Com 60 anos de trajetória artística, Chico Buarque lançou canções, romances, peças de teatro e livro de contos. Em 2019, ganhou o respeitado Prêmio Camões -  (crédito: Francisco Proner/divulgação)

Com 60 anos de trajetória artística, Chico Buarque lançou canções, romances, peças de teatro e livro de contos. Em 2019, ganhou o respeitado Prêmio Camões

crédito: Francisco Proner/divulgação

 

 

Com sua vasta e incensada produção musical, dramatúrgica e literária, Chico Buarque é tema da última edição do projeto Letra em Cena em 2024. A convidada é a professora Ana Maria Clark Peres, que há 16 anos se dedica ao estudo da obra do escritor e compositor.

 

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Nesta terça-feira (12/11), às 19h, no Centro Cultural Unimed-BH Minas, o evento vai contar com a participação do músico Celso Adolfo, que interpretará canções mencionadas ao longo da palestra. O ator Odilon Esteves fará a leitura de um capítulo do romance “Leite derramado” (2009), vencedor do prêmio Jabuti.

 

 

Doutora em estudos literários pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pós-doutora pela Université Paris 8 e pela Universidade de São Paulo (USP), Ana Maria Clark Peres é uma das maiores especialistas do país na obra do compositor e escritor.

 

Ela conta que já era “encantada” pela música de Chico desde a adolescência. “Budapeste”, romance lançado por ele em 2003, a instigou a tomar o artista como objeto de estudo.

 

 

Atualmente, Clark desenvolve a quinta pesquisa sobre o compositor e escritor. A primeira, iniciada em 2008 com o apoio do CNPq e concluída três anos depois, analisa a interlocução da obra de Chico com a psicanálise.

 

“Detectei em 'Budapeste' ligação com algumas reflexões de Lacan acerca do interior e do exterior, do dentro e do fora. Peguei um pouco a ideia de nacional e estrangeiro, de masculino e feminino com que ele trabalha no romance, e relacionei com a psicanálise”, diz.

 

Logo em seguida, “Chico – Uma poética do comum” veio investigar a forma como o autor constrói seus personagens – sujeitos pedestres, ordinários.

 

Na terceira pesquisa, Ana Maria Clark se aprofundou na relação do artista com a cultura francesa. A seguinte buscou estabelecer o diálogo de Chico com o pai, o historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Holanda. “Investiguei como a produção intelectual do pai reverbera na obra do filho”, explica.

 

 

A quinta, “O Brasil de Chico Buarque – Das canções inaugurais à ficção contemporânea”, tem por objetivo detectar as figurações do povo brasileiro na obra do artista. É esse material que vai balizar a participação da professora no Letra em Cena.

 

“Desde que comecei a estudar Chico Buarque, sou tomada pela sensação de que sempre há mais o que estudar, o que pesquisar, tendo em vista a vastidão e a qualidade de sua obra”, destaca.

 

A atual pesquisa se situa no ponto para onde convergem o compositor, o dramaturgo e o romancista, sob o enfoque de que Chico Buarque sempre se ocupou da realidade brasileira, independentemente da forma de expressão.


“Nos anos 1970, quando compôs mais de 100 canções, muitas delas feitas para peças de teatro e que depois ganharam vida própria, ele estava muito focado no cenário de ditadura militar. Chico nunca deixou de tratar do Brasil, das questões do país”, ressalta.

 


Clark observa que o novo livro do carioca, “Bambino a Roma”, lançado este ano, mistura elementos de ficção com suas memórias de criança, quando morou com a família na Itália. De resto, observa, é mesmo o Brasil que está sempre presente em sua produção.

 


No que diz respeito estritamente às canções, a pesquisadora observa que o samba é o gênero que sempre deu a tônica à discografia do compositor.

 

 

“O próprio Chico determinou que o marco zero de sua carreira é a música 'Tem mais samba', de 1964, e a última canção que ele compôs se chama 'Que tal um samba?', de 2022. Isso é sintomático da importância que ele dá ao samba. Quando Chico lançou o primeiro romance, 'Estorvo', houve quem criticasse, dizendo que ele não era escritor, mas um sambista que escrevia, ao que ele retrucou que era um sambista e escrevia”, recorda.

 

 

A apresentação de Celso Adolfo será intercalada com a fala da professora, de forma a “ilustrar” a palestra com músicas. “Vou traçar um percurso da obra do Chico desde os anos 1960, quando ele começou a compor e gravar, e desenvolver até os dias atuais. Se comento uma fase, um álbum ou uma música, o Celso toca”, diz ela.

 

Caberá ao ator Odilon Esteves “ler o trecho ao final de tudo”, diz ela, referindo-se a “Leite derramado”, “depois de termos percorrido os 60 anos de trajetória de Chico Buarque”, adianta.

 

Obra buarqueana

 

Chico Buarque gravou o primeiro compacto em 1965, aos 21 anos, com apenas duas canções – “Pedro pedreiro” e “Sonho de carnaval”, faixas incluídas em seu álbum de estreia, em 1966. Nesse mesmo ano, ele venceu o Festival de Música Popular Brasileira, com “A banda”, interpretada por Nara Leão, e “estourou” no Brasil.

 

É autor das peças “Roda viva” (1968), “Calabar” (1973, escrita em parceria com Ruy Guerra), “Gota d'água” 1975, com Paulo Pontes), “Ópera do malandro” (1979) e “O grande circo místico” (1982, parceria com Edu Lobo).

 

Lançou os romances “Estorvo” (1991), “Benjamim” (1995), “Budapeste” (2003), “Leite derramado” (2009), “O irmão alemão” (2014), “Essa gente” (2019) e “Bambino a Roma” (2024), além de “Anos de chumbo e outros contos” (2021), todos pela Companhia das Letras. Em 2019, Recebeu o Prêmio Camões, considerada a mais alta honraria concedida a autores de língua portuguesa.

 

LETRA EM CENA


Com a pesquisadora Ana Maria Clark Peres, o músico Celso Adolfo e o ator Odilon Esteves. Nesta terça-feira (12/11), às 19h, no Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). Entrada franca, com inscrições na plataforma Sympla.