição sobre a Amazônia em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil

crédito: Jair Amaral/EM/D.A Press

Já se passaram quase 40 anos desde que o pensador, ativista e escritor Ailton Krenak fez um discurso contundente na Assembleia Nacional Constituinte, em 1987. Pintou o rosto de preto com pasta de jenipapo como manifestação cultural “com significado de indignação – e que pode expressar também luto – pelas insistentes agressões que o povo indígena tem indiretamente sofrido”, explicou.

 


 
Se naquela época as lutas e as bandeiras dos povos originários passavam ao largo do debate público, o cenário mudou. Os avanços de políticas nessa área foram tímidos, é verdade. Contudo, questões colocadas em pauta em 1987 ganharam evidência nos últimos anos.

 


Exemplo disso é a palestra “Confluir mitos e encantarias: Arte, memória e direitos humanos”, que será realizada neste sábado (9/11), no CCBB-BH, como parte da exposição “Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak”.

 

 

 


No bate-papo, estarão presentes Krenak, o artista plástico rondoniense Rafael Prado e Claudelice Santos, liderança da luta em favor das populações tradicionais e da conservação da Amazônia. Com mediação da jornalista Mariana Cordeiro, a conversa será sobre como a produção cultural amplia o acesso do público a saberes ancestrais, direitos humanos e resgate de cosmovisões sustentáveis do passado.

 


A ideia do encontro nasceu de Rafael Prado, residente do Programa Bolsa Pampulha. Ele vem desenvolvendo o projeto Povos Amazônicos Não Morrem, Viram Sementes, voltado para os guardiões da floresta.

 

“São ativistas e defensores de diferentes áreas: indígenas, indigenistas, seringueiros, castanheiros, ribeirinhos. Pessoas que foram mortas por estarem na linha de frente da floresta”, explica Prado.

 

 


Dois desses guardiões são José Claudio Ribeiro da Silva e Maria Espírito Santo – irmão e cunhada de Claudelice Santos. O casal de castanheiros foi assassinado por pistoleiros em 2001, no assentamento agroextrativista Praialta Piranheira (PA).

 


“Nós, que viemos da Amazônia, temos relação muito mais intrínseca com a natureza, uma relação de simbiose com o próprio meio. É por isso que muitos entram na linha de frente da defesa da Amazônia”, ressalta Prado.

 

 

Mutação comportamental

 


“O mundo atualmente está passando por uma mutação comportamental”, diz Ailton Krenak. “Não é mais a Terra que vai adoecer, agora vai ser o adoecimento das pessoas. A gente já está vendo os diagnósticos de sofrimento mental e outras coisas que temos aí”, adverte.


O antídoto seria a arte? “As pessoas falam da arte como se fosse placebo”, destaca Krenak. “A pergunta deveria ser: num campo de tanta disputa de mundo, vai sobrar algum lugar para a arte?”, questiona. 

 

 

“CONFLUIR MITOS E ENCANTARIAS: ARTE, MEMÓRIA E DIREITOS HUMANOS”


Bate-papo com Ailton Krenak, Rafael Prado e Claudelice Santos. Neste sábado (9/11), às 19h, no CCBB-BH (Praça da Liberdade, 450, Funcionários). Entrada franca, mediante retirada de ingresso no ccbb.com.br/bh ou na bilheteria, a partir das 18h.