Mart'nália convenceu Martinho da Vila a gravar pagode.

Mart'nália convenceu Martinho da Vila a gravar pagode. "Meu pai faz tudo que eu quero", diz ela

crédito: Nil Caniné/divulgação

 

 

Pagodeira, ela nunca vai ser. “Estou pagodeira”, ri Mart'nália. “Depois que uma música é feita, ela é de quem ouve, de quem canta. Eu não tenho pretensão de nada, foi uma brincadeira. Mas acho que ficou bem legal, né?”. Não dá para discordar. Com lançamento hoje (13/11), “Pagode da Mart'nália” (Sony Music) reúne 12 canções do repertório clássico do pagode anos 1990.

 

 

Ou seja, o pagode romântico, com muitos elementos da música pop. Movimento da música de massa de seu tempo (em um dos últimos suspiros comerciais da indústria fonográfica), que explodiu Brasil afora com Só pra Contrariar, Molejo, Katinguelê, Art Popular e Raça Negra. Todos eles estão devidamente representados no disco.

 

 

Não é a praia de Mart'nália, ela sabe disso muito bem. “Nunca me interessei, conhecia as músicas assim, um pouquinho. Não ouvia, acho que nem eles me ouviam também. Sou mais para Nana Caymmi do que para Xande de Pilares”, continua. Passado tanto tempo, um dia “deu match”.

 


“A Marcia Alvarez (empresária dela há 23 anos) sonhou que eu gravava um pagode. Quando falou para mim, eu disse: 'Pô, não sei, me convence'. O Dija (Djavan) sempre falou pra expandir, não ficar presa numa coisa só. Antes disso, só tinha gravado um pagode na vida ('Novo normal', de Serginho Meriti e Xande de Pilares), que era sobre pandemia”, afirma.

 

Corno muito corno não entra

 


Sem jamais fechar portas, ela foi atrás do repertório. “Fiz como o disco do Vinicius ('Mart'nália canta Vinicius de Moraes', de 2019). Peguei um montão de músicas e fui vendo o que casava comigo. Tem coisas que eu não gosto: uma tristeza triste, um corno muito corno, não sou chegada.”

 


Foram os arranjos (a cargo de Luiz Otávio) que a convenceram. A produção, dividida entre ele, Marcia Alvarez e Marcus Preto, marca a entrada de Mart'nália na Sony Music.

 

 


Já que ia gravar pagode, que fosse à maneira dela. “A gente quis trazer caras que não são desse universo. Cláudio Jorge (violões), Jamil Joanes (baixo), meus velhinhos, da minha geração. Foi também uma forma de ficar à vontade, pois foram esses caras que me impulsionaram para a música. Quis trazê-los para a gente ter o controle do som, um requinte.”

 

 

 


Martinho da Vila não poderia faltar. “Minha dificuldade era meu pai, porque gosto de gravar sempre com ele em todos os meus discos, prometi isso para mim mesma. Aí o (Paulo) Junqueira (presidente da Sony) falou: 'Teu pai não vai querer pagode'. Eu disse: 'Meu pai faz tudo o que eu quero, é o meu maior fã.' E eu faço tudo o que ele quer também.”

 


Martinho da Vila divide com Mart'nália “O teu chamego”, hit do Grupo Raça, aqui em rotação menor e com ênfase no violão de Claudio Jorge. “Ficou uma coisa de pai e filha, né? Mais um sentimento nosso do que uma música de amor, de casal.”

 

Caetano deu "o aval"

 


Caetano Veloso foi outro nome chamado para dar “o aval”, como diz Mart'nália. Ele gravou “Domingo”, do Só pra Contrariar, aberta com arranjo de cordas de Itamar Assière e Luiz Otávio.

 


A terceira convidada é um nome sem relação com o pagode e tampouco com Mart'nália. Luísa Sonsa divide com ela o primeiro single, “Cheia de manias”, do Raça Negra.

 

“Naquela época, mulher não cantava pagode. Os grupos eram todos de menininhos certinhos, a maioria do eixo São Paulo-Minas. A contribuição deles é enorme, porque aproximou uma rapaziada do samba. Eu queria alguém moderno, que chamasse a atenção do público, misturasse. A Luísa é uma brother que conheci numa festa na casa do Caetano. Acho a voz dela bem interessante, forte, já tem assinatura.”

 


Uma das dificuldades de Mart'nália foi a divisão rítmica. “Pagode é uma coisa meio rapidinha. Eu tinha que cantar do meu jeito, e a forma de dividir é diferente, não consigo. Tem ainda a forma de falar de amor mais diretamente, sem toda uma poesia de Vinicius, Paulinho da Viola, Chico Buarque”, acrescenta.


Circo em janeiro

 

Intencionalmente, ela não quis conversar com nomes do pagode da época. Com o disco pronto, os retornos começaram a chegar. Xande de Pilares e Péricles aprovaram, diz Mart'nália. A temporada de shows começa no início de 2025. Em 3 e 4 de janeiro, ela abre, pelo 14º ano, o verão do Circo Voador. Depois, quem sabe onde o pagode poderá levá-la?


“Rita Lee, Geraldo Azevedo, Lulu Santos, Marina Lima, Luiz Melodia... Sou da época em que tocava tudo. A nossa música é muito maravilhosa, isso tudo me influenciou. Quando o 'Dija' falou: 'Martina, não fica nessa de rótulo, você canta o que quiser e do teu jeito'. Aí fui ficando mais à vontade, achando o meu jeito. E alegre, sempre”, conclui Mart'nália. 

 

REPERTÓRIO



• Só pra Contrariar

“Que se chama amor” (José Fernando), “Essa tal liberdade” (Chico Roque/ Paulo Sergio Valle) e “Domingo” (Alexandre Pires/ Fernando Pires/ Vadinho/ Renato Barros)

 

• Grupo Raça

“Eu e ela” (Délcio Luiz/ Ronaldo Barcellos) e “O teu chamego” (Beto Correa/ Lucio Curvello/ Pagom)


• Raça Negra

“Cheia de manias” (Luiz Carlos)

 

• Molejo

“Clínica geral” (Anderson Leonardo/ Pedrinho da Flor)


• Grupo Revelação

“Coração radiante” (Xande de Pilares/ Mauro Junior/ Helinho do Salgueiro)


• Katinguelê

“Recado à minha amada” (Juninho do Banjo/ Fi/ Salgadinho)


• Exaltasamba

“Sem o teu calor” (Péricles/ Chrigor/ Isaias Marcelo)


• Soweto

“Derê” (Ademir Fogaça)


• Art Popular

“Sem abuso” (Leandro Lehart)

 

 

 

“PAGODE DA MART'NÁLIA”


• Álbum de Mart'nália

• Sony Music

• 12 faixas

• Lançamento nesta quarta (13/11), nas plataformas digitais