“Vem amar comigo”, a canção de abertura, é não só convite, mas o apelo de Pedro Luís para uma existência mais leve, alegre e próxima, como prega a letra do parceiro Lucky Luciano. O amor, não apenas o romântico, mas o sentimento pelo outro, pelo lugar que habitamos, está no cerne do quinto álbum autoral do cantor e compositor carioca.
Com lançamento nesta sexta-feira (15/11) pela Biscoito Fino, “E se tudo terminasse em amor?” reúne 10 canções, nove compostas para este trabalho, além da regravação de “Muito romântico” (Caetano Veloso). A ideia de fazer um disco sob este prisma, para apertar “os botões de acessibilidade das pessoas”, vem desde 2017, “quando o Brasil começou a desandar”, diz ele.
Antes de falar propriamente das canções, é preciso ressaltar a maneira com que Pedro Luís as interpreta. Está soltando a voz como nunca. Resultado, segundo ele, de alguns encontros.
“Já tive preparadores vocais muito diferentes, o Felipe Abreu é o mais recente e exigente. Criei com ele uma coisa particular, cantando como queria. Aí entra também o Ney Matogrosso. Toda vez que o chamo para gravar, sempre me impressiono. Quando ele canta uma música minha, vejo como falou tal palavra, o sorriso, a malícia, a raiva. É um professor de canto que está dando aula de graça, quem quiser que aproveite”, brinca.
E há também um encontro mais recente que causou impacto. Pouco depois da pandemia, Pedro fez alguns shows solo no Agulha, bar de música independente de Porto Alegre que fechou as portas após a enchente de maio. Certa noite, logo após a apresentação, o compositor Ian Ramil, com quem Pedro não tinha a menor intimidade, chegou e falou: “Por que você se apropria muito mais das canções dos outros para cantar do que das suas?”
Pedro Luís ficou mexido. “Foi um toque muito preciso, deu uma provocação para eu atuar mais nas canções”, diz. Algumas faixas do novo repertório explicitam essa intenção. No bolero “Abraço dos amantes” ele vai fundo na letra de Lucky Luciano: “Cada pedaço do que tive me faz falta/ Cada lembrança toda noite me assalta”.
“Queria uma música sem medo das emoções baratas, meio José Augusto, meio Fernando Mendes”, diz Pedro.
“Pressa” (parceria com Marco André) começa quase comportada, com a sanfona se destacando ao fundo. Pedro vai num crescendo até o refrão, quando sua interpretação explode acompanhada da guitarra de André Moraes. Este músico, compositor e produtor dividiu com ele a produção do álbum. Como Moraes vive atualmente na capital gaúcha, Pedro passou uma temporada em Porto Alegre gravando o álbum.
Novas cantoras
As canções de Pedro Luís já foram interpretadas por várias vozes femininas: Roberta Sá, Elba Ramalho, Adriana Calcanhotto, Fernanda Abreu e Maria Rita são algumas. Em “E se tudo terminasse em amor?” ele apresenta parcerias com novas cantoras e compositoras.
A brasiliense Letícia Fialho divide com ele a autoria de um dos achados do álbum, “Gole contra golpe”. “É a primeira canção que nasce com a cara do que o disco iria ter”, conta.
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A gaúcha Gisele Santi não só compôs, como também gravou com ele “Muito amor”, canção que ganha outras nuances graças ao trompete de Vini. Gisele é ainda coautora de “Choro punk”, em que Pedro Luís canta, de forma agridoce, o Rio de Janeiro: “Eu tenho fome de te ver brilhar/ Eu tenho apreço e te quero bem/ E tenho ganas de ir pra voltar/ Mas pra valer/ Você tem que melhorar.”
Os saudosos da Plap – a banda carioca Pedro Luís e A Parede criada na década de 1990 – vão reconhecer os tempos passados na bem sacada “Carinho na rede” (parceria com Ana Carol). Na faixa mais pesada do álbum, ele divide os vocais com Chico César na bem-humorada letra que trata dos sabores (e tantos dissabores) nas redes sociais.
Em shows solo, Pedro Luís vinha apresentando “Muito romântico” com levada reggae. “Encontrei com o Xande (de Pilares), que tinha acabado de lançá-la (em “Xande canta Caetano”, de 2023). Como iria fazer? Aí fiz totalmente diferente. Além do mais, quem primeiro falou a palavra reggae no Brasil foi o Caetano (em “Nine out of ten”, de 1972). Apesar do título que fala em romance, é uma letra muito dedo na cara, que completa as formas de falar de amor do álbum”, explica.
Monobloco
Pedro Luís e André Moraes gravaram boa parte dos violões, guitarras e baixos do disco. Foram convidados músicos para cada grupo de canções. Agora, já planejando levar o álbum para a estrada, ele está desenhando a banda que deseja para a turnê. Que ficará para 2025, ainda mais porque o Monobloco entra no modo carnaval.
“Hoje, somos sete cantores (no Monobloco). Isso me dá mobilidade (na agenda). Acho que vai chegar um dia em que eu talvez seja uma visita (no grupo), porque a vida vai andando e os jovens vão chegando”, diz Pedro, que está com 64 anos. “Além disso, acredito que este novo disco vai me levar para a estrada de uma maneira que eu talvez nunca tenha ido”, finaliza.
“E SE TUDO TERMINASSE EM AMOR?”
. Álbum de Pedro Luís
. Biscoito Fino
. 10 faixas
. Lançamento nesta sexta-feira (15/11), nas plataformas digitais